São Paulo, quarta-feira, 14 de dezembro de 2005

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FORA DO FUNDO

Quitação de dívida pode acelerar melhora da avaliação do Brasil por agências de risco antes do fim do governo Lula

Sem FMI, país tenta "grau de investimento"

SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A decisão de quitar antecipadamente a dívida que ainda restava após o fim do acordo com o FMI será útil para a equipe econômica minimizar o custo fiscal das intervenções do Banco Central no mercado de câmbio. Além disso, com o pagamento, o governo brasileiro retira mais um obstáculo do caminho para a melhora da classificação do país pelas agências internacionais que avaliam o risco das economias.
O sonho da equipe econômica era conseguir elevar o Brasil ao nível de investimento -nota que representa, na prática, menor custo para tomar empréstimos e um universo maior de potenciais investidores- antes do final do governo Lula.
O Brasil, no entanto, ainda está dois degraus abaixo desse nível desejado, e a expectativa no mercado financeiro é que a próxima reavaliação da nota atribuída ao país ocorra apenas no final de 2006. Ficaria faltando subir mais um degrau da escala para alcançar o nível desejado, conhecido como "investiment grade".
Para Nuno Câmara, economista do Dresdner Bank em Nova York, o anúncio de ontem não será "o fator decisivo" para uma reavaliação da nota brasileira, mas, "com certeza, no conjunto de fatores, pode ajudar para que ela venha antes das eleições".
Mesmo que essa conquista demore mais, no curto prazo, a equipe econômica terá um ganho considerável ao minimizar o custo que o governo tem para manter reservas internacionais num nível tão elevado (US$ 67 bilhões), além de economizar US$ 900 milhões em pagamento de juros.
Os sucessivos recordes de exportação provocam um forte ingresso de dólares no país. Com isso, a cotação da moeda norte-americana diante do real cai. O Tesouro Nacional vem adquirindo dólares diretamente no mercado financeiro para quitar seus compromissos no exterior.
Com isso, ajuda a reduzir um pouco esse excesso de dólares. Mas não é suficiente. Por isso, o Banco Central intervém comprando diretamente a moeda estrangeira no mercado. O dinheiro engorda as reservas internacionais, uma espécie de poupança pública que serve para mostrar que o governo tem condições de quitar os pagamentos externos mesmo em momentos de crise.
O problema é que, ao comprar os dólares, o BC aumenta a quantidade de reais em circulação no mercado, e isso puxa a taxa de juros para baixo. Para que os juros se mantenham no patamar fixado pelo BC, é necessário vender títulos, reduzindo o volume de reais, e isso tem um custo para o país.
Além disso, mesmo aplicando as reservas internacionais no exterior, o ganho obtido não cobre as despesas que a administração de uma poupança tão elevada gera. "Foi um desdobramento natural da avaliação do custo de oportunidade", disse o secretário de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda, Luiz Pereira.
"As linhas do FMI são caras, e há um custo para administrar reservas. Se o Brasil tem dinheiro sobrando, é um bom uso quitar essas dívidas. É cálculo do custo-benefício", avalia Otaviano Canuto, representante do governo brasileiro no Banco Mundial.
O representante do FMI no Brasil, Max Alberto Alier, afirma que, com o pagamento, agências internacionais de risco terão um argumento a menos contra a melhora da classificação do Brasil. Segundo ele, o governo está fazendo como qualquer empresa que aproveita a baixa do dólar para quitar suas dívidas lá fora. "Isso é gerenciamento de ativos e passivos."


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