São Paulo, segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

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ARTIGO

Nobel fez síntese da economia moderna

VINICIUS TORRES FREIRE
COLUNISTA DA FOLHA

OS MAIORES economistas da segunda metade do século 20, os americanos pelo menos, consideram Paul Samuelson um grande mentor disso que é hoje a economia moderna, na sua vertente dominante, "mainstream". Samuelson, é claro, não inventou as ideias básicas do que veio a ser a economia depois dos anos 1930. A partir de 1939, com 25 anos, deu "contribuições fundamentais a praticamente todos os ramos da teoria econômica", como escreveu Stanley Fischer. Mas quem inventou isso que se chama hoje de macroeconomia foi o britânico John Maynard Keynes. Samuelson foi na verdade um dos grandes elos da cadeia que liga as primeiras tentativas de formalizar o pensamento keynesiano ao que viria a ser a corrente principal do pensamento econômico. Esse elo foi a chamada "síntese neoclássica".
Nos trabalhos de Samuelson, o instrumento maior dessa transformação foi o emprego de modelos econômicos (explicações esquemáticas da realidade) fundamentados e desenvolvidos por meio de análise matemática, como em seu "Fundamentos da Análise Econômica".
Em 1948, Samuelson publicaria "Economia", o livro-texto ("manual") que dominaria o ensino de macroeconomia, em nível de graduação, até os anos 1970. Foi a obra que ensinou o keynesianismo algo mitigado dos neoclássicos aos estudantes por mais de 30 anos.
O grande livro de Keynes foi publicado em 1936, quando a teoria econômica e a economia mundial estavam em ruínas. A economia "clássica" não dava conta de explicar e resolver o problema do grande e prolongado desemprego de meios de produção (trabalho e capital). Era dominante a ideia de que, num mercado competitivo, os preços ajustavam oferta e demanda e mantinham e economia próxima de seu nível de equilíbrio e em pleno emprego. Com Keynes surgiram as ideias de que, em casos de crises longas de demanda e emprego, é preciso que governos estimulem consumo e investimento de modo a tirar o mercado de sua catatonia. Entre suas contribuições, Keynes mostrou que uma queda na demanda pode produzir uma queda ainda maior, "multiplicada", no produto, indicou como a política monetária afeta juros e demanda, e enfatizou a importância das expectativas de empresários e consumidores na determinação do consumo e do investimento. Os neoclássicos não jogaram no lixo a ideia de mercados livres, com demanda e oferta orientadas por preços. Mas integraram Keynes e os "clássicos".
Samuelson publicou trabalhos que formalizaram e desenvolveram a ideia de multiplicador de Keynes e do ciclo econômico, elaborou fundamentos do que viria a ser a teoria de precificação de ativos (de aplicações financeiras), criou métodos para estudar a transferência de riqueza entre gerações (o que baseou estudos sobre a Previdência Social). Deu contribuições à teoria do comércio -dizia que o comércio livre pode fazer perdedores mesmo em países avançados, embora fosse a favor do livre comércio (os benefícios seriam bastantes até para compensar os "perdedores").
Ensinou a vida toda no MIT. Dizem que não foi contratado em Harvard por causa de antissemitismo, em 1940. Recusou o cargo de principal assessor econômico de John Kennedy, em 1960, para, dizia, poder escrever e dizer o que lhe desse na telha. Apesar de ter ajudado a "matematizar" a economia e de seu rigor, era tido como eclético em teoria e de modo algum dogmático em questões de política econômica.

"A maioria dos economistas adoraria escrever um estudo seminal -um trabalho que mudasse profundamente o modo como as pessoas pensam sobre algum assunto. Samuelson escreveu dezenas"
PAUL KRUGMAN
prêmio Nobel de Economia



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