|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
QUEDA-DE-BRAÇO
Ministro diz que proposta não resolve problema das empresas
Para Wagner, cortar direito do trabalhador é inaceitável
CLAUDIA ROLLI
MARCOS CÉZARI
DA REPORTAGEM LOCAL
O ministro do Trabalho, Jaques
Wagner, considerou "inaceitável"
e "equivocada" a proposta do
Grupo 9 da Fiesp (Federação das
Indústrias do Estado de São Paulo), que ameaça iniciar uma onda
de demissões se o governo não reduzir a taxa de juros e se os trabalhadores não aceitarem o fim de
direitos trabalhistas.
"Os empresários precisam entender que a solução dos seus problemas financeiros não passa pela
retirada dos direitos dos trabalhadores", afirmou o ministro, por
meio de sua assessoria.
Segundo Wagner, outros países,
como a Argentina, tentaram a fórmula de flexibilização de direitos
trabalhistas para baratear o custo
da mão-de-obra, mas não conseguiram evitar as demissões nas
empresas nem resolver os problemas do mercado de trabalho.
Para o ministro, os empresários
deveriam "aproveitar o canal
aberto com o governo para ampliar o diálogo e encontrar saídas
conjuntas para enfrentar os problemas, os quais o governo está
empenhado em resolver".
Segundo ele, o governo Lula estuda medidas, como a ampliação
do crédito com juros subsidiados
pelo BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e
Social), para empresas geradoras
de mão-de-obra.
Apelação
O presidente do Tribunal Superior do Trabalho, ministro Francisco Fausto, classificou de "inaceitável" a proposta de empresários do setor metalúrgico de reduzir ou cortar direitos trabalhistas
de seus funcionários para evitar
demissões.
"Os empresários estão apelando
para isso por não suportarem a
carga tributária e os juros exorbitantes", afirmou Fausto em nota
divulgada pela assessoria de imprensa do TST.
"O problema dos juros altos,
que nem o vice-presidente [José
Alencar] consegue resolver, não
pode recair sobre o lado mais fraco, ou seja, os trabalhadores", disse o ministro.
Ontem, a Folha informou que
um grupo da Fiesp ameaça com
demissões caso os trabalhadores
não aceitem o fim de direitos trabalhistas, como o pagamento do
descanso semanal remunerado
(domingos e feriados).
Sugerem ainda a redução do
adicional noturno de 35% para
20%, a revisão dos acordos para
repor a inflação e o parcelamento
do pagamento das férias.
Para o presidente do TST, os
empresários, preocupados em reduzir seus custos, deveriam reivindicar do governo a diminuição
das taxas de juros e mudanças no
sistema tributário, em vez de pensar na possibilidade de cortar direitos trabalhistas.
Salário pode ser cortado
A Constituição Federal permite
que o salário dos trabalhadores
seja reduzido pelo não-pagamento do descanso semanal remunerado ou da suspensão do contrato
de trabalho.
Segundo o advogado Octavio
Bueno Magano, professor de direito do trabalho da Universidade
de São Paulo, o artigo 7º, inciso
VI, da Constituição, permite a redução desde que prevista em convenção ou acordo coletivo.
"É melhor ocorrer isso [a redução salarial] do que a demissão do
trabalhador. Se não fizer isso, pode ser que uma empresa não tenha outra alternativa a não ser demitir", diz Magano.
O descanso semanal remunerado está previsto na legislação trabalhista brasileira há 54 anos,
criado por meio da lei nº 605, de
1949. Ele é pago aos trabalhadores
horistas.
A possibilidade de suspensão
do contrato de trabalho está prevista na medida provisória nº
1.779, segundo o advogado João
José Sady, especialista em legislação do trabalho.
O prazo de suspensão é de dois a
cinco meses, para que o empregado participe de curso ou programa de qualificação profissional
oferecido pela empresa durante
esse mesmo período. Nesse caso
também é preciso que haja acordo entre a empresa e o sindicato
da categoria.
Colaborou a Sucursal de Brasília
Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Proposta não é séria, afirma líder da CUT Índice
|