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FORA DO FUNDO
Pagamento de US$ 15,5 bi será antecipado em 2 anos; para BC, decisão se deve a "melhora dos fundamentos econômicos"
Governo decide quitar toda a dívida com o FMI
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo brasileiro decidiu antecipar em dois anos o pagamento
de toda a sua dívida com o Fundo
Monetário Internacional. Até o final do mês, deverão ser pagos todos os US$ 15,5 bilhões que, originalmente, seriam quitados em várias parcelas até 2007.
Com a medida, o governo poderá começar 2006 -ano de eleição,
quando Lula deve tentar se reeleger- dizendo que, pela primeira
vez em oito anos, o Brasil estará livre de obrigações com o Fundo.
O país é devedor do FMI desde o
final de 1998, no primeiro mandato de FHC, época em que se agravava a crise que culminaria na
maxidesvalorização do real, em
1999. O tucano recorreu ao Fundo
três vezes -a última delas no final de 2002, com o aval do então
presidente eleito Lula. O petista,
uma vez, quando renovou o acordo com o Fundo em 2003.
Uma pista sobre o discurso a ser
adotado pelo governo no ano que
vem foi dada em um comentário
do presidente do Banco Central,
Henrique Meirelles, sobre o assunto. Por meio de sua assessoria,
ele classificou a quitação antecipada da dívida como "um momento histórico para o país". A
medida reflete, ainda segundo
Meirelles, "a melhora significativa
dos fundamentos macroeconômicos no período recente, como
conseqüência das decisões de política econômica do governo".
A política econômica tem sido
alvo de críticas -vindas de dentro e fora do governo. O pagamento antecipado da dívida com
o FMI é mais uma arma do BC e
do Ministério da Fazenda para rebater essas reclamações.
Ao informar a decisão, nota divulgada ontem pela Fazenda ressalta que o presidente Lula "acolheu" proposta da Fazenda e do
Banco Central "no sentido de antecipar" os pagamentos ao FMI.
Como o BC tem autonomia para administrar as operações com
o FMI, em tese não seria necessária a aprovação de Lula -a menção é uma tentativa de mostrar o
apoio que o presidente estaria
dando à política econômica.
Não é a primeira vez que o país
antecipa o pagamento de sua dívida com o FMI. Em julho deste
ano, US$ 5,1 bilhões já haviam sido quitados com antecedência.
Estima-se que, ao quitar toda a
dívida com o FMI antecipadamente, o Brasil vá economizar
cerca de US$ 900 milhões que seriam gastos com juros até a quitação do empréstimo.
A decisão está ligada aos bons
resultados das contas externas do
Brasil, principalmente da balança
comercial. O grande volume de
dólares que entra tem possibilitado ao BC comprar moeda no
mercado e, assim, reforçar as reservas internacionais, de onde sai
o dinheiro para quitar os compromissos com o FMI. Impulsionadas pelas compras, as reservas
cresceram US$ 11,3 bilhões entre
janeiro e novembro e chegaram
anteontem a US$ 67 bilhões. Com
o pagamento ao FMI, as reservas
ficarão em US$ 51,5 bilhões.
O comunicado da Fazenda diz
que o pagamento "não altera o
bom relacionamento" com o
Fundo e que continuarão "desenvolvendo projetos conjuntos".
Segundo dados do BC, a dívida
externa do Brasil em agosto somava US$ 181,62 bilhões. O setor
público, com US$ 102,42 bilhões,
é responsável pela maior parcela.
A dívida interna do governo federal, conforme dados de outubro,
estava em R$ 937,34 bilhões.
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