|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TENSÃO PRÉ-COPOM
Para chefe do BC, órgão só reage à "dinâmica inflacionária"
País deve debater os juros do mercado, diz Meirelles
DA SUCURSAL DO RIO
DA REDAÇÃO
A dois dias de o Copom (Comitê
de Política Monetária) decidir o
destino dos juros, o presidente do
Banco Central, Henrique Meirelles, afirmou que a instituição tem
adotado a política de aumento da
taxa básica (Selic) para reagir à
"dinâmica inflacionária" e que o
Brasil ganharia mais se discutisse
a razão de as taxas "do segmento
livre do mercado" serem tão altas.
"O Banco Central tem reagido,
como todo BC do mundo, à questão da dinâmica inflacionária",
disse Meirelles. "Taxa de juros subir ou descer não é característica a
longo prazo de países que vão
mal. Taxas de juros sobem e descem em qualquer país."
O IPCA (Índice de Preços ao
Consumidor Amplo) de janeiro,
divulgado ontem, reforçou as expectativas de um sexto aumento
consecutivo na taxa básica de juros, hoje em 18,25%. O índice cedeu para 0,58% -ante 0,86% em
dezembro-, mas o núcleo, que
exclui as altas e baixas mais significativas, aponta taxa anual de
8,2% -3,1 pontos acima do centro da meta, de 5,1% para este ano.
Apesar do comentário de Meirelles sobre os juros de mercado, a
Anefac (Associação Nacional dos
Executivos de Finanças) divulgou
que os juros cobrados do consumidor final interromperam trajetória de alta e caíram em janeiro.
Para a pessoa física, a taxa média
de juro caiu de 7,87% em dezembro para 7,59% ao mês.
Com isso, a taxa média voltou
ao mesmo patamar de agosto de
2004, antes de começar a subir
por quatro meses seguidos.
Entretanto, outro indicador sobre juros, o da Fundação Procon-SP, corroborou a a afirmação de
Meirelles e apontou uma alta nos
juros do cheque especial e do empréstimo pessoal. Segundo a entidade, a taxa média mensal de juros do cheque especial subiu de
8,10% em janeiro para 8,12% ao
mês em fevereiro -o maior patamar de juro desde dezembro de
2003, quando a taxa média mensal estava em 8,20%.
Atas passadas
Meirelles, que participou do seminário "Cenários da Economia
Brasileira e Mundial em 2005",
promovido pela FGV (Fundação
Getúlio Vargas) e pelo jornal "O
Globo", no Rio de Janeiro, por diversas vezes ressaltou que não estava adiantando resultados da
reunião do Copom, mas se referindo a atas de reuniões passadas.
"A grande discussão que tem
que se colocar no Brasil não é exatamente se deve ou não subir a taxa de juros, porque isso é uma discussão técnica", afirmou. "O que
nós temos que olhar, e essa é uma
discussão muito importante, é
por que a taxa de juros do segmento livre do mercado [a adotada pelo sistema financeiro] é alta e
o que o Brasil tem que fazer a longo prazo para que isso baixe."
Também presente ao seminário, o secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy, afirmou
que a inflação continua a ser uma
preocupação do governo. "Nossa
inflação esteve acima de quase a
de todos os países emergentes no
ano passado. A gente tem que
realmente olhar para a inflação,
não dá para esquecer."
Levy não quis dizer se é favorável ou não a uma nova alta de juros. Já o ex-presidente do BC e diretor do Centro de Economia
Mundial da FGV, Carlos Langoni,
afirmou ter certeza de que virá
um novo aumento.
"Eu acho que a alta pode ser de
0,5 ponto percentual. Se isso
acontecer, pode ser o último aumento. Ou então pode vir um aumento de 0,25 ponto percentual e
outro de 0,25 no próximo mês. Aí
é o BC que vai decidir."
O ex-ministro da Fazenda e presidente da Associação Comercial
do Rio de Janeiro, Marcílio Marques Moreira, também acredita
na alta de juros. "Ainda espero
um pequeno aumento. Se olharmos o quadro do país, os juros estão muito altos, mas a liqüidez
ainda está muito alta, mesmo interna. O ciclo de absorção dessa liqüidez está terminando, mas ainda falta um pouco."
"O Brasil ainda está viciado em
inflação", disse Marques Moreira.
"Fala-se muito que a taxa de juros
é a maior do mundo, mas nossa
inflação também é das maiores do
mundo. Seria desastroso contemporizar tudo isso. O problema é a
carga fiscal, que está muito alta
porque os gastos são elevados."
Texto Anterior: Riscos menores reduzirão taxas, afirma Meirelles Próximo Texto: Analistas esperam alta de 0,5 ponto, diz pesquisa do BC Índice
|