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Freud e Darwin explicam decisão de investir
Pesquisadores investigam como recalques com origem em frustrações ou áreas do cérebro afetam escolhas financeiras
Tendência chega com força
ao Brasil; pesquisadores se
articulam para desenvolver
laboratórios e linhas de
pesquisa em economia
MAELI PRADO
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
A neurologia e a psicologia
começam a explicar o que
Adam Smith e os economistas
mais convencionais que vieram
depois dele jamais conseguiram, seja olhando diretamente
para dentro do cérebro ou recorrendo a Freud para analisar
decisões de investimento.
Se as finanças tradicionais
não explicam por que investidores continuam comprando
ações mesmo quando os preços
não justificam mais o lucro
proporcionado ou por que um
simples espirro na Bolsa de
Xangai leva uma manada de investidores a sair vendendo
ações mundo afora, as finanças
comportamentais e a neuroeconomia explicam esses fenômenos a partir de recalques
com origem em frustrações individuais ou pela atuação de
áreas do cérebro com a preocupação darwiniana de sobreviver, matar ou morrer.
A tendência chega com força
ao Brasil, onde pesquisadores
se articulam para desenvolver
laboratórios e linhas de pesquisa em economia experimental.
Professores da Faculdade de
Medicina da USP e da FGV
(Fundação Getulio Vargas) se
juntaram para criar o primeiro
laboratório de neuroeconomia
do país em São Paulo. Os pesquisadores querem entender
como áreas do cérebro tomam
decisões sobre investimentos.
A mesma FGV inaugurou,
em 2004, as atividades do Lijia
(Laboratório de Investigação
em Jogos Interdisciplinares
Aplicados), coordenado pelas
pesquisadoras Jolanda Ygosse
Battisti e Julia von Maltzan Pacheco, que simula situações de
compra e venda de ativos para
analisar "in loco" as reações de
investidores.
Uma das pesquisas investiga
por que os investidores privados no Brasil colocam só 3%
dos recursos no mercado de
ações e todo o restante em renda fixa. A conclusão é que o investidor sofre de aversão à perda, um dos primeiros conceitos
das finanças comportamentais
(veja outros nesta página). Ou
seja, as pessoas tendem a sentir
mais a dor de perder R$ 10, por
exemplo, do que o prazer de ganhar R$ 10 -o que não é lógico,
já que o montante perdido é o
mesmo (veja teste).
"As finanças comportamentais estão mostrando que os indivíduos são bem menos racionais do que a teoria econômica
supõe. Eu me interesso por
mostrar as fragilidades da premissa básica da economia tradicional, que é a racionalidade",
diz o economista Eduardo
Giannetti da Fonseca.
"Esse ramo de estudo surge
com a insuficiência da economia "mainstream" de explicar as
coisas", afirma a psicanalista
Vera Rita de Melo Ferreira, representante no Brasil da Iarep
(associação de pesquisa em psicologia econômica).
Economistas x psicólogos
Para Vera Rita, os economistas mais ortodoxos ficaram
sempre furiosos diante de qualquer tentativa de humanizar a
economia. Até que o psicólogo
húngaro George Katona, radicado nos EUA nos anos 40, foi
contratado pelo governo americano para ir a campo perguntar o que os americanos pretendiam fazer quando terminasse
a Segunda Guerra Mundial. À
época, os economistas previam
uma nova recessão. Katona
descobriu o contrário, que haveria um boom. Os americanos
queriam comprar e trabalhar.
"Os economistas tiveram de
calar a boca. A psicologia econômica procura observar o que
está acontecendo. A economia
faz fórmulas matemáticas e enfia à força as pessoas no modelo. O que não cabe dentro os
economistas chamam de anomalia. E anomalia, para nós, é
objeto de estudo. É o que mais
acontece", disse.
Os psicólogos econômicos
ganharam credibilidade após
dois prêmios Nobel. O primeiro
foi do economista e psicólogo
Herbert Simon, em 1978. Ele
mostrou que o gestor não toma
decisões totalmente racionais
porque nunca dispõe, naquele
momento, de todas as informações necessárias para tomá-las.
O Nobel de maior repercussão foi o do psicólogo Daniel
Kahneman, em 2002, que mostrou como as emoções impedem os investidores de calcularem corretamente os riscos
mesmo acreditando que tomam decisões racionais.
De acordo com Luiz Rogério
de Camargos, economista da
FGV, que articula a criação do
laboratório de neuroeconomia
com professores da USP, os novos estudos humanizam a economia. "A economia experimental começa explicar como o
"Homo economicus", que era
removido da realidade humana, toma decisões", disse.
Para o pesquisador Mauro
Halfeld, o gap entre a economia
"mainstream" e a comportamental fica cada vez mais estreito. Ele afirma que a psicologia orienta a matemática a formular os modelos econômicos.
"Acabou o preconceito. A psicologia dá uma luz para que a
economia não seja só matemática. Economia é uma ciência
social, em que as pessoas estão
sujeitas a depressão e euforia.
O estudo dessas faculdades não
é só saudável como lucrativo.
Várias corretoras e gestoras de
ativos acordaram para isso. As
mais sofisticadas utilizam esses
conceitos."
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