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Inflação da baixa renda cresce e freia redução da pobreza no país
De janeiro a abril, taxa para quem recebe até 2,5 mínimos supera índice geral
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Puxada pela forte alta dos alimentos, a inflação sobe neste
ano com mais intensidade para
as famílias de baixa renda. O fenômeno colocou um freio na
tendência de redução da pobreza registrada nos últimos anos
no país, segundo especialistas.
Divulgado ontem pela FGV
(Fundação Getulio Vargas), o
IPC-C1 (Índice de Preços ao
Consumidor - Classe 1), que
apura a inflação para a renda de
1 a 2,5 salários mínimos, saltou
de 0,66% em março para 0,97%
em abril. No acumulado do ano,
ficou em 3,19% -acima dos
2,26% de janeiro a abril de
2007. Em 12 meses, a alta chegou a 6,84%, a maior da série do
indicador, iniciada em 2005.
O índice geral, pesquisado
entre famílias de renda de até
33 salários mínimos, subiu menos -0,72% em abril e 2,16%
no acumulado do ano.
A pressão dos alimentos, que
subiram 6,27% em 2008, aponta para o recrudescimento da
pobreza. "Certamente, a alta
dos alimentos coloca um freio
na redução do número de pobres e indigentes", diz Lena Lavinas, economista da UFRJ.
Quanto mais pobres as famílias, diz, mais elas gastam proporcionalmente com alimentos -segundo a FGV, o peso do grupo alimentação é de 40% no
IPC-C1, maior do que os 30%
do índice geral da instituição.
Essa elevação, diz Lavinas,
afeta tanto a diversificação como a qualidade e as quantidades dos alimentos comprados.
Trata-se, afirma, de um movimento às avessas do registrado no Plano Real, quando as famílias ampliaram o número de produtos alimentares.
Para o economista Marcelo
Neri, da FGV, o comportamento dos preços dos alimentos
"tem um papel importantíssimo" na evolução da pobreza. A
situação, diz, apenas é amenizada por causa do aumento do
emprego e do salário mínimo.
De 2004 a 2006, a situação
era inversa: os alimentos subiram abaixo da média e contribuíram para a redução da pobreza. Segundo o Centro de Políticas Sociais da FGV, o total de
pessoas abaixo da linha da pobreza caiu continuamente de
2003, quando bateu no pico recente (28,17%), a 2006
(19,31%). Não existem ainda
dados para 2007, pois os cálculos são feitos a partir da Pnad
(Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), a ser divulgada em setembro.
Tanto Neri como Lavinas dizem que todos os indícios sinalizam estagnação no processo
de redução da pobreza. O economista da FGV ressalta que a
alta dos alimentos terá ainda
maior impacto na queda da desigualdade -que melhora progressivamente desde 2001.
Escalada
Segundo o economista André
Braz, da FGV, a pressão dos alimentos se concentra, neste
ano, em produtos essenciais e
de difícil substituição. "O consumidor não consegue driblar
essas altas." Destacam-se os
aumentos do pão francês
(8,45%), óleo de soja (32,31%),
leite (8,01%) e ovos (8,45%).
A escalada dos preços, diz,
deve se manter, ao menos, neste mês -os dados da FGV já
apontam fortes altas do pão,
carne, arroz, leite e macarrão.
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