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CAPITALISMO VERMELHO
Livros de estratégia empresarial e aperfeiçoamento profissional lideram as vendas pela internet
Mulher é dona de império on-line chinês
CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL
Aos 38 anos, a chinesa Peggy Yu
pode ser considerada um emblema da conversão de seu país aos
padrões do capitalismo norte-americano. Há pouco mais de três
anos ela se inspirou na amazon.com para fundar a maior livraria virtual da China, a dangdang.com, cuja lista de best-sellers reflete o desejo dos leitores de
trilhar caminho parecido ao seu e
assimilar os valores que regem a
maior economia do mundo.
Dos 10 títulos mais vendidos, 5
são de norte-americanos que dão
conselhos sobre como ganhar dinheiro e ter uma boa performance profissional. O líder é "Sete Hábitos de Pessoas Muito Eficientes", de Stephen Convey. Além
desses, há um livro sobre os conselhos que os pais norte-americanos dão a seus filhos e outro bilingue para estudantes de inglês.
"Todo mundo quer ganhar dinheiro", disse Peggy à Folha, em
entrevista por telefone na semana
passada, de sua casa, em Pequim.
Os três livros que completam a lista de best-sellers são de ficção.
Um deles, "Mensagem Para Garcia", do americano de Elbert Hubbard (1856-1915), é considerado
uma lição "de dever e eficiência"
pela Columbia Encyclopedia. No
décimo lugar está "Alice no País
das Maravilhas", do inglês Lewis
Carroll (1832-1898).
Consumo
Antes de idealizar a dangdang.com, Peggy passou dez anos
em Nova York, onde obteve um
MBA e experimentou as delícias
do consumo norte-americano,
nas livrarias e lojas de discos próximas à sua casa, no Upper East
Side, em Manhattan.
Continuar a ter acesso a esses
produtos foi uma das coisas que a
levaram a escolher uma livraria
virtual como área de atuação.
"Em certo sentido, eu queria duplicar na China a experiência de
consumo que tive nos Estados
Unidos", afirmou a empresária.
Outra razão foi a atuação de seu
marido, Li Guonqing, 39, no mercado editorial. Quando os dois se
conheceram, em 1996, Li já era
um bem-sucedido editor de livros
profissionais na China, com a "Livros Científicos e Culturais".
Mas a internet ainda era algo
quase inexistente no país, com algumas centenas de usuários.
Peggy e Li traçaram uma estratégia de negócios cautelosa, que
continha um "plano B" para a hipótese de os negócios on-line não
decolarem na China. Também
decidiram que a dangdang.com
só teria viabilidade quando o número de computadores conectados à internet atingisse 3 milhões,
o que ocorreu no fim de 1999.
O primeiro passo foi criar um
banco de dados de todos os livros
publicados na China, ferramenta
que seria essencial para a livraria
virtual. Se o negócio on-line não
desse certo, eles abririam uma
empresa para vender o banco de
dados a bibliotecas, editoras e livrarias de tijolo e cimento.
Quando ficou claro que havia
massa crítica de potenciais clientes, a tarefa passou a ser conseguir
investidores internacionais dispostos a colocar dinheiro no negócio, o que não foi difícil. O final
dos anos 90 presenciou a febre das
"ponto com" e um negócio virtual
em um país de 1,2 bilhão de habitantes parecia algo promissor.
Peggy e sua família conseguiram três empresas estrangeiras
como sócios: IDG (International
Data Group), dos Estados Unidos, Softbank, do Japão, e Luxembourg Cambridge Holding
Group, de Luxemburgo.
Por se tratar de uma companhia
de capital fechado, Peggy diz que
não pode revelar o valor do investimento nem qual o faturamento
da empresa. Mas afirma que a
dangdang.com começará a dar
lucro neste ano e que as vendas
vão dobrar entre 2003 e 2004.
A empresa iniciou suas atividades no fim de 1999 com poucas
dezenas de encomendas por dia.
Hoje, atende a cerca de 4.000 pedidos diários, tem 140 empregados na folha de pagamento e contratos com 30 empresas de entrega em todo o país.
Apesar do crescimento, as operações on-line ainda representam
uma fração muito pequena da
venda de livros na China. Segundo a revista "The Economist", o
faturamento de dangdang.com
foi de US$ 4,2 milhões no ano passado, cifra que Peggy prefere não
comentar. No total, o mercado
editorial chinês movimentou US$
5,2 bilhões no mesmo período.
120 milhões on-line
Mas as perspectivas de crescimento das vendas pela internet
são promissoras. Segundo a China Internet Network Centre, o
país tem hoje 68 milhões de pessoas plugadas na rede, número
inferior apenas ao dos Estados
Unidos, onde há uma população
"virtual" de 165 milhões. No Brasil, o número é de 7,5 milhões de
usuários. A estimativa oficial é
que o universo de internautas suba em 2004 para 120 milhões, o
equivalente a cerca de 70% de toda a população brasileira e 100
milhões a mais do que a própria
China tinha em 2001.
O comércio on-line ainda enfrenta limitações operacionais
(leia entrevista abaixo), mas seu
crescimento é expressivo. A empresa de pesquisa e consultoria
BDA, especializada em telecomunicações e tecnologia, estima que
os negócios na internet movimentarão cerca de US$ 5 bilhões
na China no próximo ano, um
crescimento de 18.400% em relação aos US$ 27 milhões de 2000.
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