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São Paulo, domingo, 14 de setembro de 2003

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"É ótimo ser mulher e capitalista aqui", diz empresária

DA REPORTAGEM LOCAL

Peggy Yu considera "ótimo" ser uma mulher capitalista na China de hoje. Segundo ela, o país tem uma infra-estrutura social que torna mais fácil conciliar família e carreira do que nos Estados Unidos, por exemplo.
Nos negócios, sua maior dificuldade é a falta de sofisticação do sistema bancário chinês. Apenas 1% das vendas no varejo são pagas com cartões de crédito. Para superar esse obstáculo, Peggy adotou um sistema de pagamento no qual o comprador entrega o dinheiro no momento em que recebe a encomenda. A seguir, alguns dos trechos da entrevista concedida à Folha:

Folha - Como é ser uma mulher capitalista na China?
Peggy Yu -
É ótimo. Ter um negócio está no sangue do povo chinês. Vivi mais de dez anos nos Estados Unidos, e, comparada ao país, a China tem uma melhor infra-estrutura social para que a mulher possa equilibrar família e carreira. Na China, há muitos jardins de infância estatais, com professores bem treinados, que funcionam das 8h até as 17h30. Eu comecei a levar meu filho, Alexander, para o jardim de infância antes que ele tivesse dois anos. Também tenho uma pessoa que cuida da minha casa.
Cerca de metade da força de trabalho e dos ocupantes de cargos de chefia na China é formada por mulheres. Isso não é tão comum no Japão ou mesmo nos Estados Unidos. Se o comunismo por 40 anos fez uma coisa certa, foi sobre a igualdade de direitos entre homens e mulheres.

Folha - Quais são os problemas logísticos do e-commerce na China?
Peggy -
Para ter um bom negócio on-line, é necessário haver três tipos de fluxo: 1) de informação, para que a informação sobre o produto chegue às pessoas; 2) de dinheiro, para que o dinheiro da venda possa ser recolhido; e 3) de mercadorias. Os três fluxos são difíceis de conseguir na China, em comparação aos Estados Unidos.
A parte mais difícil é o fluxo de dinheiro. O sistema bancário chinês não é sofisticado, e o uso de cartões de crédito é muito baixo. De todas as vendas comerciais no varejo na China, só 1% é realizado com cartão de crédito. Na Índia, esse índice é de 12%, e, nos Estados Unidos, creio que de 50%.
No primeiro ano, experimentamos uma série de coisas, mas acabamos concluindo que, para o negócio dar certo, precisaríamos criar outra forma de pagamento, que não fosse on-line. Aí começamos a adotar o método COD ("cash on delivery").
As pessoas fazem os pedidos na dangdang e os pacotes são despachados para diferentes cidades. As companhias locais de COD entregam a encomenda, recebem o dinheiro e o enviam à nossa conta. Cerca de 60% a 65% de nosso faturamento vem dessa fonte. Outros 15% vêm de cartões de crédito, e o restante, de transferências de dinheiro feitas por correio.

Há muitas restrições na China para a publicação de livros?
Peggy -
Existem regras não escritas. Todos as editoras na China são propriedade do Estado por lei. Mas há acordos de co-edição com a iniciativa privada, que, nesses casos, realiza o trabalho de publicação. Cerca de 40% dos títulos são produzidos nesse modelo. Em geral, você pode publicar tudo, desde que não seja muito sensível do ponto de vista político.

Folha - Não há necessidade de autorização prévia do governo?
Peggy -
As editoras não submetes pedidos sobre o que vão publicar. Mas o governo pode ordenar o recolhimento de livros com cujo conteúdo não concorde. Nos últimos três anos, isso ocorreu duas ou três vezes em toda a China.

Folha - Há liberdade editorial?
Peggy -
Às vezes eu fico surpresa com quanta liberdade há. "A Revolução dos Bichos", de George Orwell, é uma sátira ácida do comunismo, mas foi publicado na China sem problemas.

Folha - Como o nome dangdang foi escolhido?
Peggy -
Há uma palavra em chinês, xiangdangdang, que significa "excelente", "muito bom". E dangdang é também o som que a caixa registradora faz quando é aberta e fechada. Eu queria um nome simples, fácil de soletrar e de encontrar na internet.


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