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Fundo soberano virá de excesso de arrecadação
Mantega descarta compromisso oficial com economia maior de gastos públicos
Ministro não consegue esclarecer funcionamento do fundo, que financiará empresas do país no exterior e atuará no câmbio
Lula Marques/Folha Imagem
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O ministro Mantega anuncia o fundo soberano, em Brasília
SHEILA D'AMORIM
JULIANA ROCHA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo vai usar o excesso
de arrecadação decorrente do
maior crescimento da economia para garantir recursos para
operações externas do BNDES
e financiar projetos de empresas fora do país.
O dinheiro que excederá a
meta de superávit primário
(economia do governo para pagar juros da dívida pública) fixada em 3,8% da produção nacional (PIB) será a principal
fonte de recursos do novo fundo soberano, a ser criado pelo
governo até o final desta semana, segundo o ministro Guido
Mantega (Fazenda).
"É como um cofrinho. Você
não tem cofrinho na sua casa?
Você ganha o salário, faz as despesas e sobram recursos. Aí você coloca no cofrinho. Vamos
colocar no cofrinho o excedente", afirmou Mantega. Segundo
ele, no entanto, o governo não
irá se comprometer oficialmente com uma economia fiscal maior, o que gerou críticas à
proposta.
"O mercado queria ver um
anúncio oficial de aumento do
superávit primário e redução
mais rápida da dívida", disse a
economista Zeina Latif, do
Banco Real. As discussões sobre o aumento do esforço fiscal
foram antecipadas pela Folha
na semana passada.
A meta de superávit primário
permanecerá inalterada, mas,
na prática, a economia será
maior, e o excedente irá para o
novo fundo, com o benefício
também de reduzir a dívida líquida do setor público, já que
será contabilizado como uma
poupança (ativo) do Brasil lá
fora. "Vamos criar uma poupança fiscal. O que dá quase na
mesma", disse Mantega.
Embora não tenha falado em
números ontem, Mantega afirmou na semana passada que o
fundo teria até US$ 20 bilhões.
Além desse dinheiro que sairá do Orçamento, o fundo também contará com dólares que o
Tesouro Nacional, gestor do
fundo, comprará no mercado
de câmbio. Assim, deverá se
endividar, emitindo títulos para obter os reais que usará na
compra da moeda estrangeira.
Apesar do lançamento oficial, ontem, pontos importantes permanecem indefinidos
como o volume de recursos, se
ele será instituído por MP (medida provisória) ou projeto de
lei e que tipo de investimento
poderá ser feito com esse dinheiro.
Segundo a Folha apurou, os
recursos de origem orçamentária classificados como Fundo
Fiscal de Investimentos e Estabilização (FFIE) deverão viabilizar o funcionamento inicial
do fundo soberano brasileiro.
De acordo com Mantega, as
aplicações realizadas pelo fundo irão variar de acordo com a
origem dos recursos.
A idéia é que esse dinheiro
orçamentário seja direcionado
para aplicações que possam ser
revertidas rapidamente porque
terá uma função de poupança
pública. Isso incluiria debêntures do próprio BNDES ou de
outras empresas e ações de empresas. "Esse fundo praticamente equivale a reservas, mas
são reservas primárias", afirmou Mantega.
O ministro destacou que, no
caso de ações, o governo deverá
restringir as compras a papéis
de empresas públicas brasileiras lançadas lá fora. O objetivo,
segundo explicações de técnicos do governo, seria dar garantia ao governo de que o dinheiro será aplicado lá fora e
não retornará ao Brasil.
Essa é uma preocupação dos
técnicos nas discussões internas e fonte de críticas de especialistas. Isso porque, se os recursos retornarem ao país, o
efeito esperado de reduzir a
pressão no mercado de câmbio
e diminuir a quantidade de
reais em circulação, o que ajuda a controlar a inflação, será
nulo.
No caso dos recursos oriundos das intervenções do Tesouro no mercado de câmbio, a
idéia é investi-los unicamente
em ativos financeiros, que incluem ainda CDBs (Certificados de Depósitos Bancários) e
cotas em fundos de investimento.
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