|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
OPINIÃO ECONÔMICA
A revolução silenciosa no BC
JAIRO SADDI
Passada a crise financeira que
assolou o país, bem como seus recentes desdobramentos políticos,
com a CPI dos Bancos, o Banco
Central deve voltar a concentrar-se no seu plano de vôo, que o levará ao novo milênio disposto a
cumprir o papel histórico que ele
precisa desempenhar.
Inúmeras mudanças estão a caminho, outras tantas já se realizaram. O que já foi feito e é digno de
nota refere-se à definição de metas inflacionárias, à regulamentação dos fundos e do depósito
compulsório e à entrada de bancos estrangeiros, dando fim ao
critério arbitrário, vago e ineficiente do pedágio.
Além disso, com o objetivo de
reduzir risco no sistema de compensação, também está sendo
transformado o sistema dos
meios de pagamento. Prometidas
estão ampla reforma no cabedal
regulamentar do câmbio, na área
dos títulos públicos, com o fim
das vinculações, e na cunha fiscal
das taxas de juro; e ampla faxina
no "clearing" das instituições financeiras e nas contas de reserva
de capital. No tocante à supervisão, está sendo mudado o sistema
de intervenção e liquidação das
instituições financeiras, e o espírito da supervisão passa a ser mais
preventivo do que reativo.
Enfim, a lista de tarefas do sr.
Armínio Fraga é vasta o suficiente
para que se desconfie de que muitos dos assuntos ainda por atacar
não saiam do plano das idéias.
Coragem e determinação não lhe
faltam, o que já é um ponto de
partida muito positivo; mas é necessário que o BC consiga criar o
clima político para que tantas e tamanhas modificações ecoem para
a sociedade como algo vantajoso e
útil para a economia.
Para tanto, o Poder Legislativo
precisa dar um voto de apoio ao
Banco Central. Reviver a CPI agora, com a reabertura do Congresso, é ato de politicagem que presta
um verdadeiro desserviço a essa
causa. Erros e omissões devem ser
investigados pelo Ministério Público e exemplarmente punidos
por quem de direito. O Congresso
deveria apressar-se em votar assuntos ligados ao art. 192 da Carta
de 1988 -que, de resto, já sofreu
emenda constitucional, ainda por
ser sancionada, retirando algumas barbaridades folclóricas, que
nem dignas de nota são.
Entretanto, até mais importante
do que isso, o Congresso deve
avaliar de maneira proativa suas
recentes ações e cobrar mais
transparência da autoridade monetária como instituição. Uma extensa revisão acerca do uso e dos
instrumentos da política monetária poderia ser um passo inicial e
importante nesse processo. Segundo passo, igualmente importante: planejar a estratégia da
abertura financeira, especialmente tendo em vista a concentração
bancária e o mercado de não-bancos (ou seja, instituições não-financeiras que servem como intermediadoras de capital sem estar
sujeitas às regras do BC).
O Poder Legislativo é imprescindível numa sociedade democrática. Cabe a ele não apenas
exercer a atividade legiferante,
mas também dar o tom da harmonia política de uma nação. Está
mais do que na hora de deixarmos questões do passado, olharmos para o futuro e definirmos o
Banco Central que queremos entre nós: autônomo, forte e crível.
Com responsabilidade e maturidade para enfrentar questões institucionais das mais sérias, de modo a poder contribuir decisivamente para elas sem, contudo,
perder o foco de suas atividades
para o desenvolvimento nacional.
Jairo Saddi, 34, advogado e doutor em direito econômico pela USP (Universidade de São Paulo), é coordenador do curso de direito do Ibmec (Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais). É autor de "O Poder e o Cofre" e
de "Liquidação e Intervenção no SFN -25 Anos da Lei 6.024" (editora Textonovo).
Texto Anterior: Receita tem de surgir de outra fonte Próximo Texto: Bebidas: Cade alertará Brahma e Antarctica Índice
|