UOL


São Paulo, sábado, 14 de junho de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

VIZINHO EM CRISE

Renda menor faz consumidor preferir produto mais barato; variedade de itens cai 50% nos supermercados

Argentinos substituem marcas líderes

ELAINE COTTA
DE BUENOS AIRES

A crise econômica vivida nos últimos anos pela Argentina ainda afeta o dia-a-dia da população, apesar dos sinais de recuperação da economia registrados desde o final do ano passado. O aumento dos preços provocado pela depreciação do peso, em janeiro de 2002, reduziu o poder de compra e alterou o comportamento dos consumidores.
Pesquisa realizada pela EAN (Associação Argentina de Codificação de Produtos) em parceria com a Câmara Argentina de Supermercados entre os meses de fevereiro e março mostra que o consumidor passou a substituir produtos de marcas consideradas líderes por outros mais baratos.
Esse movimento reduziu, nos últimos dois anos, em 50% a variedade de produtos disponíveis nas prateleiras dos supermercados. O levantamento acompanhou o fluxo de venda de 730 produtos diferentes em 519 supermercados espalhados pelas Províncias de Buenos Aires, Córdoba, Mendoza e Neuquém.
"As pessoas que há alguns anos procuravam marcas líderes, mais caras, hoje buscam produtos mais baratos. Houve uma mudança no comportamento dos consumidores e, apesar da recuperação econômica, o retorno a esses produtos ainda deve demorar", afirma Henrique Betali, diretor da EAN.
Segundo ele, a falta de demanda foi o maior responsável pela retirada de determinados produtos das gôndolas. "Quando as marcas encalhavam, os supermercados deixavam de comprar."
A queda no poder de compra dos argentinos determina esse comportamento. A inflação de 25,9% no IPC (Índice de Preços ao Consumidor), calculada pelo Indec -órgão do governo- no ano passado corroeu os salários.
Pesquisa divulgada no final de maio pela consultoria ACNielsen mostra que, nos primeiros meses deste ano, a classe média argentina gastou 50% de seu salário com a cesta básica.
Há um ano, a cesta de produtos básicos consumia 34% dos salários. O preço da cesta calculada pela consultoria subiu de 272 pesos em 2002 para 403 pesos em 2003, um aumento de 48%.
A crise também atingiu a "alma do consumo" dos argentinos, que é a carne. Levantamento do Indec mostra que houve aumento de 86,3% no preço desde a desvalorização do peso, fazendo com que o argentino cortasse a carne do cardápio diário.
Até maio, a queda foi 16,4%. Neste ano, a média de consumo de carne por habitante caiu para 51 quilos, 10 quilos menos que em 2002. A Argentina é um dos maiores consumidores mundiais de carne. Para ter uma idéia, a média mundial é de 9,7 quilos por pessoa. Nos Estados Unidos, o consumo é de 40 quilos por habitante e, na Europa, de 20 quilos.


Texto Anterior: O vaivém das commodities
Próximo Texto: Frase
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.