São Paulo, quinta-feira, 14 de outubro de 2004

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TRABALHO

Paralisação por aumento real de salários completa hoje 30 dias; tribunal decidirá sobre o impasse na próxima semana

Sem acordo no TST, greve dos bancários vai agora a julgamento

JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Os bancários, a direção da Caixa Econômica Federal e a do Banco do Brasil não chegaram a um acordo ontem na audiência de conciliação realizada no TST (Tribunal Superior do Trabalho) sobre a campanha salarial da categoria. A greve dos bancários completa hoje 30 dias e não afeta o setor privado, segundo representantes dos bancos.
Diante do impasse, o dissídio coletivo solicitado pelos trabalhadores -pela Contec (Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Empresas de Crédito)- irá a julgamento na próxima semana. "Novamente, infelizmente não chegamos a um resultado positivo", afirmou o presidente do TST, ministro Vantuil Abdala, que mediou a audiência de conciliação.
O presidente do tribunal fez um apelo informal para que os bancários retornem ao trabalho enquanto aguardam o julgamento. "A sociedade está exausta com a greve. Não há mais sentido, já que a causa foi entregue à Justiça. A situação de afastamento só causa mais dificuldade na composição."
Segundo o presidente da Contec, Lourenço Prado, a volta ou não ao trabalho seria decidida em assembléias ainda ontem. "Eu acho que de todo não seria inadequado [encerrar a greve]", afirmou o sindicalista.
O dissídio coletivo dos dois bancos federais foi pedido ao TST pela Contec na segunda-feira. Pela legislação sindical, a entidade é que tem a prerrogativa de ajuizar dissídios diretamente no tribunal superior, apesar de representar 5% dos trabalhadores do setor.
A CNB-CUT (Confederação Nacional dos Bancários) informa representar 90% da categoria no país -são 400 mil bancários. "Ainda acreditamos que possa haver um acordo negociado entre trabalhadores e bancos, antes de o tribunal julgar essa greve. Se houver julgamento, podemos ser prejudicados, e o TST pode até retirar outros direitos já conquistados anteriormente", disse Luiz Cláudio Marcolino, presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo (ligado à CNB-CUT).
Em São Paulo, cerca de 800 bancários decidiram em assembléia aprovar a continuidade da greve. Hoje, eles fazem um "abraço simbólico" no prédio do Banco do Brasil na região central da cidade.

Proposta alternativa
O presidente do TST já havia intermediado informalmente a retomada das negociações entre os bancos e os bancários. A tentativa fracassou. Na audiência de ontem, o ministro Abdala chegou a formular uma proposta alternativa, mas a sugestão não foi aceita pelas partes.
A proposta garantia o que já foi negociado entre a Fenaban (Federação Nacional dos Bancos) e os bancários -reajuste de 8,5% a 12,77%, além de outros pontos- mais um abono de R$ 1.000 para todos os funcionários do Banco do Brasil e da Caixa e a compensação dos dias parados.
Os trabalhadores aceitaram a sugestão desde que houvesse aumento de um ponto percentual no índice de reajuste e anistia dos dias parados. Os bancos recusaram a proposta. O BB propôs apenas um adiantamento de R$ 500 da participação nos lucros e resultados a ser pago em 2005.
Como não houve acordo, Abdala nomeou o ministro Antônio Barros Levenhagen como relator dos dois casos e marcou o julgamento para quinta-feira da próxima semana. Na sessão, o dissídio coletivo será decidido por nove ministros do TST. De acordo com Abdala, essa decisão poderá adotar como "guia" a proposta já acertada pelas partes. "O tribunal não é obrigado a se submeter a esses índices. Mas os valores anteriores podem servir como um guia", disse. O Ministério Público do Trabalho emitirá um parecer sobre o caso antes do julgamento.
"Lamento a incapacidade dos representantes de sindicatos e patrões para resolver sem a intervenção do Estado os seus problemas", disse o vice-procurador-geral do Trabalho, Otávio Brito Lopes, que participou das reuniões entre bancos e empregados.


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