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Bancada ruralista define ofensiva no Congresso
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Após constatarem a fragilidade
das forças antitransgênicos na votação de uma MP (medida provisória) anteontem na Câmara, a
bancada ruralista e setores da base de sustentação do governo Lula
definiram pauta de mudanças no
projeto de lei de biossegurança,
que vai regular de forma definitiva o uso desses produtos no país.
Os defensores dos transgênicos
no Congresso desejam alterar a
estrutura do conselho de 12 ministros criado para autorizar o
plantio e a comercialização desse
tipo de alimento. A idéia é dar
mais agilidade à liberação.
As bancadas pró-transgêncios
também querem acabar com o
poder de veto do Ministério do
Meio Ambiente em relação à
CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança) e taxar
parte dos royalties que a multinacional Monsanto cobrará pelo
plantio da semente de soja geneticamente modificada.
As duas primeiras mudanças, se
concretizadas, eliminarão as principais conquistas que a ministra
Marina Silva (Meio Ambiente) e
as entidades ambientalistas obtiveram na discussão do governo
para enviar ao Congresso um projeto de biossegurança.
A terceira mudança (taxar parte
dos royalties da Monsanto) serviria para a criação de um fundo
destinado a financiar pesquisas
da Embrapa para o desenvolvimento de sementes transgênicas
com tecnologia nacional, de soja e
de outros alimentos.
O que levou o lobby ruralista e
setores da base do governo favoráveis à maior facilidade para o
cultivo de transgênicos foi o resultado da votação de anteontem da
medida provisória que autoriza o
plantio e comércio de soja transgênica na safra 2003/2004. Nessa
votação, menos de 50 parlamentares, do PT e de outros partidos,
encaminharam declaração de voto contrária à MP.
Os contrários à MP entendem
que ela é benéfica demais ao cultivo de soja transgênica e são favoráveis às restrições que a ministra
Marina conquistou no embate
com o colega Roberto Rodrigues
(Agricultura) na definição do
projeto de biossegurança enviado
à Câmara.
Na avaliação dos ruralistas e de
setores da base aliada favoráveis a
mudanças no projeto, os ambientalistas mostraram pequena força
na votação da MP. Apenas uma
intervenção dura do governo para
bancar o projeto, o que não está
nos planos do Palácio do Planalto,
poderá impedir mudanças significativas que desagradem os ambientalistas.
Ciente das pressões, o Planalto
indicou o próprio líder do governo na Câmara, Aldo Rebelo (PC
do B-SP), para tentar conciliar interesses dos ambientalistas e dos
ruralistas. Rebelo é tido como
bom negociador e foi escolhido
para evitar conflagração na base
do governo.
Há um racha no PT, partido
com 93 deputados, e também em
outros partidos da base aliada.
Sempre identificada com partidos
de direita, a bancada ruralista hoje tem a simpatizantes em legendas de centro-esquerda que
apóiam o governo e até mesmo
no próprio PT.
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