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LUÍS NASSIF
A última chance de FHC
A crise política do governo é decorrência da queda de popularidade de FHC. A queda de popularidade de FHC é conseqüência do
rescaldo da crise econômica provocada pela política cambial anterior. Bastará a economia se recuperar para voltar a popularidade e a capacidade de FHC de continuar a desempenhar o papel de
mediador político de sua base de
aliança.
É em cima dessa tática acomodatícia que FHC monta sua estratégia política para o segundo
mandato. A cada dia que passa,
vai se consolidando não apenas
entre a opinião pública, mas entre os aliados, a imagem de fraqueza de FHC. Os indicadores de
popularidade despencam cada
vez mais e disputam-se cargos e
benesses no grito.
FHC tornou-se absolutamente
impermeável a toda sorte de análises, conselhos e observações de
amigos e aliados. Sua autodefesa
é que apenas ele tem uma visão
de conjunto de todos os problemas políticos e pode tomar as decisões que acomodem todas as
pressões em jogo.
Não consegue administrar pelo
menos uma crise, não consegue
uma resposta rápida a cada crise
política ou econômica, mas nem
assim FHC se convence da importância de mudar.
No fundo, há um medo de ousar. Essa é a principal e pior característica de seu governo. Por
medo de ousar, adiou até o fim a
mudança da política cambial, esperando que a economia se refizesse por si mesma. Os indicadores econômicos iam se deteriorando dia após dia, enquanto FHC ia
se escudando em cenários complexos -porém falsos- criados
especificamente para lhe dar forças... para continuar não decidindo.
Esse mesmo processo mental está por trás dessa apatia com que é
tratada a deterioração de sua
imagem. Há momentos em que
essa deterioração leva a um ponto de não-retorno. Está-se perto
disso.
Uma a uma, o presidente foi
queimando todas as possibilidades de recriar a esperança no país.
Veio a crise da Ásia, e nenhuma
decisão foi tomada. Veio a crise
da Rússia, e permaneceu-se na
inércia. Veio a reeleição, ainda
no primeiro turno, e nada foi feito. Veio a indicação do novo ministério, sem gerar nem sequer
uma expectativa positiva. Veio a
posse, e nada.
Depois disso, a crise do câmbio,
os sucessivos escândalos que paralisaram o governo -muitos
deles carecendo de fundamento- foram conseqüência única
da perda de legitimidade política
do governo.
A rigor, a opinião pública está
fendida em dois grupos: os que
desejam ardentemente a queda
de FHC, e os que ainda defendem
FHC por não vislumbrar alternativa viável no cenário político.
Não dá para prosseguir nessa situação, aguardando um ponto
qualquer do futuro em que a atividade econômica se recupere por
si só e devolva a FHC a popularidade perdida.
Em geral, não gosto das afirmações definitivas, mas a indicação
do próximo ministério é a última
chance de recuperação da legitimidade do governo. Se não conseguir produzir um fato político de
impacto com o próximo ministério, não haverá discurso ou melhoria econômica que salve o segundo governo FHC.
A disputa não é mais entre partidos aliados: é entre a base de
apoio política do governo e a opinião pública. A recuperação da
credibilidade passa pela montagem de um ministério com personalidade, ativo, operacional, que
signifique, a um só tempo, a recuperação da capacidade decisória
de FHC e a garantia de uma economia gerida com competência.
Se não conseguir atender a essas
demandas, nada salvará o país de
uma crise de governabilidade em
prazo próximo.
Demissão
Até ontem à noite, o ministro da
Saúde, José Serra, não tinha recebido nenhum comunicado de que
-juntamente com o Ministério- teria colocado o cargo à disposição.
E-mail : lnassif@uol.com.br
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