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LUÍS NASSIF
O feito diplomático de Lula
São precipitadas as críticas contra a suposta moderação excessiva de Luiz Inácio
Lula da Silva no encontro com o
presidente norte-americano,
George W. Bush. Pretendia-se
que Lula saísse do encontro tecendo críticas contra o unilateralismo das decisões diplomáticas norte-americanas. Calma!
Há o momento da cortesia e o do
enfrentamento. E o enfrentamento tem que ocorrer em torno
de questões objetivas, não de retórica de palanque.
A diplomacia é constituída de
gestos e de posições. Por gestos,
entenda-se o método diplomático, a escolha das palavras. Por
atitudes, as posições em torno de
problemas concretos. O que sempre importa é a solução de problemas. Assim como a guerra, a
retórica é extensão da política,
quando ocorre o impasse em negociações.
Acontece que, por trás de interesses de países, existem suscetibilidades pessoais de negociadores, sejam diplomatas ou presidentes da República. Quando a
frente das relações pessoais está
apaziguada, fortalece-se a posição negociadora no campo das
decisões. Por isso mesmo, a postura do bom negociador é ser o
mais civilizado possível no campo do relacionamento e o mais
duro no da negociação.
A visita de Lula a Bush se
constituiu em um notável feito
diplomático. A diplomacia é
constituída de simbologias, de
sinais que ajudam a fortalecer
ou enfraquecer a posição das
partes nos fóruns internacionais.
Lula foi recebido na Casa
Branca, conversou com Bush em
seu gabinete, permaneceu mais
tempo do que o previsto na
agenda, e o presidente norte-americano se deixou fotografar
ao seu lado na própria sala. Fez
mais que isso. Reafirmou a posição brasileira de defender com
unhas e dentes nossos interesses.
Depois, assegurou que os acordos firmados serão cumpridos.
Enfim, uma aula de diplomacia
política surpreendente, em um
setor no qual ninguém imaginava que, ainda mais depois de
Fernando Henrique Cardoso,
haveria um sucessor capaz de se
firmar internacionalmente.
Imagine o que ocorreria com a
visita de Lula, com sua imagem
e a do Brasil se, na saída do encontro, ele desandasse a fazer
críticas contra a diplomacia comercial norte-americana. Ora,
as críticas devem ser feitas, sim,
mas no momento e na hora adequados, quando começarem os
embates comerciais para valer.
Um gesto retórico no momento
do encontro significaria descortesia, falta de amadurecimento,
e enfraqueceria a posição brasileira na hora em que, efetivamente, precisar endurecer o jogo, na defesa de interesses concretos brasileiros.
Haverá muito a criticar no futuro governo Lula. A possibilidade de crítica é e continuará
sendo o grande fator de controle
dos sucessivos governos nacionais. Mas, se antes das eleições o
que se temia era a falta de amadurecimento de Lula, o voluntarismo e o radicalismo do PT,
não há razão para criticar o fato
de Lula ter se comportado como
um chefe de Estado.
O pior serviço que se poderia
fazer ao país, neste momento,
seria cobrar de Lula e o PT a
postura que tinham enquanto
oposição. Deve-se criticar o excesso de cautela, quando houver, o excesso de conservadorismo, quando ocorrer, ou as loucuras, se aparecerem. Mas não
se pode criticar uma estratégia
diplomática por ter prescindido
de arroubos retóricos sem razão
de ser, naquela hora e local.
E-mail - LNassif@uol.com.br
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