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LUÍS NASSIF
Cooperação e inovação
A história econômica do
Brasil nos dois últimos séculos obedeceu a ciclos duais. À
centralização econômico-política aguda seguia-se um ciclo
de liberalização radical, que desaguava em um novo ciclo centralizador.
Nos dois momentos, a política
econômica era apropriada por
interesses privados. No sistema
fechado, por meio da reserva de
mercado. No sistema liberalizado, por meio da reserva da
moeda. A política econômica ficava atrelada a grupos com
acesso a capitais externos, que
captavam a taxas externas baixas para aplicar em taxas internas elevadas ou ativos baratos.
Em ambos os casos, produziram-se concentração de renda,
falta de solidariedade, falta de
compromisso com o país e entraves ao crescimento.
Os anos 80 representaram a
última etapa do modelo centralizador fechado. Os anos 90, o
último suspiro da liberalização
financeira. O país cresceu, amadureceu, sofisticou-se, e a próxima etapa não comportará mais
simplificações.
A partir do final dos anos 80,
surge um novo personagem
-a opinião pública-, como
agente principal da política, simultaneamente a dois movimentos convergentes.
O movimento político foi o
corte fundamental representado pela Constituição de 1988,
que consagra um novo federalismo e a prevalência dos direitos sociais. Em vez do comando
verticalizado, o país começa a
ensaiar o concerto de vontades.
Democratiza-se.
Nos anos 90, com o poder de
atropelar as leis, os cabeças de
planilha produziram pobreza e
uma dívida pública impagável.
Com a vinculação orçamentária incluída na Constituição, os
políticos produziram os melhores indicadores brasileiros da
década, na educação e na saúde básica.
O movimento econômico se
deu em duas frentes. A primeira foram as grandes empresas,
que montaram programas de
qualidade e se deram conta de
que, para serem competitivas,
também seus fornecedores teriam que ter qualidade. Não
apenas eles, mas seus trabalhadores. E não apenas a cadeia
produtiva, mas os serviços públicos.
Trocaram-se o modelo varguista, do conflito nas relações
produtivas, e a visão financista,
do individualismo feroz, por
princípios de cooperação e
competição -cooperação como fator de aumento de competitividade, transferindo a
competição para o campo adequado, da disputa com outras
empresas e outros países.
A segunda frente foi de caráter socioeconômico. O novo
municipalismo e os novos conceitos de arranjos produtivos
locais e parques tecnológicos
lançaram as bases de uma industrialização difusa, de pequenas empresas espalhadas por
todo o país. Ao mesmo tempo,
consolidou-se um novo modo
de organização, com articulação de vontades de ONGs, empresas privadas, governos e
agentes locais, em ações objetivas em torno de princípios de
cidadania, responsabilidade
social e voluntariado.
Há muito a fazer, mas sobre o
muito que foi feito.
Hoje é vitoriosa a idéia de que
o crescimento sustentado só será alcançado com competitividade sistêmica, com inclusão
social e industrial e trabalho colaborativo.
Há um papel especial reservado para as grandes corporações.
Mas aí é tema para outra coluna.
E-mail - Luisnassif@uol.com.br
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