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"O Brasil não vai aguentar a pressão"
RICARDO GRINBAUM
da Reportagem Local
O economista Ernst Brown, do
banco norte-americano Morgan
Stanley Dean Witter, previu ontem
que o governo brasileiro não vai
conseguir manter o novo sistema
de câmbio.
"As reservas internacionais brasileiras não são suficientes para
aguentar a pressão por maior desvalorização do real", disse à Folha.
"Quanto mais rápido o governo
deixar a cotação da moeda flutuar
menos reservas vai perder."
Em um texto enviado aos clientes
do banco, Brown diz que o Brasil
está perto de atingir o piso de reservas internacionais dentro dos
limites estabelecidos pelo BIS
(Banco Internacional de Compensações, espécie de banco central
dos bancos centrais).
Nas contas do economista, as reservas só poderiam cair até US$ 29
bilhões para bater na linha prescrita pelo BIS. "Hoje, o Brasil só tem
cerca de US$ 4 bilhões em reservas
para defender o novo regime cambial antes de bater no limite do
BIS", disse Brown.
Responsável pelo acompanhamento da economia latino-americana para o Morgan Stanley, um
dos maiores bancos de investimento do mundo, Brown acredita
que o real não está excessivamente
valorizado. Mesmo assim, deverá
haver grande oscilação na cotação
do real quando o governo deixar a
moeda flutuar.
"É difícil dizer quanto o real está
sobrevalorizado, a correção necessária poderia ser de cerca de 10%.
O problema é que, numa situação
como essa, o mercado vai ultrapassar qualquer expectativa", disse o
economista.
Na sua avaliação, a cotação do
real deverá oscilar durante meses e
os valores deverão variar muito.
Para cada ponto percentual de defasagem no câmbio, o valor da
moeda deverá variar dois pontos
percentuais, ao ritmo das pressões
do mercado financeiro.
Brown acredita que o novo sistema de câmbio anunciado essa semana pelo governo tinha como objetivo principal facilitar a queda da
taxa de juros. Mas também não há
como cumprir esse objetivo. Na
avaliação do economista, o governo teria de manter as taxas altas
por um longo período para defender a nova política cambial.
Desastre
O economista norte-americano
Lawrence Goodman, sócio da consultoria Global Economic Associates, de Nova York, acredita que o
governo brasileiro ainda pode defender a nova política cambial.
"Qualquer desvalorização acentuada durante um período de fragilidade econômica leva a um desastre. Foi o que a história mostrou
nos dois últimos anos na Tailândia, na Coréia do Sul e na Rússia",
disse Goodman.
Ex-economista-chefe do banco
Santander nos Estados Unidos,
Goodman acha que, mesmo se o
governo brasileiro conseguir segurar a nova política cambial, terá alguns meses de dificuldades pela
frente.
"O mercado vai se mover de
acordo com os sinais de avanço
nas reformas econômicas", disse o
economista. "As questões básicas
continuam sendo votações como a
da reforma da Previdência Social e
da CPMF."
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