São Paulo, sábado, 14 de dezembro de 2002

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VIZINHOS EM CRISE

País será punido e perde novos desembolsos; FMI adia liberação para o Uruguai, que não conteve crise

Argentina confirma que não pagará Bird

MARCELO BILLI
DE BUENOS AIRES

A Argentina decidiu ontem dar o calote definitivo em uma dívida de US$ 726 milhões com o Bird (Banco Mundial). Ontem, o governo argentino também adiantou que não pagará um título de US$ 252 milhões que foi emitido com garantia do organismo.
Com a decisão, o país praticamente abre mão de empréstimos de cerca de US$ 1,8 bilhão que seriam desembolsados pelo Banco Mundial e que, a partir de agora, ficam suspensos. A maioria dos empréstimos financiaria programas sociais e de infra-estrutura em várias Províncias do país. O governo argumenta que não haverá risco de diminuição dos programas sociais porque, em 2003, o país pagaria ao Banco Mundial mais do que receberia.
A posição do ministro da Economia, Roberto Lavagna, não mudou: o país só pagará quando chegar a um acordo com o FMI.
Ontem, o chefe do Gabinete de Ministros, Alfredo Atanasof, confirmou pela manhã a decisão do governo. Atanasof aproveitou também para responder às criticas do diretor-gerente do Fundo, Horst Köhler, que afirmara no dia anterior que a responsabilidade pelas crises tem que ser assumida pelos países.
"Não estamos dizendo que a culpa de nossos males é do Fundo, seria uma loucura. Mas a burocracia do FMI também apoiou as políticas que nos levaram a esta situação", disse.
Com a decisão, o governo argentino adota uma posição mais dura em relação ao Fundo, depois de quase um ano de negociações infrutíferas.
No FMI, as posições não mudaram. Anteontem, os técnicos do Fundo anunciaram que adiariam o desembolso de US$ 380 milhões ao Uruguai, porque o país não teria adotado políticas adequadas para resolver a crise financeira. O desembolso faz parte do pacote de US$ 2,8 bilhões que o Fundo aprovou em agosto do ano passado, quando o país entrou em colapso, atingido pelas crises argentina e brasileira. Na Argentina, o adiamento foi interpretado como um sinal de que o organismo não pretende mudar a política de ajuda para países em crise.
Também ontem, o secretário-assistente do Tesouro norte-americano, Randal Quarles, deu um sinal de que um acordo da Argentina com o FMI ainda é uma possibilidade remota. "A experiência nos mostra que programas de ajuda que carecem de um forte compromisso por parte dos líderes de um país provavelmente vão fracassar", disse.


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