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TENSÃO PRÉ-COPOM
IPCA recua 0,28 ponto e fecha janeiro a 0,58%, mas analistas acham movimento insuficiente para conter Selic
Inflação cede pouco e alimenta alta dos juros
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
O IPCA (Índice de Preços ao
Consumidor Amplo) cedeu para
0,58% em janeiro -0,28 ponto
percentual menor do que o 0,86%
de dezembro-, mas o resultado
não foi suficiente para alterar as
projeções sobre o rumo da taxa
básica de juros, a Selic.
A expectativa é que o Copom
(Comitê de Política Monetária)
aumente a Selic em 0,5 ponto nesta semana -hoje, está em 18,25%
ao ano. "O IPCA reforça a perspectiva de elevação de meio ponto
neste mês e alerta ainda para a
possibilidade de o BC [Banco
Central] aumentar o juro novamente em março", afirmou o economista Ricardo Denadai, da
consultoria LCA.
No Rio, o presidente do BC,
Henrique Meirelles, disse que é a
inflação que determina os juros:
"O Banco Central tem reagido,
como todo BC do mundo, à questão da dinâmica inflacionária".
Reunido a partir de hoje, o Copom definirá a trajetória da Selic
amanhã, no que poderá ser o sexto aumento consecutivo da taxa
básica da economia. Os juros começaram a subir em setembro,
quando estavam em 16%.
Para Denadai, o IPCA revelou,
em janeiro, que o atual nível de inflação é "incompatível" com a
meta do BC. Fixada em 5,1% para
2005, a meta permite um intervalo de tolerância de dois e meio
pontos percentuais para mais ou
para menos.
Segundo cálculos da LCA, o núcleo de inflação que exclui as altas
e baixas mais significativas e dilui
o impacto das tarifas públicas em
12 meses aponta para uma taxa
anual de 8,2% -3,1 pontos acima
do centro da meta e 0,6 ponto
maior do que seu limite superior.
Esse núcleo, o preferido pelo
Banco Central em suas análises
sobre o comportamento da inflação, ficou em 0,66% em janeiro,
de acordo com a LCA.
Para a Tendências, o resultado
do IPCA também indica uma nova alta da Selic: "O IPCA de janeiro corrobora para uma decisão de
elevar a Selic em meio ponto. Só
uma queda muito expressiva poderia mudar o cenário", disse a
economista Ana Paula Almeida.
Outra prova de que o IPCA resiste em cair é o fato de a taxa acumulada em 12 meses estar "estacionada" num patamar acima de
7% ao ano nos últimos três meses.
O índice de 12 meses fechou janeiro em 7,41%.
Impactos
Em janeiro, o IPCA recuou e ficou dentro das estimativas do
mercado (de 0,55% a 0,60%) em
decorrência especialmente da
queda do preço do álcool (-1,23%)
e da menor variação do da gasolina (0,06%), segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Em dezembro, a gasolina havia aumentado 5,06%.
Apesar da desaceleração, Eulina
Nunes dos Santos, gerente da
Coordenação de Índices de Preços do IBGE, disse que "o índice
se manteve num nível relativamente alto" se comparado com
resultados anteriores.
O motivo, segundo ela, são choques específicos. Citou o do aço,
que se propaga desde o final de
2003. "Há uma persistência desses aumentos de repasse de custo", afirmou.
Na esteira do aumento do aço,
subiram itens como reparos domésticos (1,43%), eletrodomésticos (1,35%) e automóveis novos
(1,27%). Somados, os reajustes
contribuíram com 0,07 ponto
percentual para o IPCA de janeiro. É mais do que o impacto da
energia elétrica, cuja alta foi de
1,28% e representou a maior contribuição individual para o IPCA
do mês (0,06 ponto).
Alimentação
Neste mês, outra fonte de pressão foi o grupo alimentação
-elevação de 0,78%, contra
0,65% de dezembro. Produtos "in
natura" como cenoura, batata, cebola e hortaliças aumentaram em
razão das chuvas.
Tais reajustes anularam o efeito
benéfico da queda da cotação do
dólar sobre preços de produtos
vinculados às cotações internacionais, como óleo de soja e farinha de trigo.
Em fevereiro, prevêem especialistas, o IPCA se manterá pressionado por causa dos reajustes das
mensalidades escolares. A previsão é uma variação de 0,65%. "Só
há expectativa de queda na inflação em março ou abril. Por isso, o
BC deve aumentar a Selic em mais
0,25 ponto percentual em março",
afirmou Denadai, da LCA.
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