São Paulo, quarta-feira, 14 de agosto de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ECONOMIA REAL

Financeiras cortam em até 50% recursos para financiamentos; taxa de juros sobe 0,40 ponto percentual ao mês

Seca de dólar restringe e encarece crédito

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

A seca de dólares na economia brasileira já contaminou o crédito oferecido ao consumidor. Diminuiu a oferta de dinheiro para financiamentos, que já era pequena, e está mais caro comprar a prazo um carro ou uma TV.
A alta do dólar tirou reais do mercado e, com isso, reduziu os recursos das financeiras para empréstimos. Instituições já cortaram em até 50% o volume de dinheiro para financiar os consumidores e em 20% para as empresas, segundo a Folha apurou.
Mais escasso, o crédito ficou ainda mais caro: os juros já subiram cerca de 0,40 ponto percentual ao mês para o consumidor. Na Servloj, empresa que administra o crediário de 300 redes nas regiões Sul e Sudeste do país, a taxa média de juros cobrada do consumidor subiu de 6% para 6,4% ao mês no início desta semana.
O medo de não receber pelos empréstimos levou o banco Zogbi a reduzir em 20% a linha de crédito das empresas em geral. Quem tinha R$ 400 mil para financiamento, pode levar agora só R$ 320 mil. "É um teste que decidimos iniciar há duas semanas para ver a capacidade de pagamento das empresas", afirma Fábio Zogbi, vice-presidente do banco.
Muitas instituições financeiras adotaram essa medida, mas não de forma generalizada. Elas fizeram uma seleção: reduziram mais o crédito para as empresas mais dependentes de insumos importados e para as que têm elevadas dívidas em dólares.
O banco não mexeu no crédito para pessoas físicas. Nem precisou, diz Zogbi, pois o próprio consumidor está por si só mais retraído. Mas quem quiser comprar a prazo, porém, vai pagar mais.
Há duas semanas, o banco Zogbi elevou os juros para os consumidores que vão financiar a compra de um carro em 0,35 ponto percentual ao mês. "Os juros subiram porque o dólar está mais caro devido à desconfiança na economia com o futuro governo."
O banco Cacique, que administra o crediário de 1.200 redes no país, e a Finaustria, financeira do banco BBA, também subiram os juros para os consumidores em torno de 0,40 ponto ao mês.
"Há uma grande incerteza hoje no mercado. Os bancos que trabalham mais com crédito estão preferindo ter o dinheiro em caixa", afirma Wanderley Vettore, diretor do Cacique.
A restrição de crédito para financiar a compra de um produto pelo consumidor pode restringir mais o crescimento da economia, dizem diretores de financeiras.
O financiamento, dizem eles, é, na maioria das vezes, a única forma de o trabalhador conseguir adquirir um produto. "É a mola propulsora da economia. A população precisa de crédito. É ruim reduzir a oferta de recursos para o crediário bem agora que a economia não está bem", diz Vettore.
A Finaustria informa que a alta do dólar levou a financeira a elevar de 2,15% para 2,75% ao mês (com IOF) a taxa mínima de juros cobrada do consumidor que adquiri um carro a prazo. "Num momento como esse, os juros sobem muito", afirma Moisés Jardim, diretor da Finaustria.
O cenário econômico conturbado e o crédito mais caro teve impacto nas vendas. "A demanda está fraca desde maio, especialmente porque o consumidor está com medo de entrar em dívidas com prazos longos -de 24 a 36 meses.
A Servloj informa que as vendas financiadas caíram 8% em julho sobre junho e se mantêm fracas também neste mês. Por essa razão, também nem precisou restringir o crédito ao consumidor.
O Brasil já oferece pouco crédito na economia quando comparado com países desenvolvidos. O dinheiro utilizado para financiamento no Brasil representa 29% do PIB (Produto Interno Bruto). Nos EUA, varia de 70% a 100%. No Japão, participa com 100%.


Texto Anterior: Painel S.A.
Próximo Texto: Corte nas linhas de financiamento põe empresa em situação drástica
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.