São Paulo, quarta-feira, 14 de dezembro de 2005

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FORA DO FUNDO

Pagamento de US$ 15,5 bi será antecipado em 2 anos; para BC, decisão se deve a "melhora dos fundamentos econômicos"

Governo decide quitar toda a dívida com o FMI

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo brasileiro decidiu antecipar em dois anos o pagamento de toda a sua dívida com o Fundo Monetário Internacional. Até o final do mês, deverão ser pagos todos os US$ 15,5 bilhões que, originalmente, seriam quitados em várias parcelas até 2007.
Com a medida, o governo poderá começar 2006 -ano de eleição, quando Lula deve tentar se reeleger- dizendo que, pela primeira vez em oito anos, o Brasil estará livre de obrigações com o Fundo.
O país é devedor do FMI desde o final de 1998, no primeiro mandato de FHC, época em que se agravava a crise que culminaria na maxidesvalorização do real, em 1999. O tucano recorreu ao Fundo três vezes -a última delas no final de 2002, com o aval do então presidente eleito Lula. O petista, uma vez, quando renovou o acordo com o Fundo em 2003.
Uma pista sobre o discurso a ser adotado pelo governo no ano que vem foi dada em um comentário do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, sobre o assunto. Por meio de sua assessoria, ele classificou a quitação antecipada da dívida como "um momento histórico para o país". A medida reflete, ainda segundo Meirelles, "a melhora significativa dos fundamentos macroeconômicos no período recente, como conseqüência das decisões de política econômica do governo".
A política econômica tem sido alvo de críticas -vindas de dentro e fora do governo. O pagamento antecipado da dívida com o FMI é mais uma arma do BC e do Ministério da Fazenda para rebater essas reclamações.
Ao informar a decisão, nota divulgada ontem pela Fazenda ressalta que o presidente Lula "acolheu" proposta da Fazenda e do Banco Central "no sentido de antecipar" os pagamentos ao FMI.
Como o BC tem autonomia para administrar as operações com o FMI, em tese não seria necessária a aprovação de Lula -a menção é uma tentativa de mostrar o apoio que o presidente estaria dando à política econômica.
Não é a primeira vez que o país antecipa o pagamento de sua dívida com o FMI. Em julho deste ano, US$ 5,1 bilhões já haviam sido quitados com antecedência.
Estima-se que, ao quitar toda a dívida com o FMI antecipadamente, o Brasil vá economizar cerca de US$ 900 milhões que seriam gastos com juros até a quitação do empréstimo.
A decisão está ligada aos bons resultados das contas externas do Brasil, principalmente da balança comercial. O grande volume de dólares que entra tem possibilitado ao BC comprar moeda no mercado e, assim, reforçar as reservas internacionais, de onde sai o dinheiro para quitar os compromissos com o FMI. Impulsionadas pelas compras, as reservas cresceram US$ 11,3 bilhões entre janeiro e novembro e chegaram anteontem a US$ 67 bilhões. Com o pagamento ao FMI, as reservas ficarão em US$ 51,5 bilhões.
O comunicado da Fazenda diz que o pagamento "não altera o bom relacionamento" com o Fundo e que continuarão "desenvolvendo projetos conjuntos".
Segundo dados do BC, a dívida externa do Brasil em agosto somava US$ 181,62 bilhões. O setor público, com US$ 102,42 bilhões, é responsável pela maior parcela. A dívida interna do governo federal, conforme dados de outubro, estava em R$ 937,34 bilhões.


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