São Paulo, terça-feira, 15 de fevereiro de 2005

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TENSÃO PRÉ-COPOM

Para chefe do BC, órgão só reage à "dinâmica inflacionária"

País deve debater os juros do mercado, diz Meirelles

DA SUCURSAL DO RIO

DA REDAÇÃO

A dois dias de o Copom (Comitê de Política Monetária) decidir o destino dos juros, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, afirmou que a instituição tem adotado a política de aumento da taxa básica (Selic) para reagir à "dinâmica inflacionária" e que o Brasil ganharia mais se discutisse a razão de as taxas "do segmento livre do mercado" serem tão altas.
"O Banco Central tem reagido, como todo BC do mundo, à questão da dinâmica inflacionária", disse Meirelles. "Taxa de juros subir ou descer não é característica a longo prazo de países que vão mal. Taxas de juros sobem e descem em qualquer país."
O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) de janeiro, divulgado ontem, reforçou as expectativas de um sexto aumento consecutivo na taxa básica de juros, hoje em 18,25%. O índice cedeu para 0,58% -ante 0,86% em dezembro-, mas o núcleo, que exclui as altas e baixas mais significativas, aponta taxa anual de 8,2% -3,1 pontos acima do centro da meta, de 5,1% para este ano.
Apesar do comentário de Meirelles sobre os juros de mercado, a Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças) divulgou que os juros cobrados do consumidor final interromperam trajetória de alta e caíram em janeiro. Para a pessoa física, a taxa média de juro caiu de 7,87% em dezembro para 7,59% ao mês.
Com isso, a taxa média voltou ao mesmo patamar de agosto de 2004, antes de começar a subir por quatro meses seguidos.
Entretanto, outro indicador sobre juros, o da Fundação Procon-SP, corroborou a a afirmação de Meirelles e apontou uma alta nos juros do cheque especial e do empréstimo pessoal. Segundo a entidade, a taxa média mensal de juros do cheque especial subiu de 8,10% em janeiro para 8,12% ao mês em fevereiro -o maior patamar de juro desde dezembro de 2003, quando a taxa média mensal estava em 8,20%.

Atas passadas
Meirelles, que participou do seminário "Cenários da Economia Brasileira e Mundial em 2005", promovido pela FGV (Fundação Getúlio Vargas) e pelo jornal "O Globo", no Rio de Janeiro, por diversas vezes ressaltou que não estava adiantando resultados da reunião do Copom, mas se referindo a atas de reuniões passadas.
"A grande discussão que tem que se colocar no Brasil não é exatamente se deve ou não subir a taxa de juros, porque isso é uma discussão técnica", afirmou. "O que nós temos que olhar, e essa é uma discussão muito importante, é por que a taxa de juros do segmento livre do mercado [a adotada pelo sistema financeiro] é alta e o que o Brasil tem que fazer a longo prazo para que isso baixe."
Também presente ao seminário, o secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy, afirmou que a inflação continua a ser uma preocupação do governo. "Nossa inflação esteve acima de quase a de todos os países emergentes no ano passado. A gente tem que realmente olhar para a inflação, não dá para esquecer."
Levy não quis dizer se é favorável ou não a uma nova alta de juros. Já o ex-presidente do BC e diretor do Centro de Economia Mundial da FGV, Carlos Langoni, afirmou ter certeza de que virá um novo aumento.
"Eu acho que a alta pode ser de 0,5 ponto percentual. Se isso acontecer, pode ser o último aumento. Ou então pode vir um aumento de 0,25 ponto percentual e outro de 0,25 no próximo mês. Aí é o BC que vai decidir."
O ex-ministro da Fazenda e presidente da Associação Comercial do Rio de Janeiro, Marcílio Marques Moreira, também acredita na alta de juros. "Ainda espero um pequeno aumento. Se olharmos o quadro do país, os juros estão muito altos, mas a liqüidez ainda está muito alta, mesmo interna. O ciclo de absorção dessa liqüidez está terminando, mas ainda falta um pouco."
"O Brasil ainda está viciado em inflação", disse Marques Moreira. "Fala-se muito que a taxa de juros é a maior do mundo, mas nossa inflação também é das maiores do mundo. Seria desastroso contemporizar tudo isso. O problema é a carga fiscal, que está muito alta porque os gastos são elevados."


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