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REFLEXO
O presidente Carlos Menem veio a público garantir que a política de convertibilidade não será tocada
Brasil reacende medo de crise argentina
MAURÍCIO SANTANA DIAS
de Buenos Aires
RICARDO GRINBAUM
da Reportagem Local
A crise econômica no Brasil
reacendeu o medo de que a política cambial argentina também
possa ruir. Nos
últimos dias, o
presidente Carlos Menem e as
principais autoridades econômicas do país vieram a público garantir que a política de convertibilidade (um peso vale um dólar) não será tocada.
"Não mexeremos no plano de
convertibilidade por nada desse
mundo", disse à Folha o secretário
de Política Macroeconômica do
ministério da Economia, Rogelio
Frigerio.
Mesmo com todas as garantias
oficiais, o mercado financeiro está
muito nervoso. O índice Merval,
que mede o preço das ações argentinas, despencou ontem 4,37%. Na
quarta-feira, a bolsa de valores de
Buenos sofreu a maior queda no
mundo.
Sob forte pressão dos investidores, os papéis da dívida externa
também caíram. Os juros pagos
nos títulos externos subiram cerca
de 3%.
A crise brasileira está na manchete dos jornais e na preocupação
com o que os argentinos chamam
de "Brasil-dependência". Cerca de
um terço das exportações argentinas são consumidas pelo Brasil.
O temor é que a desvalorização
do real torne os produtos brasileiros muito baratos. Em contrapartida, as mercadorias argentinas ficariam muito caras para os consumidores brasileiros.
Se houvesse uma queda muito
forte nas exportações argentinas, o
governo poderia ser forçado a desamarrar a política cambial, que
estabelece por lei a paridade entre
o dólar e o peso.
O que mais surpreendeu nos últimos dias os especialistas na economia argentina é que o temor até
agora tem se mostrado exagerado.
"A Argentina vai sofrer uma redução no crescimento econômico
devido à crise brasileira", diz o ex-secretário de Indústria e Comércio
Roberto Lavagna. "Mas é muito
pouco provável que haja mudança
na convertibilidade."
A economia argentina tem se
mostrado mais forte a cada crise
internacional que atravessa. Enquanto a maior parte dos países
emergentes sofreu fuga de capitais
desde a crise da Rússia, em outubro do ano passado, a Argentina
teve até um pequeno acréscimo.
Em outubro de 1998, as reservas
internacionais estavam em US$ 23
bilhões e hoje estão próximas de
US$ 25 bilhões. "Há confiança na
manutenção da política econômica", diz o economista Manuel Solanet, do Instituto Fiel.
Para os especialistas, a política
cambial argentina pode se manter
intacta caso a desvalorização do
real não saia do controle. Se o real
se desvalorizar até 15% em 1999,
como prevê o governo, os argentinos sofreriam diminuição das importações para o Brasil.
"Boa parte da produção, especialmente de trigo e de petróleo,
poderia ser desviada para outros
mercados", acredita Solanet.
O principal problema que a economia argentina tem sofrido até
aqui é no campo financeiro. Com a
crise brasileira, houve nova onda
de descrédito com os países emergentes, incluindo a Argentina, o
que levou ao ataque especulativo
contra os títulos da dívida externa.
"Caso persista o clima de instabilidade financeira, as taxas de juros
devem se manter altas, o que deve
afetar o crescimento da economia
em 1999", diz Juan Cabrera, do
banco Santander na Argentina.
O crescimento da economia ficaria entre 1,5% e 2,0% no ano, desempenho muito melhor do que a
recessão prevista para o Brasil. Isso
se a desvalorização do real não fugisse do controle.
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