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São Paulo, sábado, 14 de junho de 2003

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PROBLEMAS À VISTA

Vice-diretora-gerente do Fundo faz elogios ao Brasil, mas alerta para a possibilidade de novas crises

Emergente deve se preparar para medidas duras, diz FMI

GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em pronunciamento repleto de elogios à política econômica brasileira, a vice-diretora-gerente do FMI (Fundo Monetário Internacional), Anne Krueger, disse, porém, que as economias emergentes em geral devem estar preparadas para adotar mais "medidas duras" em caso de crises.
"Os governos, assim como as instituições internacionais, precisam estar constantemente preparadas para se adaptar a mudanças nas circunstâncias", segundo Krueger. "Medidas duras de correção serão ainda necessárias quando acontecerem crises", disse, em discurso proferido anteontem em Washington e divulgado pelo site do FMI (www.imf.org).
As preocupações do Fundo coincidem com as manifestadas pelo Banco Mundial em um estudo voltado especificamente para a situação brasileira.
Conforme a Folha noticiou na segunda-feira, o organismo avalia que o país terá de adotar um superávit primário (a economia de receitas destinada a pagar os juros da dívida) superior ao atual, de 4,25% do Produto Interno Bruto, em caso de mais turbulências financeiras.
Para as duas instituições de Washington, o cenário internacional torna muito palpáveis as perspectivas de novas crises.
"A integração [da economia global] está permitindo maiores padrões de bem-estar e redução da pobreza, mas, ao passo que a estrutura da economia internacional muda, é provável que haverá novas e imprevistas fontes de crise", afirmou Krueger.
A vice-diretora-gerente do FMI recomenda, para estes casos, não só as tradicionais medidas macroeconômicas (leia-se aumento do superávit primário), mas também reformas voltadas para a solidez do sistema financeiro -e, como exemplo, cita novas leis para as falências, exatamente o que o governo brasileiro está tentando neste momento.
O Brasil foi, de longe, o país mais elogiado por Krueger, que listou a melhora em indicadores como o câmbio e o risco-país como evidência de que o programa conduzido em parceria com o Fundo foi eficiente para evitar uma crise maior.
"Esse programa tem sido conduzido -na verdade, fortalecido com um superávit primário maior- desde que assumiu a nova administração", apontou, referindo-se ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Ela atribuiu os problemas enfrentados a partir do ano passado às incertezas do mercado em relação à continuidade da política econômica, uma tese sempre refutada por Lula e seus aliados.
"As políticas transparentes do Banco Central, a condução macroeconômica [incluindo metas de inflação e um regime de câmbio flutuante] e o apoio do Fundo foram elementos vitais para a virada", concluiu.

Defesa do FMI
A menção ao alegado sucesso do programa desenvolvido com o Brasil não foi fortuita. Uma das preocupações do discurso de Krueger foi defender as receitas do FMI e refutar acusações segundo as quais o organismo exige sacrifícios exagerados dos países.
Primeiro, disse, "o FMI não faz exigências". Ou seja, os programas são negociados entre o Fundo e os países. "Não é nem nunca foi interesse de ninguém fazer exigências além do razoável."
Em segundo lugar, Krueger argumentou que, "por definição", países que procuram o FMI já estão em dificuldades. "Nessa situação, é claro, medidas mais duras tendem a ser necessárias, e o FMI pode às vezes levar a culpa por sua adoção".


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