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PROBLEMAS À VISTA
Vice-diretora-gerente do Fundo faz elogios ao Brasil, mas alerta para a possibilidade de novas crises
Emergente deve se preparar para medidas duras, diz FMI
GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em pronunciamento repleto de
elogios à política econômica brasileira, a vice-diretora-gerente do
FMI (Fundo Monetário Internacional), Anne Krueger, disse, porém, que as economias emergentes em geral devem estar preparadas para adotar mais "medidas
duras" em caso de crises.
"Os governos, assim como as
instituições internacionais, precisam estar constantemente preparadas para se adaptar a mudanças
nas circunstâncias", segundo
Krueger. "Medidas duras de correção serão ainda necessárias
quando acontecerem crises", disse, em discurso proferido anteontem em Washington e divulgado
pelo site do FMI (www.imf.org).
As preocupações do Fundo
coincidem com as manifestadas
pelo Banco Mundial em um estudo voltado especificamente para a
situação brasileira.
Conforme a Folha noticiou na
segunda-feira, o organismo avalia
que o país terá de adotar um superávit primário (a economia de receitas destinada a pagar os juros
da dívida) superior ao atual, de
4,25% do Produto Interno Bruto,
em caso de mais turbulências financeiras.
Para as duas instituições de
Washington, o cenário internacional torna muito palpáveis as
perspectivas de novas crises.
"A integração [da economia
global] está permitindo maiores
padrões de bem-estar e redução
da pobreza, mas, ao passo que a
estrutura da economia internacional muda, é provável que haverá novas e imprevistas fontes de
crise", afirmou Krueger.
A vice-diretora-gerente do FMI
recomenda, para estes casos, não
só as tradicionais medidas macroeconômicas (leia-se aumento
do superávit primário), mas também reformas voltadas para a solidez do sistema financeiro -e,
como exemplo, cita novas leis para as falências, exatamente o que o
governo brasileiro está tentando
neste momento.
O Brasil foi, de longe, o país
mais elogiado por Krueger, que
listou a melhora em indicadores
como o câmbio e o risco-país como evidência de que o programa
conduzido em parceria com o
Fundo foi eficiente para evitar
uma crise maior.
"Esse programa tem sido conduzido -na verdade, fortalecido
com um superávit primário
maior- desde que assumiu a nova administração", apontou, referindo-se ao presidente Luiz Inácio
Lula da Silva.
Ela atribuiu os problemas enfrentados a partir do ano passado
às incertezas do mercado em relação à continuidade da política
econômica, uma tese sempre refutada por Lula e seus aliados.
"As políticas transparentes do
Banco Central, a condução macroeconômica [incluindo metas
de inflação e um regime de câmbio flutuante] e o apoio do Fundo
foram elementos vitais para a virada", concluiu.
Defesa do FMI
A menção ao alegado sucesso
do programa desenvolvido com o
Brasil não foi fortuita. Uma das
preocupações do discurso de
Krueger foi defender as receitas
do FMI e refutar acusações segundo as quais o organismo exige sacrifícios exagerados dos países.
Primeiro, disse, "o FMI não faz
exigências". Ou seja, os programas são negociados entre o Fundo e os países. "Não é nem nunca
foi interesse de ninguém fazer exigências além do razoável."
Em segundo lugar, Krueger argumentou que, "por definição",
países que procuram o FMI já estão em dificuldades. "Nessa situação, é claro, medidas mais duras
tendem a ser necessárias, e o FMI
pode às vezes levar a culpa por sua
adoção".
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