São Paulo, quarta-feira, 14 de dezembro de 2005

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Analistas elogiam e vêem nova "bandeira eleitoral"

CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL

A decisão do governo de antecipar o pagamento da dívida com o FMI faz todo o sentido do ponto de vista financeiro, mas seu maior impacto é simbólico: o fim do período de sete anos no qual o país esteve sob monitoramento do organismo financeiro internacional, afirmam analistas consultados pela Folha.
Recorrer a empréstimos do Fundo e estabelecer um programa com a entidade é um sinal de vulnerabilidade para qualquer país, que "joga a toalha" quando suas opções de financiamento se esgotam. Na mão oposta, afirmam, abrir mão do socorro do FMI é indício de fortalecimento de uma economia, que seria capaz de enfrentar seus compromissos sem ajuda externa.
É um ótimo discurso para um ano eleitoral, não? "É um ótimo discurso para qualquer ano", responde Sergio Werlang, diretor do Banco Itaú e ex-diretor de Política Econômica do BC (Banco Central). Em sua opinião, o Brasil já tem volume de reservas suficiente para "se livrar" dos compromissos com o Fundo.
"O Brasil não precisa desse colchão financeiro", diz Octavio de Barros, diretor do Bradesco. A antecipação, segundo ele, reduz o serviço futuro da dívida e pode ser um sinal de que o governo irá recomprar no mercado os cerca de US$ 7 bilhões que restam dos títulos "bradies" emitidos nos anos 90 na reestruturação da dívida dos países emergentes.
Renato Raglione, da MS Consult, observa que o pagamento ao Fundo Monetário Internacional é um passo fundamental em direção à conquista do grau de investimento pelo país, um dos principais objetivos da equipe econômica chefiada pelo ministro Antonio Palocci Filho.
Como o grau de investimento é dado em reconhecimento à solidez de uma economia e à sua capacidade de honrar os compromissos que possui, ele é incompatível com o monitoramento do FMI. "É uma grande bandeira eleitoral, resultado da política econômica que vem sendo adotada desde o início do governo", afirma Raglione.
Mas o fim do monitoramento do Fundo não é a única condição para a obtenção do grau de investimento. Outros indicadores relevantes são o tamanho da dívida, que continua grande, e a capacidade de gerar receitas para pagá-la, o que se dá normalmente por meio do crescimento econômico.
Nesse último quesito, a situação do Brasil ainda é frágil. O país cresceu neste ano abaixo da média dos países emergentes, e a perspectiva para 2006 é uma expansão próxima de 3%, considerada insuficiente por analistas.
A Standard & Poor's, uma das maiores agências de classificação de risco do mundo, vê no baixo crescimento um dos grandes problemas no caminho do Brasil em direção ao grau de investimento.
Mas o pagamento ao Fundo é um indício de que os obstáculos começam a ser superados. "É uma decisão emblemática. Não vamos mais ter o Brasil dependente do FMI e vulnerável em seu balanço de pagamentos", afirma Barros, do Bradesco.


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