São Paulo, segunda-feira, 14 de julho de 2008

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Governo lança plano para pagamento de dívidas

Objetivo é fazer empresas quitarem R$ 40 bi em tributos questionados na Justiça

Empresas que desistirem de disputas que envolvem o IPI terão benefício equivalente à correção da dívida pela TJLP em vez da taxa Selic


LEANDRA PERES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo prepara um pacote de descontos para tentar fazer com que empresas quitem dívidas de aproximadamente R$ 40 bilhões em tributos que estão sendo questionados judicialmente.
A proposta fará parte de uma MP (medida provisória), que tratará de alterações na cobrança das dívidas da Receita Federal e da Previdência Social e a dívida ativa, que inclui débitos em cobrança judicial, no valor total de R$ 1,3 trilhão.
As empresas que desistirem das disputas envolvendo o IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) terão um benefício equivalente à correção da dívida pela TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo) em vez da Selic, que é usada para atualizar as dívidas com a União.
Para ter uma idéia do que isso pode representar, só nos últimos cinco anos, a TJLP variou 59,07%. Já a Selic chegou a 131,69%, mais que o dobro. Ou seja, o governo vai cortar quase pela metade o valor das dívidas que tenham sido acumuladas desde janeiro de 2003.
"É um novo modelo de cobrança. Hoje, entupimos o sistema de cobrança administrativo e também o Judiciário e arrecadamos pouco", explicou o ministro interino da Fazenda, Nelson Machado -Guido Mantega está em férias.

Multas e juros menores
O desconto aos devedores do Imposto sobre Produtos Industrializados será dado na forma de reduções em multas e juros que são cobrados sobre a dívida ativa da União.
Pela proposta em estudo, quem pagar à vista ou em até seis prestações só quitará 70% dos juros de mora, que equivalem à variação mensal da Selic. A multas de mora (30% e correção pela Selic) e de ofício, que variam de 50% a 150% dependendo da infração, e os encargos legais de 20% corrigidos pela Selic serão anulados.
O governo justifica o benefício como uma estratégia para receber os recursos mais rapidamente e eliminar o risco de perder disputas na Justiça.
Há duas disputas de grande valor no Judiciário sobre o IPI. A primeira, que o governo estima em R$ 20 bilhões, é sobre o direito que empresas têm de abater dos impostos devidos créditos obtidos na compra de mercadorias que têm alíquota zero do Imposto sobre Produtos Industrializados ou não são tributados. Nesse caso, porém, o STF (Supremo Tribunal Federal) já decidiu a favor do governo e entendeu que as empresas não podem fazer esse tipo de compensação.

Incentivos
A outra grande disputa é sobre o incentivo que o governo federal dava às exportações de manufaturados por meio do IPI -estimada na LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) em R$ 20 bilhões.
O governo perdeu no STJ (Superior Tribunal de Justiça) a tese de que o incentivo só valeria até 1983. Os ministros entenderam que as empresas podem abater o crédito nas exportações feitas até 1990.
Mas o setor privado continuou a disputa, que agora está no Supremo Tribunal Federal. Caberá aos ministros do Supremo definir até quando valeu, ou mesmo se o incentivo ainda pode ser aproveitado.

Exportadoras
Essa "briga" interessa principalmente às grandes empresas exportadoras. Segundo o vice-presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil), José Augusto de Castro, a tendência é a de que as companhias não aceitem os descontos oferecidos pelo governo.
"O governo está simplesmente tentando antecipar arrecadação e desestimular o recurso jurídico. Já estamos nisso [na discussão judicial] há muitos anos e não faz sentido aceitar [um acordo] agora", disse Castro, da AEB.
Para o vice-presidente da associação de comércio exterior, as avaliações de perda do governo são superestimadas e têm como objetivo criar uma "pressão econômica sobre o Supremo [o STF]".


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