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POLÊMICA
Para ministra, decisão judicial não elimina necessidade de estudo de impacto ambiental; AGU e Idec concordam
Marina diz que transgênico segue proibido
ANDRÉ SOLIANI
SILVANA DE FREITAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O cultivo de soja transgênica
continua proibido no país, mesmo depois da decisão judicial que
permitiu à CTNBio (Comissão
Técnica Nacional de Biossegurança) dar pareceres autorizando ou
não o plantio e a comercialização
do produto sem necessidade de
relatório de impacto ambiental.
A proibição persiste porque o
parecer da CTNBio é apenas o
primeiro passo, previsto em lei,
para que o uso de transgênico
possa ser liberado no país. A legislação ainda exige, por exemplo, o
registro da semente modificada
no Ministério da Agricultura.
Ontem, a Folha e outros órgãos
de imprensa, a partir de informações da assessoria de imprensa do
Tribunal Regional Federal da 1ª
Região, da Monsanto e do Idec
(Instituto Brasileiro de Defesa do
Consumidor), informaram que o
plantio e a comercialização de soja transgênica estavam liberados
até que o caso fosse julgado pela 5ª
Turma do TRF.
No caso objeto da decisão judicial, envolvendo a empresa Monsanto, ainda não existe esse registro no Ministério da Agricultura.
Se essa autorização for obtida no
ministério, a empresa poderia comercializar suas sementes. Ela reconhece, porém, que hoje não teria produto suficiente para atender à demanda.
O advogado-geral da União, Álvaro Ribeiro Costa, concorda que
é preciso preencher outros requisitos legais antes da liberação da
soja transgênica: "A decisão não
altera em nada a lei em vigor. As
condições legais exigíveis persistem a despeito da decisão judicial".
Os produtores que insistirem
em plantar soja geneticamente
modificada estarão sujeitos à
multa de pelo menos R$ 16,11 mil
e ficarão impedidos de ter acesso
a financiamentos oficiais para o
plantio, produção, processamento ou venda do produto.
Anteontem, a juíza Selene Maria de Almeida, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, suspendeu a sentença de primeira
instância que impedia a CTNBio
de emitir pareceres que liberavam
a utilização de organismos geneticamente modificados sem a necessidade de um relatório de impacto ambiental no caso da Monsanto.
Confusão
Após a decisão, a assessoria de
imprensa do TRF chegou a divulgar uma nota com o título "liberação da soja roundup ready", informando que, com a decisão, ficava suspensa a sentença de primeira instância que proibia o cultivo e a comercialização da soja
transgênica no país.
Com base nessa informação, a
coordenadora-executiva do Idec,
Marilena Lazzarini, disse: "A próxima safra vai começar daqui a
quase dois meses. Com essa decisão, a [multinacional] Monsanto
vai poder vender a semente dela".
Ontem, o Idec divulgou uma
nova nota na qual afirma que,
apesar da notícia veiculada pelo
site do TRF, essa soja "não está liberada para o plantio". O Idec informou ainda que sua assessoria
jurídica só havia chegado a essa
conclusão ontem após examinar
o texto da sentença.
A interpretação de que a decisão
do TRF liberava o plantio e a comercialização também foi confirmada pela Monsanto por meio de
nota à imprensa. Em outra nota, o
Ministério do Meio Ambiente lamentava a liberação.
Parecer da CNTBio
A CTNBio é um órgão com representantes de vários ministérios e da sociedade civil criado para analisar a biossegurança dos
transgênicos. Em 1998, a comissão havia emitido um parecer, no
qual considerava a soja transgênica produzida pela Monsanto segura para o consumo e para o ambiente e dispensava o estudo de
impacto ambiental, exigido pelo
Ministério do Meio Ambiente.
O parecer estava suspenso até
anteontem, por iniciativa da entidade ambientalista Greenpeace e
do Idec, que questionaram na Justiça a competência da CTNBio em
emitir pareceres definitivos, sem
o relatório de impacto ambiental.
Com a liminar da juíza, que tem
caráter temporário, pois a questão ainda não foi julgada, os relatórios da comissão voltam a ter
caráter conclusivo, dispensando a
necessidade do relatório de impacto ambiental.
"A CTNBio vai retomar, de forma normal, uma atribuição dela,
prevista em lei, e que estava suspensa por determinação da Justiça", afirmou por meio de nota o
secretário-executivo da CTNBio,
Jairon Alcir do Nascimento.
A ministra do Meio Ambiente,
Marina Silva, porém, não concorda com essa interpretação, mesmo depois da decisão judicial de
anteontem, que ainda não é definitiva.
"A compreensão de que essa liminar iria isentar as empresas dos
estudos de impacto ambiental é
completamente equivocada", disse Marina Silva, por meio de nota
divulgada por sua assessoria de
imprensa.
A polêmica dentro do governo
sobre o tratamento que deve ser
dado aos transgênicos deve ser resolvida nos próximos dias.
No começo da semana, o ministro Roberto Rodrigues (Agricultura) informou que o governo enviaria um projeto sobre o assunto
ao Congresso Nacional até amanhã.
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