São Paulo, Quarta-feira, 14 de Julho de 1999
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LUÍS NASSIF

A última chance de FHC

A crise política do governo é decorrência da queda de popularidade de FHC. A queda de popularidade de FHC é conseqüência do rescaldo da crise econômica provocada pela política cambial anterior. Bastará a economia se recuperar para voltar a popularidade e a capacidade de FHC de continuar a desempenhar o papel de mediador político de sua base de aliança.
É em cima dessa tática acomodatícia que FHC monta sua estratégia política para o segundo mandato. A cada dia que passa, vai se consolidando não apenas entre a opinião pública, mas entre os aliados, a imagem de fraqueza de FHC. Os indicadores de popularidade despencam cada vez mais e disputam-se cargos e benesses no grito.
FHC tornou-se absolutamente impermeável a toda sorte de análises, conselhos e observações de amigos e aliados. Sua autodefesa é que apenas ele tem uma visão de conjunto de todos os problemas políticos e pode tomar as decisões que acomodem todas as pressões em jogo.
Não consegue administrar pelo menos uma crise, não consegue uma resposta rápida a cada crise política ou econômica, mas nem assim FHC se convence da importância de mudar.
No fundo, há um medo de ousar. Essa é a principal e pior característica de seu governo. Por medo de ousar, adiou até o fim a mudança da política cambial, esperando que a economia se refizesse por si mesma. Os indicadores econômicos iam se deteriorando dia após dia, enquanto FHC ia se escudando em cenários complexos -porém falsos- criados especificamente para lhe dar forças... para continuar não decidindo.
Esse mesmo processo mental está por trás dessa apatia com que é tratada a deterioração de sua imagem. Há momentos em que essa deterioração leva a um ponto de não-retorno. Está-se perto disso.
Uma a uma, o presidente foi queimando todas as possibilidades de recriar a esperança no país. Veio a crise da Ásia, e nenhuma decisão foi tomada. Veio a crise da Rússia, e permaneceu-se na inércia. Veio a reeleição, ainda no primeiro turno, e nada foi feito. Veio a indicação do novo ministério, sem gerar nem sequer uma expectativa positiva. Veio a posse, e nada.
Depois disso, a crise do câmbio, os sucessivos escândalos que paralisaram o governo -muitos deles carecendo de fundamento- foram conseqüência única da perda de legitimidade política do governo.
A rigor, a opinião pública está fendida em dois grupos: os que desejam ardentemente a queda de FHC, e os que ainda defendem FHC por não vislumbrar alternativa viável no cenário político. Não dá para prosseguir nessa situação, aguardando um ponto qualquer do futuro em que a atividade econômica se recupere por si só e devolva a FHC a popularidade perdida.
Em geral, não gosto das afirmações definitivas, mas a indicação do próximo ministério é a última chance de recuperação da legitimidade do governo. Se não conseguir produzir um fato político de impacto com o próximo ministério, não haverá discurso ou melhoria econômica que salve o segundo governo FHC.
A disputa não é mais entre partidos aliados: é entre a base de apoio política do governo e a opinião pública. A recuperação da credibilidade passa pela montagem de um ministério com personalidade, ativo, operacional, que signifique, a um só tempo, a recuperação da capacidade decisória de FHC e a garantia de uma economia gerida com competência.
Se não conseguir atender a essas demandas, nada salvará o país de uma crise de governabilidade em prazo próximo.

Demissão
Até ontem à noite, o ministro da Saúde, José Serra, não tinha recebido nenhum comunicado de que -juntamente com o Ministério- teria colocado o cargo à disposição.


E-mail : lnassif@uol.com.br



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