São Paulo, sexta, 15 de janeiro de 1999

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IMPACTO
Aumenta risco na concessão de créditos bancários
Mudança cambial prejudica governo

ANTONIO CARLOS SEIDL
da Reportagem Local

David Thomas, presidente da Câmara Britânica de Comércio e do Lloyds Bank, no Brasil, disse ontem que "a perda da virgindade" da, até então, "intocável" política cambial do Brasil aumentou o risco da concessão de créditos bancários ao país.
"O governo, que jurou que a política cambial não ia mudar, perdeu a credibilidade. Hoje, a palavra de que não vai mudar mais, vale menos do que valia na semana passada."
"Como não existe meia virgindade, a possibilidade de uma nova mudança no regime cambial vai ter mais peso nos cálculos dos agentes econômicos, aumentando o risco Brasil, principalmente no mercado interbancário", afirmou o executivo britânico.
Segundo Thomas, os bancos que atuam no Brasil tiveram ontem muita dificuldade para captar linhas de crédito dos bancos estrangeiros no mercado interbancário.
Thomas acha, porém, que ainda é cedo para uma avaliação final sobre o impacto da nova política cambial na credibilidade da política econômica do país.
Para ele, o resultado pode ser positivo, se o mercado achar que a mexida foi adequada para resolver parte do desequilíbrio nas contas externas.
"Se estimular as exportações, diminuir as importações e dificultar a concorrência de produtos importados no mercado interno, a desvalorização terá um impacto positivo no nível da atividade econômica do país."
"Mas o resultado será negativo, se os investidores interpretarem a mudança como o começo de sucessivas desvalorizações, significando a falência do Real."
Thomas disse que o real não corre o risco de ser alvo de um ataque especulativo. O país, disse, conta com o poder de fogo do acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional).
Thomas é um dos que participam da corrente de opinião segundo a qual o país precisa ter pressa no ajuste fiscal.
"A desvalorização do real pode ajudar a diminuir o desequilíbrio nas contas externas e a reduzir os juros, mas os problemas da fuga de dólares e da escassez de crédito para o país só serão resolvidos por meio da eliminação do déficit estrutural das contas públicas."



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