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"É ótimo ser mulher e capitalista aqui", diz empresária
DA REPORTAGEM LOCAL
Peggy Yu considera "ótimo" ser
uma mulher capitalista na China
de hoje. Segundo ela, o país tem
uma infra-estrutura social que
torna mais fácil conciliar família e
carreira do que nos Estados Unidos, por exemplo.
Nos negócios, sua maior dificuldade é a falta de sofisticação do
sistema bancário chinês. Apenas
1% das vendas no varejo são pagas com cartões de crédito. Para
superar esse obstáculo, Peggy
adotou um sistema de pagamento
no qual o comprador entrega o
dinheiro no momento em que recebe a encomenda. A seguir, alguns dos trechos da entrevista
concedida à Folha:
Folha - Como é ser uma mulher
capitalista na China?
Peggy Yu - É ótimo. Ter um negócio está no sangue do povo chinês. Vivi mais de dez anos nos Estados Unidos, e, comparada ao
país, a China tem uma melhor infra-estrutura social para que a
mulher possa equilibrar família e
carreira. Na China, há muitos jardins de infância estatais, com professores bem treinados, que funcionam das 8h até as 17h30. Eu comecei a levar meu filho, Alexander, para o jardim de infância antes que ele tivesse dois anos. Também tenho uma pessoa que cuida
da minha casa.
Cerca de metade da força de trabalho e dos ocupantes de cargos
de chefia na China é formada por
mulheres. Isso não é tão comum
no Japão ou mesmo nos Estados
Unidos. Se o comunismo por 40
anos fez uma coisa certa, foi sobre
a igualdade de direitos entre homens e mulheres.
Folha - Quais são os problemas logísticos do e-commerce na China?
Peggy - Para ter um bom negócio on-line, é necessário haver três
tipos de fluxo: 1) de informação,
para que a informação sobre o
produto chegue às pessoas; 2) de
dinheiro, para que o dinheiro da
venda possa ser recolhido; e 3) de
mercadorias. Os três fluxos são
difíceis de conseguir na China, em
comparação aos Estados Unidos.
A parte mais difícil é o fluxo de
dinheiro. O sistema bancário chinês não é sofisticado, e o uso de
cartões de crédito é muito baixo.
De todas as vendas comerciais no
varejo na China, só 1% é realizado
com cartão de crédito. Na Índia,
esse índice é de 12%, e, nos Estados Unidos, creio que de 50%.
No primeiro ano, experimentamos uma série de coisas, mas acabamos concluindo que, para o negócio dar certo, precisaríamos
criar outra forma de pagamento,
que não fosse on-line. Aí começamos a adotar o método COD
("cash on delivery").
As pessoas fazem os pedidos na
dangdang e os pacotes são despachados para diferentes cidades.
As companhias locais de COD entregam a encomenda, recebem o
dinheiro e o enviam à nossa conta. Cerca de 60% a 65% de nosso
faturamento vem dessa fonte. Outros 15% vêm de cartões de crédito, e o restante, de transferências
de dinheiro feitas por correio.
Há muitas restrições na China para a publicação de livros?
Peggy - Existem regras não escritas. Todos as editoras na China
são propriedade do Estado por lei.
Mas há acordos de co-edição com
a iniciativa privada, que, nesses
casos, realiza o trabalho de publicação. Cerca de 40% dos títulos
são produzidos nesse modelo. Em
geral, você pode publicar tudo,
desde que não seja muito sensível
do ponto de vista político.
Folha - Não há necessidade de autorização prévia do governo?
Peggy - As editoras não submetes pedidos sobre o que vão publicar. Mas o governo pode ordenar
o recolhimento de livros com cujo
conteúdo não concorde. Nos últimos três anos, isso ocorreu duas
ou três vezes em toda a China.
Folha - Há liberdade editorial?
Peggy -Às vezes eu fico surpresa
com quanta liberdade há. "A Revolução dos Bichos", de George
Orwell, é uma sátira ácida do comunismo, mas foi publicado na
China sem problemas.
Folha - Como o nome dangdang
foi escolhido?
Peggy - Há uma palavra em chinês, xiangdangdang, que significa
"excelente", "muito bom". E
dangdang é também o som que a
caixa registradora faz quando é
aberta e fechada. Eu queria um
nome simples, fácil de soletrar e
de encontrar na internet.
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