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FORA DO FUNDO
Quitação de dívida pode acelerar melhora da avaliação do Brasil por agências de risco antes do fim do governo Lula
Sem FMI, país tenta "grau de investimento"
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A decisão de quitar antecipadamente a dívida que ainda restava
após o fim do acordo com o FMI
será útil para a equipe econômica
minimizar o custo fiscal das intervenções do Banco Central no
mercado de câmbio. Além disso,
com o pagamento, o governo brasileiro retira mais um obstáculo
do caminho para a melhora da
classificação do país pelas agências internacionais que avaliam o
risco das economias.
O sonho da equipe econômica
era conseguir elevar o Brasil ao nível de investimento -nota que
representa, na prática, menor
custo para tomar empréstimos e
um universo maior de potenciais
investidores- antes do final do
governo Lula.
O Brasil, no entanto, ainda está
dois degraus abaixo desse nível
desejado, e a expectativa no mercado financeiro é que a próxima
reavaliação da nota atribuída ao
país ocorra apenas no final de
2006. Ficaria faltando subir mais
um degrau da escala para alcançar o nível desejado, conhecido
como "investiment grade".
Para Nuno Câmara, economista
do Dresdner Bank em Nova York,
o anúncio de ontem não será "o
fator decisivo" para uma reavaliação da nota brasileira, mas, "com
certeza, no conjunto de fatores,
pode ajudar para que ela venha
antes das eleições".
Mesmo que essa conquista demore mais, no curto prazo, a
equipe econômica terá um ganho
considerável ao minimizar o custo que o governo tem para manter
reservas internacionais num nível
tão elevado (US$ 67 bilhões),
além de economizar US$ 900 milhões em pagamento de juros.
Os sucessivos recordes de exportação provocam um forte ingresso de dólares no país. Com isso, a cotação da moeda norte-americana diante do real cai. O
Tesouro Nacional vem adquirindo dólares diretamente no mercado financeiro para quitar seus
compromissos no exterior.
Com isso, ajuda a reduzir um
pouco esse excesso de dólares.
Mas não é suficiente. Por isso, o
Banco Central intervém comprando diretamente a moeda estrangeira no mercado. O dinheiro
engorda as reservas internacionais, uma espécie de poupança
pública que serve para mostrar
que o governo tem condições de
quitar os pagamentos externos
mesmo em momentos de crise.
O problema é que, ao comprar
os dólares, o BC aumenta a quantidade de reais em circulação no
mercado, e isso puxa a taxa de juros para baixo. Para que os juros
se mantenham no patamar fixado
pelo BC, é necessário vender títulos, reduzindo o volume de reais,
e isso tem um custo para o país.
Além disso, mesmo aplicando
as reservas internacionais no exterior, o ganho obtido não cobre
as despesas que a administração
de uma poupança tão elevada gera. "Foi um desdobramento natural da avaliação do custo de oportunidade", disse o secretário de
Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda, Luiz Pereira.
"As linhas do FMI são caras, e
há um custo para administrar reservas. Se o Brasil tem dinheiro
sobrando, é um bom uso quitar
essas dívidas. É cálculo do custo-benefício", avalia Otaviano Canuto, representante do governo brasileiro no Banco Mundial.
O representante do FMI no Brasil, Max Alberto Alier, afirma que,
com o pagamento, agências internacionais de risco terão um argumento a menos contra a melhora
da classificação do Brasil. Segundo ele, o governo está fazendo como qualquer empresa que aproveita a baixa do dólar para quitar
suas dívidas lá fora. "Isso é gerenciamento de ativos e passivos."
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