São Paulo, quarta-feira, 14 de dezembro de 2005

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VAREJO

Cadeia americana adquire lojas e absorve diretor-presidente da rede portuguesa; dinheiro servirá para pagar dívidas

Wal-Mart acerta com Sonae e muda direção

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O acordo de venda do grupo de varejo português Sonae Distribuição à rede norte-americana Wal-Mart foi assinado na manhã de ontem. O anúncio pode acontecer hoje. No acordo, o atual diretor-presidente do Sonae no país, Sergio Maia, ocupará a posição de vice-presidente do Wal-Mart e ficará logo abaixo do presidente da rede no Brasil, Vicente Trius. O diretor administrativo financeiro da rede portuguesa, José Dimas Gonçalves, também será absorvido no processo de aquisição, apurou a Folha.
O mercado esperava que o anúncio fosse feito em novembro, mas existiam detalhes ainda não definidos e que foram acertados nos últimos dias. Os "detalhes" tinham relação direta com o preço do negócio. As partes não entravam em acordo em relação ao volume a ser pago. Belmiro de Azevedo, presidente da cadeia em Portugal, deixou claro durante as negociações que não aceitaria menos de 800 milhões pelas lojas -todas localizadas no Sul do país. Ele chegou até a afirmar que não havia nenhum negócio em evolução meses atrás.
Informações preliminares dão conta de que o último valor proposto pelo Wal-Mart era de 700 milhões (US$ 1,8 bilhão). Mas ainda estava aberto a discussão, apurou a Folha.
A importância do valor está no fato de que o Sonae deve utilizar esse caixa para reduzir o seu endividamento lá fora. Os recursos que entraram vão ajudar a abater uma dívida do Sonae Distribuição no mundo que está exatamente nesse valor - 702 milhões, segundo dado de setembro de 2005.

Insatisfação
A saída do grupo português também reflete a insatisfação da empresa com os ganhos no país, segundo analistas de varejo. A direção admite, em comunicado recente sobre o desempenho de suas vendas, que "o contexto de forte instabilidade política e desaceleração no ritmo de crescimento econômico" no Brasil refletiu num "abrandamento" dos resultados da rede.
A demanda interna enfraquecida, afirma, resultado de juros altos, somada "à expansão de um mercado informal fortemente enraizado, também tem punido o desempenho da empresa", diz comunicado encaminhado pela empresa ao mercado financeiro em Portugal. De janeiro a setembro, as vendas brutas da rede somaram R$ 3,4 bilhões, uma expansão de 12% em relação a 2004.
Procuradas pela Folha, Wal-Mart e Sonae dizem não comentar rumores sobre negociações.
Recentemente, o grupo europeu vendeu ao Carrefour, por 114 milhões (R$ 317 milhões, na época), dez hipermercados na capital paulista, região do ABC e litoral, cujo faturamento atingia R$ 579 milhões ao ano.
Com a venda em junho dessas dez lojas de São Paulo, o número atual de pontos-de-venda, declarado pela empresa portuguesa em sua página na internet, cai para 134 -que equivalem ao total de lojas restantes a serem negociadas para a venda a cadeia norte-americana, portanto.
Com o negócio, o faturamento anual bruto do Wal-Mart deve alcançar no país -com base em dados do ano passado- quase R$ 10 bilhões. O grupo norte-americano continua, no entanto, na terceira colocação no ranking geral do setor supermercadista, atrás de Pão de Açúcar e Carrefour, nessa ordem. É o segundo grande negócio da rede no país e o maior do varejo neste ano. Por US$ 300 milhões (R$ 867 milhões), o Wal-Mart já havia comprado a cadeia nordestina Bompreço, em março de 2004.


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