São Paulo, quarta-feira, 14 de julho de 2004

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LUÍS NASSIF

Cooperação e inovação

A história econômica do Brasil nos dois últimos séculos obedeceu a ciclos duais. À centralização econômico-política aguda seguia-se um ciclo de liberalização radical, que desaguava em um novo ciclo centralizador.
Nos dois momentos, a política econômica era apropriada por interesses privados. No sistema fechado, por meio da reserva de mercado. No sistema liberalizado, por meio da reserva da moeda. A política econômica ficava atrelada a grupos com acesso a capitais externos, que captavam a taxas externas baixas para aplicar em taxas internas elevadas ou ativos baratos.
Em ambos os casos, produziram-se concentração de renda, falta de solidariedade, falta de compromisso com o país e entraves ao crescimento.
Os anos 80 representaram a última etapa do modelo centralizador fechado. Os anos 90, o último suspiro da liberalização financeira. O país cresceu, amadureceu, sofisticou-se, e a próxima etapa não comportará mais simplificações.
A partir do final dos anos 80, surge um novo personagem -a opinião pública-, como agente principal da política, simultaneamente a dois movimentos convergentes.
O movimento político foi o corte fundamental representado pela Constituição de 1988, que consagra um novo federalismo e a prevalência dos direitos sociais. Em vez do comando verticalizado, o país começa a ensaiar o concerto de vontades. Democratiza-se.
Nos anos 90, com o poder de atropelar as leis, os cabeças de planilha produziram pobreza e uma dívida pública impagável. Com a vinculação orçamentária incluída na Constituição, os políticos produziram os melhores indicadores brasileiros da década, na educação e na saúde básica.
O movimento econômico se deu em duas frentes. A primeira foram as grandes empresas, que montaram programas de qualidade e se deram conta de que, para serem competitivas, também seus fornecedores teriam que ter qualidade. Não apenas eles, mas seus trabalhadores. E não apenas a cadeia produtiva, mas os serviços públicos.
Trocaram-se o modelo varguista, do conflito nas relações produtivas, e a visão financista, do individualismo feroz, por princípios de cooperação e competição -cooperação como fator de aumento de competitividade, transferindo a competição para o campo adequado, da disputa com outras empresas e outros países.
A segunda frente foi de caráter socioeconômico. O novo municipalismo e os novos conceitos de arranjos produtivos locais e parques tecnológicos lançaram as bases de uma industrialização difusa, de pequenas empresas espalhadas por todo o país. Ao mesmo tempo, consolidou-se um novo modo de organização, com articulação de vontades de ONGs, empresas privadas, governos e agentes locais, em ações objetivas em torno de princípios de cidadania, responsabilidade social e voluntariado.
Há muito a fazer, mas sobre o muito que foi feito.
Hoje é vitoriosa a idéia de que o crescimento sustentado só será alcançado com competitividade sistêmica, com inclusão social e industrial e trabalho colaborativo.
Há um papel especial reservado para as grandes corporações. Mas aí é tema para outra coluna.

E-mail - Luisnassif@uol.com.br


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