|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ECONOMIA REAL
Financeiras cortam em até 50% recursos para financiamentos; taxa de juros sobe 0,40 ponto percentual ao mês
Seca de dólar restringe e encarece crédito
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
A seca de dólares na economia
brasileira já contaminou o crédito
oferecido ao consumidor. Diminuiu a oferta de dinheiro para financiamentos, que já era pequena, e está mais caro comprar a
prazo um carro ou uma TV.
A alta do dólar tirou reais do
mercado e, com isso, reduziu os
recursos das financeiras para empréstimos. Instituições já cortaram em até 50% o volume de dinheiro para financiar os consumidores e em 20% para as empresas,
segundo a Folha apurou.
Mais escasso, o crédito ficou
ainda mais caro: os juros já subiram cerca de 0,40 ponto percentual ao mês para o consumidor.
Na Servloj, empresa que administra o crediário de 300 redes nas regiões Sul e Sudeste do país, a taxa
média de juros cobrada do consumidor subiu de 6% para 6,4% ao
mês no início desta semana.
O medo de não receber pelos
empréstimos levou o banco Zogbi
a reduzir em 20% a linha de crédito das empresas em geral. Quem
tinha R$ 400 mil para financiamento, pode levar agora só R$ 320
mil. "É um teste que decidimos
iniciar há duas semanas para ver a
capacidade de pagamento das
empresas", afirma Fábio Zogbi,
vice-presidente do banco.
Muitas instituições financeiras
adotaram essa medida, mas não
de forma generalizada. Elas fizeram uma seleção: reduziram mais
o crédito para as empresas mais
dependentes de insumos importados e para as que têm elevadas
dívidas em dólares.
O banco não mexeu no crédito
para pessoas físicas. Nem precisou, diz Zogbi, pois o próprio
consumidor está por si só mais retraído. Mas quem quiser comprar
a prazo, porém, vai pagar mais.
Há duas semanas, o banco Zogbi elevou os juros para os consumidores que vão financiar a compra de um carro em 0,35 ponto
percentual ao mês. "Os juros subiram porque o dólar está mais
caro devido à desconfiança na
economia com o futuro governo."
O banco Cacique, que administra o crediário de 1.200 redes no
país, e a Finaustria, financeira do
banco BBA, também subiram os
juros para os consumidores em
torno de 0,40 ponto ao mês.
"Há uma grande incerteza hoje
no mercado. Os bancos que trabalham mais com crédito estão
preferindo ter o dinheiro em caixa", afirma Wanderley Vettore,
diretor do Cacique.
A restrição de crédito para financiar a compra de um produto
pelo consumidor pode restringir
mais o crescimento da economia,
dizem diretores de financeiras.
O financiamento, dizem eles, é,
na maioria das vezes, a única forma de o trabalhador conseguir
adquirir um produto. "É a mola
propulsora da economia. A população precisa de crédito. É ruim
reduzir a oferta de recursos para o
crediário bem agora que a economia não está bem", diz Vettore.
A Finaustria informa que a alta
do dólar levou a financeira a elevar de 2,15% para 2,75% ao mês
(com IOF) a taxa mínima de juros
cobrada do consumidor que adquiri um carro a prazo. "Num
momento como esse, os juros sobem muito", afirma Moisés Jardim, diretor da Finaustria.
O cenário econômico conturbado e o crédito mais caro teve impacto nas vendas. "A demanda está fraca desde maio, especialmente porque o consumidor está com
medo de entrar em dívidas com
prazos longos -de 24 a 36 meses.
A Servloj informa que as vendas
financiadas caíram 8% em julho
sobre junho e se mantêm fracas
também neste mês. Por essa razão, também nem precisou restringir o crédito ao consumidor.
O Brasil já oferece pouco crédito
na economia quando comparado
com países desenvolvidos. O dinheiro utilizado para financiamento no Brasil representa 29% do PIB (Produto Interno Bruto).
Nos EUA, varia de 70% a 100%. No Japão, participa com 100%.
Texto Anterior: Painel S.A. Próximo Texto: Corte nas linhas de financiamento põe empresa em situação drástica Índice
|