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LUÍS NASSIF
A inércia do sucesso
Do que se ouve no centro
do poder, em Brasília, é
possível tirar as seguintes conclusões.
O governo Lula vive seu melhor e seu pior momento. A recuperação da economia permitiu, pela primeira vez, juntar uma base ampla de apoio
ao governo. Mas tudo isso poderá ir por água abaixo, a depender da decisão do Copom
(Comitê de Política Monetária) de aumentar a taxa básica de juros (Selic) e manter o
real apreciado.
Não existe nenhuma hipótese de mudança na política econômica que não passe pelo ministro da Fazenda, Antonio
Palocci Filho. A cabeça de Lula é típica de um trabalhador
classe média de São Paulo:
abomina qualquer forma de
risco. Essa posição favorece a
inércia da política econômica.
Mesmo em setores do governo contrários à ortodoxia econômica, há enorme temor das
conseqüências de uma redução brusca dos juros. A visão
dominante é que hoje em dia a
opinião pública é composta
por 40 milhões de pessoas. Há
uma sociedade complexa, que
não aceita medidas goela
abaixo. Qualquer sinal mal
dado, por parte do governo,
provoca um terremoto.
O exemplo mencionado foi o
do Conselho Federal do Jornalismo. O tema não era para ter
passado por Lula. Alguém,
dentro do Palácio, queimou
etapas, levou Lula ao engano,
e o que se observou foi um terremoto. O que não poderia
ocorrer se houvesse alguma sinalização errada nos juros?
O núcleo não-ortodoxo tentou negociar uma alternativa
com Palocci: aumentar para
5,25% o superávit fiscal (que
já está em 4,75%) para combater alguma eventual pressão de demanda, mas não mexer nos juros e não permitir
que o câmbio continue caindo. Em janeiro, o saldo fiscal
seria utilizado para investimentos em infra-estrutura. A
proposta foi rechaçada. A
questão da inflação tornou-se
idéia fixa na Fazenda e no
Banco Central, mas com tal
intensidade que surpreendeu
até o próprio núcleo duro do
governo.
Nas conversas com empresários e economistas não-ortodoxos, esses interlocutores têm
ouvido alertas graves sobre o
risco do câmbio abaixo de R$
3,00 ou de a elevação dos juros
precipitar mais uma onda de
stop-and-go. Mas a impressão
que passam é de absoluta impotência para conter a ortodoxia do BC.
O ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, tem alertado
Lula para os efeitos danosos
de uma nova rodada de elevação de juros. Nas reuniões do
Conselho de Desenvolvimento
Econômico e Social, o ministro
da Agricultura, Roberto Rodrigues, previu que, com a
queda dos preços dos commodities e a queda do dólar, daqui a dois anos poderá explodir um festival de inadimplência no campo.
Nos últimos dias, Lula anda
completamente irritadiço, denotando a preocupação com a
próxima reunião do Copom.
Mas nada indica que a decisão de aumentar os juros e
manter o câmbio apreciado
seja revertida. Talvez os últimos indicadores de inflação
ajudem.
Mas o governo está entorpecido pelo sucesso atual e paralisado pelo medo do futuro.
Algo similar ao que ocorreu
com o governo Fernando Henrique Cardoso.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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