São Paulo, sábado, 14 de agosto de 2004

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Política de repasse de preços causa incertezas, afirmam especialistas

RAFAEL CARIELLO
DE NOVA YORK

Especialistas em petróleo ouvidos pela Folha avaliam que o sistema de repasse dos preços internacionais do produto para seus derivados no Brasil praticado pela Petrobras contribui para criar incertezas entre os investidores internacionais da empresa.
Atualmente, a Petrobras não tem prazo definido para realizar os ajustes, embora tenda, segundo os analistas, a seguir, no médio prazo, as flutuações do preço internacional do petróleo.
Segundo Frank McGann, da Merril Lynch, a incerteza se reflete no valor das ações da empresa, entre os mais baixos entre as grandes companhias petrolíferas do mundo. "A Petrobras é uma das menos valorizadas entre empresas [de petróleo] globais", diz. Entre os motivos, ele cita o risco-país do Brasil, o fato de ser uma empresa controlada pelo governo "e também o sistema de preços". "É uma questão que as pessoas freqüentemente citam."
Para Lucrecia Tam, analista de energia do Deutsche Bank, uma das soluções que a Petrobras poderia encontrar para o problema seria a adoção de regras mais claras para o reajuste. "Parâmetros mais claros para o mercado certamente ajudariam. Temos a impressão de que leva dois ou três meses, certo? Mas, se os investidores souberem que essa é a política, saberão o que esperar."
Ambos afirmam, no entanto, não concordarem inteiramente com as preocupações de muitos investidores, já que a empresa tende a seguir as flutuações do preço internacional do petróleo.
"O jeito mais transparente seria ter preços que reflitam completamente os chamados preços internacionais", diz McGann. "Eu não me preocupo, porque o fluxo de dinheiro para a Petrobras tende a ser neutro [em relação aos preços internacionais] ao longo do tempo, mas os investidores sempre se preocupam que qualquer governo não vá fazer esses ajustes inteiramente, e a empresa terminaria sendo negativamente afetada."
Tam, do Deutsche Bank, argumenta: "Alguns investidores ainda pensam que o preço deveria subir e baixar, mas acho que a empresa poderia ser um pouco mais enfática sobre o modo como o faz, sobre o tempo que demora. Alguns investidores não entendem isso muito bem".
A despeito da desconfianças dos investidores, na comparação com o desempenho de outras empresas de extração de petróleo, a Petrobras aparece em primeiro lugar em um ranking que considera o lucro líquido. Com um lucro líquido de US$ 2,5 bilhões no primeiro semestre deste ano, a companhia brasileira aparece à frente da espanhola Repsol, apesar de o lucro ter recuado 23%. Quando se faz uma comparação com empresas de petróleo e gás, a Petrobras aparece em quinto lugar.


Colaborou Cíntia Cardoso, da Reportagem Local


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