São Paulo, quarta-feira, 14 de junho de 2006

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Argentina pagará mais pelo gás da Bolívia

Reajuste pedido é de US$ 2, mas argentinos aceitam desembolsar apenas mais US$ 1,50; decisão deverá sair no fim do mês

Petrobras diz que aumento nada muda na negociação com o Brasil, pois ainda não houve um pedido oficial da estatal petrolífera da Bolívia


PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

FLÁVIA MARREIRO
DE BUENOS AIRES

Enquanto tenta renegociar o preço do gás com a Petrobras, o governo da Bolívia já comemora uma vitória: fechou um acordo para aumentar o preço do insumo vendido à Argentina.
Anteontem, estiveram reunidos em La Paz membros do governo boliviano e o ministro do Planejamento argentino, Julio De Vido, homem forte do governo do presidente Néstor Kirchner.
O governo da Bolívia pediu reajuste de US$ 2 -dos atuais US$ 3,40 por milhão de BTU para US$ 5,40. A Argentina ofereceu, de sua parte, um reajuste de, no máximo, US$ 1,50. O impasse será resolvido no final deste mês em nova rodada de negociação.
Apesar de não conclusivo, a Bolívia comemorou o acordo preliminar: "Durante as negociações, chegamos a esse acerto quase final que é satisfatório para os interesses do nosso país. Falta só afinar alguns detalhes que serão favoráveis para ambos os países", disse o vice-presidente da Bolívia, Álvaro García Linera.
Anteontem, Linera, o ministro de Hidrocarbonetos, Andrés Soliz Rada, e o presidente da YPFB, Jorge Alvarado, se reuniram por mais de seis horas com a delegação argentina liderada por De Vido. Ficou acertado que o acordo final será fechado no dia 29, quando o presidente da Bolívia, Evo Morales, irá a Buenos Aires para se reunir com Néstor Kirchner.
Morales afirmou, no domingo passado, que o objetivo da Bolívia é elevar o preço em US$ 2 por milhão de BTU e que não está disposto a aceitar outro valor para o produto.
À Folha, o diretor de Gás e Energia da Petrobras, Ildo Sauer, disse que o aumento do preço do gás vendido à Argentina nada muda na negociação com o Brasil, que, segundo ele, ainda não foi formalizada, pois não houve um pedido oficial da YPFB (a estatal petrolífera da Bolívia).
"O que a Argentina importa é muito menos do que o Brasil. São só de 5 milhões a 7 milhões de metros cúbicos por dia. É um volume pequeno", afirmou o executivo, defendendo uma condição diferenciada para o Brasil.
No pico, o Brasil importa 30 milhões de metros cúbicos por dia de gás da Bolívia -a média é de 26 milhões de metros diários. Paga US$ 3,43 por milhão de BTU, até o volume de 16 milhões de metros cúbicos por dia. Acima disso, o valor sobe para US$ 4,21. A esses valores são acrescidos US$ 1,70.

Sem pedido
Diferentemente do que foi noticiado na Bolívia, a Petrobras não recebeu até agora nenhum pleito formal para renegociar o preço do gás nos termos previstos no contrato de fornecimento firmado com o país vizinho, de acordo com o diretor.
Pelas regras do contrato, as partes têm 45 dias para analisar o pedido de reajuste. Se for rejeitado, a discussão vai para a Justiça de Nova York.
A julgar pelo comportamento dos preços do óleo combustível (referência do contrato), Sauer disse acreditar que o preço do gás sofrerá reajuste em 1º de julho, quando está previsto o aumento trimestral estabelecido no acordo. Desde 1999, quando o gás custava US$ 1 por milhão de BTU, o preço já subiu 343%.
Para Sauer, o preço do gás "está em um ponto de equilíbrio" e não há mais espaço para novos reajustes. Se subir, o gás perderá mercado, avalia, já que o produto está no limite da competitividade para muitos setores.


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