São Paulo, sexta, 15 de janeiro de 1999

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"O Brasil não vai aguentar a pressão"

RICARDO GRINBAUM
da Reportagem Local

O economista Ernst Brown, do banco norte-americano Morgan Stanley Dean Witter, previu ontem que o governo brasileiro não vai conseguir manter o novo sistema de câmbio.
"As reservas internacionais brasileiras não são suficientes para aguentar a pressão por maior desvalorização do real", disse à Folha. "Quanto mais rápido o governo deixar a cotação da moeda flutuar menos reservas vai perder."
Em um texto enviado aos clientes do banco, Brown diz que o Brasil está perto de atingir o piso de reservas internacionais dentro dos limites estabelecidos pelo BIS (Banco Internacional de Compensações, espécie de banco central dos bancos centrais).
Nas contas do economista, as reservas só poderiam cair até US$ 29 bilhões para bater na linha prescrita pelo BIS. "Hoje, o Brasil só tem cerca de US$ 4 bilhões em reservas para defender o novo regime cambial antes de bater no limite do BIS", disse Brown.
Responsável pelo acompanhamento da economia latino-americana para o Morgan Stanley, um dos maiores bancos de investimento do mundo, Brown acredita que o real não está excessivamente valorizado. Mesmo assim, deverá haver grande oscilação na cotação do real quando o governo deixar a moeda flutuar.
"É difícil dizer quanto o real está sobrevalorizado, a correção necessária poderia ser de cerca de 10%. O problema é que, numa situação como essa, o mercado vai ultrapassar qualquer expectativa", disse o economista.
Na sua avaliação, a cotação do real deverá oscilar durante meses e os valores deverão variar muito. Para cada ponto percentual de defasagem no câmbio, o valor da moeda deverá variar dois pontos percentuais, ao ritmo das pressões do mercado financeiro.
Brown acredita que o novo sistema de câmbio anunciado essa semana pelo governo tinha como objetivo principal facilitar a queda da taxa de juros. Mas também não há como cumprir esse objetivo. Na avaliação do economista, o governo teria de manter as taxas altas por um longo período para defender a nova política cambial.

Desastre
O economista norte-americano Lawrence Goodman, sócio da consultoria Global Economic Associates, de Nova York, acredita que o governo brasileiro ainda pode defender a nova política cambial.
"Qualquer desvalorização acentuada durante um período de fragilidade econômica leva a um desastre. Foi o que a história mostrou nos dois últimos anos na Tailândia, na Coréia do Sul e na Rússia", disse Goodman.
Ex-economista-chefe do banco Santander nos Estados Unidos, Goodman acha que, mesmo se o governo brasileiro conseguir segurar a nova política cambial, terá alguns meses de dificuldades pela frente.
"O mercado vai se mover de acordo com os sinais de avanço nas reformas econômicas", disse o economista. "As questões básicas continuam sendo votações como a da reforma da Previdência Social e da CPMF."



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.