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PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.
Síndrome de Estocolmo?
Fica a impressão de que o BC prepara-se para reduzir o ritmo de redução dos juros e depois acabar com os cortes
UM LEITOR me enviou há
poucos meses um e-mail
em que dizia: "Quando Lula
foi seqüestrado pelo BankBoston,
ainda havia a desculpa da resistência inviável. O problema é que o
longo cativeiro desenvolveu no
nosso presidente a Síndrome de
Estocolmo (apaixonou-se pelo
Meirelles)".
Será mesmo? A Síndrome de Estocolmo é o estado psicológico em
que o seqüestrado acaba desenvolvendo uma relação afetiva com o
seqüestrador, relação que se
transforma às vezes até mesmo
em cumplicidade, com a vítima
chegando a ajudar o seu captor a
escapar da polícia ou a se defender
na Justiça.
Espero que o leitor esteja equivocado, mas há indícios de que o
presidente da República hesita em
se livrar de Meirelles e cia. É uma
lástima. Basta ler a última ata do
Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central), publicada
na semana passada, para compreender que já passou a hora de
despachar essa turma de volta para casa (ou melhor, para o sistema
financeiro).
Como se sabe, a taxa básica de
juro foi reduzida em apenas 0,5
ponto percentual na última reunião do Copom. Mas a ata registra
que três dos oito integrantes do
comitê preferiam uma diminuição
menor, de 0,25 ponto percentual,
tendo havido "consenso" entre os
oito membros de que "diversos fatores" respaldariam essa decisão
ainda mais conservadora. O Copom avisou, também, que por vários motivos, entre eles a menor
distância entre a atual taxa básica
de juros e a taxa de juro "que deve
vigorar em equilíbrio no médio
prazo", a flexibilização monetária
terá de ser "conduzida com maior
parcimônia" a partir de certo momento.
Ainda mais parcimônia? Fica a
impressão de que o Banco Central,
que já vem sendo lento demais na
diminuição dos juros, agora prepara o terreno para reduzir o ritmo
de corte da taxa básica para, em seguida, interromper o processo de
flexibilização da política monetária. Além disso, pouco ou nada faz
-diga-se de passagem- para diminuir os "spreads" bancários, a
enorme diferença entre as taxas de
juro que as instituições financeiras cobram e aquelas que pagam a
seus depositantes. Para que incomodar os bancos, não é verdade?
O Copom se referiu cripticamente à "taxa de juro de equilíbrio". O que significa isso? Qual seria essa taxa de equilíbrio? O Banco Central não dá pistas.
Mas, se tomarmos o levantamento das expectativas de mercado compilado pelo Banco Central,
a projeção mediana para a taxa básica de juro é 12% no final de 2007.
Admitindo-se uma inflação esperada da ordem de 4%, a taxa real
básica do Brasil ainda seria da ordem de 8% no final do ano que
vem! Um nível muito elevado para
padrões internacionais, uma vez
que a média dos principais países
desenvolvidos e emergentes tem
oscilado entre 1,5% e 2,5% no período recente.
Em termos internacionais, o
Brasil parece estar ficando cada
vez mais para trás, especialmente
quando se compara o nosso desempenho com o dos demais países emergentes. Enquanto o PIB
do Brasil cresce menos do que 3%,
o crescimento médio dos emergentes supera 6%. A China cresce
10%; a Índia, 9%; a Argentina, 8%;
a Rússia, 7%. Até o México, único
dos principais emergentes que vinha ombreando com o Brasil em
termos de crescimento medíocre,
aumentou o seu ritmo para quase
5%.
Não basta, evidentemente, substituir a diretoria do Banco Central.
Como diz um amigo meu, os meirelles e os bevilacquas se reproduzem por cissiparidade. É grande o
risco de simplesmente acabar trocando seis por meia dúzia.
O fundamental é reformar as instituições monetárias, de maneira a
alterar em profundidade o arcabouço em que são tomadas as decisões referentes a juros, câmbio e
crédito no Brasil e torná-las mais
compatíveis com o desenvolvimento da economia.
O meu espaço acabou. Volto ao
assunto, talvez na semana que
vem.
PAULO NOGUEIRA BATISTA JR., 51, economista e professor da FGV-EAESP, escreve às quintas-feiras nesta coluna.
É autor do livro "O Brasil e a Economia Internacional: Recuperação e Defesa da Autonomia Nacional" (Campus/ Elsevier, 2005).
pnbjr@attglobal.net
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