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VIZINHO EM CRISE
Renda menor faz consumidor preferir produto mais barato; variedade de itens cai 50% nos supermercados
Argentinos substituem marcas líderes
ELAINE COTTA
DE BUENOS AIRES
A crise econômica vivida nos últimos anos pela Argentina ainda
afeta o dia-a-dia da população,
apesar dos sinais de recuperação
da economia registrados desde o
final do ano passado. O aumento
dos preços provocado pela depreciação do peso, em janeiro de
2002, reduziu o poder de compra
e alterou o comportamento dos
consumidores.
Pesquisa realizada pela EAN
(Associação Argentina de Codificação de Produtos) em parceria
com a Câmara Argentina de Supermercados entre os meses de
fevereiro e março mostra que o
consumidor passou a substituir
produtos de marcas consideradas
líderes por outros mais baratos.
Esse movimento reduziu, nos
últimos dois anos, em 50% a variedade de produtos disponíveis
nas prateleiras dos supermercados. O levantamento acompanhou o fluxo de venda de 730 produtos diferentes em 519 supermercados espalhados pelas Províncias de Buenos Aires, Córdoba, Mendoza e Neuquém.
"As pessoas que há alguns anos
procuravam marcas líderes, mais
caras, hoje buscam produtos mais
baratos. Houve uma mudança no
comportamento dos consumidores e, apesar da recuperação econômica, o retorno a esses produtos ainda deve demorar", afirma
Henrique Betali, diretor da EAN.
Segundo ele, a falta de demanda
foi o maior responsável pela retirada de determinados produtos
das gôndolas. "Quando as marcas
encalhavam, os supermercados
deixavam de comprar."
A queda no poder de compra
dos argentinos determina esse
comportamento. A inflação de
25,9% no IPC (Índice de Preços ao
Consumidor), calculada pelo Indec -órgão do governo- no
ano passado corroeu os salários.
Pesquisa divulgada no final de
maio pela consultoria ACNielsen
mostra que, nos primeiros meses
deste ano, a classe média argentina gastou 50% de seu salário com
a cesta básica.
Há um ano, a cesta de produtos
básicos consumia 34% dos salários. O preço da cesta calculada
pela consultoria subiu de 272 pesos em 2002 para 403 pesos em
2003, um aumento de 48%.
A crise também atingiu a "alma
do consumo" dos argentinos, que
é a carne. Levantamento do Indec
mostra que houve aumento de
86,3% no preço desde a desvalorização do peso, fazendo com que o
argentino cortasse a carne do cardápio diário.
Até maio, a queda foi 16,4%.
Neste ano, a média de consumo
de carne por habitante caiu para
51 quilos, 10 quilos menos que em
2002. A Argentina é um dos maiores consumidores mundiais de
carne. Para ter uma idéia, a média
mundial é de 9,7 quilos por pessoa. Nos Estados Unidos, o consumo é de 40 quilos por habitante
e, na Europa, de 20 quilos.
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