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GUERRA VERDE
Empresa envia correspondência a importadores na qual classifica de "pirata" produto que não paga royalties
Monsanto ameaça exportadores de soja
LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE
A Monsanto confirmou ontem
que enviou em junho correspondência a importadores estrangeiros alertando para o que define
como "pirataria" dos produtores
brasileiros de soja transgênica
que não pagam royalties pelo uso
da tecnologia Roundup Ready,
por ela patenteada.
A Agência Folha apurou que a
empresa deverá adotar a mesma
estratégia no futuro. A Monsanto
divulgou nota ontem na qual afirma que ainda negocia com os
agricultores brasileiros o pagamento de licença pelo uso da soja
geneticamente modificada. Por
isso, seria precipitado discutir a
posição que adotará caso não cheguem a um acordo.
Como as negociações estão em
andamento e o governo federal as
apóia, a multinacional evita dar
declarações públicas que podem
ser consideradas inoportunas.
Anteontem, o gerente de assuntos corporativos da Monsanto,
Alfredo Miguel Neto, teria ameaçado prejudicar as exportações de
soja transgênica do Brasil, caso a
empresa não receba royalties.
Segundo a Fetag (Federação dos
Trabalhadores na Agricultura do
Rio Grande do Sul), a ameaça foi
feita em reunião fechada entre
Miguel Neto e representantes da
entidade para discutir a forma de
cobrança dos royalties.
Medida provisória
A Câmara dos Deputados aprovou anteontem a medida provisória que autoriza plantio e comercialização de soja transgênica na
safra atual. O texto dificulta a cobrança de royalties, ao proibir que
ela incida sobre os grãos que serão
colhidos, como pretendia a Monsanto. A cobrança deve ser feita
sobre as sementes, que já estão
nas mãos dos produtores.
Fiscais do Ministério da Agricultura no Rio Grande do Sul encontraram ontem sementes
transgênicas em empresas produtoras, as sementeiras, que têm autorização para produzir semente
convencional.
O fato foi considerado "grave"
pelo delegado regional da Agricultura, Francisco Signor.
Não houve exatamente uma
apreensão, porque as amostras
têm quantidades insignificantes.
A comercialização dos estoques
das sementes referentes às amostragens utilizadas nas análises,
porém, será suspensa.
Os exames foram realizados na
segunda quinzena de setembro,
em uma ação de fiscalização nas
UBS (Unidades de Beneficiamento de Sementes).
Foram fiscalizadas 23 empresas
e coletadas 47 amostras de sementes de soja, sendo que mais de
uma amostra foi coletada por empresa. Dessas, 17 amostras deram
resultado positivo para teste de
transgenia. Ficou constatada irregularidade em 10 empresas de beneficiamento de semente de soja.
Os nomes das empresas e seus
municípios (todas elas são do Rio
Grande do Sul) não foram divulgados pela delegacia, que, de
acordo com o delegado, recorrerá
ao Ministério Público contra elas.
"O fato mais grave é que se encontrou organismo geneticamente modificado quando essas empresas estão autorizadas a produzir apenas sementes convencionais. O nível de confiabilidade fica
abalado", afirmou o delegado.
As amostras colhidas foram
analisadas no laboratório biotransgenia da Universidade Federal de Pelotas, onde ainda se encontram outras 30 amostras de
semente e farelo de soja, recolhidas pelos fiscais em UBS diferentes das mencionadas acima, cujo
resultado das análises deverá ser
divulgado.
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