São Paulo, quarta-feira, 14 de agosto de 2002

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EM TRANSE

Varejo também coloca equipe na rua e arma estratégia para barrar aumento; indústria quer alongar férias

Indústria monta força-tarefa para reajustar preços

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Há uma força-tarefa criada pelos fornecedores do comércio varejista com a meta de empurrar os aumentos de preços às lojas. Com tabela na mão e discurso pronto, os gerentes de venda têm ido pessoalmente tratar do assunto nos pontos-de-venda toda a semana. Quando a situação complica, entram em campo os diretores comerciais, que já interferem diretamente na negociação. Isso normalmente não acontece.
Redes como Lojas Cem e Colombo recebem telefonemas dos fornecedores diariamente. O embate se assemelha, pela primeira vez, àquele enfrentado pelas empresas em 99, após a forte desvalorização do real, dizem as companhias. A ação, no entanto, não tem dado muito resultado.
Os fabricantes de eletrônicos querem reajustes entre 20% e 30%, dependendo do produto. Isso porque os eletrônicos utilizam, em grande parte, componentes importados. A escalada do dólar encareceu os equipamentos. Nas últimas duas semanas, eles conseguiram um repasse de 2% a 3% apenas. Ou seja, os equipamentos devem subir de preço aos poucos.
No outro lado da mesa, os fornecedores já deram o recado nesta semana. Dizem que, se o varejo não aceitar o reajuste, vão ter de prolongar as férias na linha de produção e reduzir ainda mais o ritmo de fabricação, que já caiu, em média, 25% desde julho.
"Agora falamos com eles (fornecedores) todos os dias. E ainda vêm até aqui toda a semana de tabela nova na mão. A pressão é grande, mas não adianta. Aumento como eles querem nem em sonho", diz Valdemir Coleone, superintendente da Lojas Cem, que aceitou aumentos de até 3%.
Nessa queda-de-braço, o varejo também colocou sua equipe na rua. A estratégia é a seguinte: as redes reúnem dados sobre os preços de concorrentes e calculam os aumentos praticados por eles. Com os dados computados, tentam barrar -nas conversas com os fornecedores- reajustes além daqueles já praticados pela loja do concorrente. A idéia é bater na tecla de que, "se no ponto do vizinho o aumento foi "x", no meu não pode ser diferente disso", informa um negociador de rede varejista. Só há espaço, segundo a Folha apurou, para um aumento de até 10%, na visão do comércio.
Na Lojas Colombo, com faturamento de R$ 700 milhões e 500 fornecedores, até a diretoria comercial tem participado das negociações sobre reajuste de preços, segundo a Folha apurou. O contato com os gerentes de venda dos fabricantes é diário. Nas conversas fala-se, por exemplo, em aumento de 22% só para as câmeras filmadoras.

Celulares
No caso dos telefones celulares, as negociações estão um pouco mais fáceis. As operadores apresentaram, nesta semana, aumentos de 12% a 13% no valor do aparelho. Elas já têm subsidiado parte do preço do equipamento para o consumidor há tempos. Grande parte de sua margem de lucro é alcançada com o preço dos serviços. Mesmo assim, o varejo ainda quer rever a taxa proposta.
As lojas informam que não há falta de produtos. Redes como Lojas Cem e Casas Bahia têm estoque para 20 dias a 45 dias. As indústrias operam com nível de estoque semelhante. Mas já tentam reduzir esse patamar. Nas últimas semanas, Philco e LG já deram férias coletivas para a produção.


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