São Paulo, sexta, 15 de janeiro de 1999

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INVESTIMENTOS
Bancos apostavam contra a desvalorização da moeda brasileira e foram pegos de surpresa na quarta
Fundos dão prejuízo de até 51% em um dia

VANESSA ADACHI
da Reportagem Local


Fundos de investimentos que apostavam contra uma desvalorização do real deram aos seus cotistas prejuízos de milhões na última quarta-feira, quando o governo mudou o sistema cambial e o real caiu 8,26%. Em alguns casos, a perda foi de 51% em um único dia.
As perdas estão sendo trazidas a público hoje pela Anbid (Associação Nacional dos Bancos de Investimento), que acompanha a variação das cotas dos fundos e fornece o material publicado pelos jornais diariamente.
O mau desempenho dos fundos foi um dos ingredientes do nervosismo que tomou conta do mercado financeiro brasileiro, ontem, aumentando a insegurança e alimentando boatos, como o de que os resgates haviam sido suspensos por alguns bancos.
Os bancos cariocas Boavista, FonteCindam e Marka registraram os piores resultados.
O caso mais extremo é o do fundo Boavista Hedge 60, que caiu 51,02% na quarta-feira. Após a queda, o fundo ficou com um patrimônio de R$ 17,3 milhões, metade do que tinha um dia antes.
Outros dois fundos do Boavista tiveram perdas expressivas. O Boavista Derivativos 60 caiu 29,17%, ficando com patrimônio de R$ 32,9 milhões, e o Boavista Derivativos caiu 23,52%.
O fundo FonteCindam Jaguar, com patrimônio de R$ 63,9 milhões, desabou 29,87%.
Já o FonteCindam Derivativos caiu 14,8%.
Dois fundos do banco Marka também deram grande prejuízo aos seus cotistas.
O Marka Nikko Derivativos Plus caiu 29,88%, ficando com patrimônio após a queda de R$ 58,9 milhões. O Marka Nikko Derivativos recuou 14,46% e seu patrimônio foi a R$ 61,4 milhões.
Perdas menores, mas ainda expressivas, foram registradas por outros fundos.
O Bozano Top Plus caiu 9,86% e o Bozano Portifólio Derivativos baixou 6,95%, ambos são do banco Bozano, Simonsen.
O BBV Bradies caiu 9,5%. O fundo, do banco Bilbao Vizcaya, aplica em títulos da dívida externa renegociada do país.
Procurados pela Folha, nem todos bancos quiseram comentar sobre a performance de seus fundos.

Pega de surpresa
A Marka Nikko Asset Management, administradora de recursos do banco Marka, informou que foi pega de surpresa pela desvalorização pois no curto prazo acreditava na estabilidade do real, prevendo problemas apenas no segundo semestre do ano.
A empresa avalia que as perdas de seus fundos ocorreram na proporção do grau de agressividade de cada um, ficando dentro da média de mercado.
A Marka Nikko também informou que os eventiuais resgates que seus clientes queiram fazer serão totalmente atendidos.

Atraso no resgate
A assessoria de imprensa do FonteCindam informou que os eventuais resgates de seus fundos estão sendo feitos em um prazo de até cinco dias.
Isso porque, ainda segundo a assessoria, o banco encontrou dificuldades em calcular o ajuste da cota de seus fundos, já que os contratos futuros de câmbio na BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros) estão suspensos.
Segundo o banco, os clientes foram devidamente informados e o resgate em até cinco dias não é irregular porque está previsto pelo estatuto dos fundos do banco.



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