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ARTIGO
Nobel fez síntese da economia moderna
VINICIUS TORRES FREIRE
COLUNISTA DA FOLHA
OS MAIORES economistas da segunda metade
do século 20, os americanos pelo menos, consideram
Paul Samuelson um grande
mentor disso que é hoje a economia moderna, na sua vertente dominante, "mainstream".
Samuelson, é claro, não inventou as ideias básicas do que veio
a ser a economia depois dos
anos 1930. A partir de 1939,
com 25 anos, deu "contribuições fundamentais a praticamente todos os ramos da teoria
econômica", como escreveu
Stanley Fischer. Mas quem inventou isso que se chama hoje
de macroeconomia foi o britânico John Maynard Keynes.
Samuelson foi na verdade um
dos grandes elos da cadeia que
liga as primeiras tentativas de
formalizar o pensamento keynesiano ao que viria a ser a corrente principal do pensamento
econômico. Esse elo foi a chamada "síntese neoclássica".
Nos trabalhos de Samuelson,
o instrumento maior dessa
transformação foi o emprego
de modelos econômicos (explicações esquemáticas da realidade) fundamentados e desenvolvidos por meio de análise
matemática, como em seu
"Fundamentos da Análise Econômica".
Em 1948, Samuelson publicaria "Economia", o livro-texto
("manual") que dominaria o
ensino de macroeconomia, em
nível de graduação, até os anos
1970. Foi a obra que ensinou o
keynesianismo algo mitigado
dos neoclássicos aos estudantes por mais de 30 anos.
O grande livro de Keynes foi
publicado em 1936, quando a
teoria econômica e a economia
mundial estavam em ruínas. A
economia "clássica" não dava
conta de explicar e resolver o
problema do grande e prolongado desemprego de meios de
produção (trabalho e capital).
Era dominante a ideia de que,
num mercado competitivo, os
preços ajustavam oferta e demanda e mantinham e economia próxima de seu nível de
equilíbrio e em pleno emprego.
Com Keynes surgiram as ideias
de que, em casos de crises longas de demanda e emprego, é
preciso que governos estimulem consumo e investimento
de modo a tirar o mercado de
sua catatonia. Entre suas contribuições, Keynes mostrou
que uma queda na demanda
pode produzir uma queda ainda maior, "multiplicada", no
produto, indicou como a política monetária afeta juros e demanda, e enfatizou a importância das expectativas de empresários e consumidores na determinação do consumo e do
investimento. Os neoclássicos
não jogaram no lixo a ideia de
mercados livres, com demanda
e oferta orientadas por preços.
Mas integraram Keynes e os
"clássicos".
Samuelson publicou trabalhos que formalizaram e desenvolveram a ideia de multiplicador de Keynes e do ciclo econômico, elaborou fundamentos
do que viria a ser a teoria de
precificação de ativos (de aplicações financeiras), criou métodos para estudar a transferência de riqueza entre gerações (o que baseou estudos sobre a Previdência Social). Deu
contribuições à teoria do comércio -dizia que o comércio
livre pode fazer perdedores
mesmo em países avançados,
embora fosse a favor do livre
comércio (os benefícios seriam
bastantes até para compensar
os "perdedores").
Ensinou a vida toda no MIT.
Dizem que não foi contratado
em Harvard por causa de antissemitismo, em 1940. Recusou o
cargo de principal assessor econômico de John Kennedy, em
1960, para, dizia, poder escrever e dizer o que lhe desse na telha. Apesar de ter ajudado a
"matematizar" a economia e de
seu rigor, era tido como eclético em teoria e de modo algum
dogmático em questões de política econômica.
"A maioria dos economistas adoraria escrever um
estudo seminal -um trabalho que mudasse
profundamente o modo como as pessoas pensam
sobre algum assunto. Samuelson escreveu dezenas"
PAUL KRUGMAN
prêmio Nobel de Economia
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