São Paulo, terça-feira, 15 de fevereiro de 2005

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Centrais "sambam" contra o Copom

CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Para protestar contra a política econômica do governo, as centrais sindicais decidiram "cair" no samba e colocar um bloco carnavalesco na rua -ou melhor, em frente ao prédio do Banco Central na avenida Paulista.
Cerca de 50 integrantes da bateria da escola de samba Mancha Verde, da torcida do Palmeiras, devem participar do ato. Outras escolas também devem ser convidadas pelos sindicalistas.
Organizada pela Força Sindical, a manifestação acontece amanhã a partir das 16h, mesmo horário em que os técnicos do Copom (Comitê de Política Monetária do BC) decidem se a taxa de juros básicos da economia -a Selic- vai subir. Deve durar até as 20h, quando o governo divulga o resultado da reunião, que ocorre mensalmente.
Em janeiro, o Banco Central aumentou os juros de 17,75% ao ano para 18,25% -foi a quinta elevação seguida da taxa, que atingiu o maior nível desde outubro de 2003. Os juros têm subido desde setembro, quando teve início aquilo que o BC chamou de "processo de ajuste da taxa básica" para manter a inflação dentro das metas fixadas pelo governo.
Em tese, a taxa aumenta sempre que se percebe uma possibilidade de descumprimento da meta de inflação -medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo). A meta deste ano é 5,1%.
"Aproveitando o clima de Carnaval, vamos fazer vigília em frente ao BC com o bloco dos "sem-banco". A política econômica adotada pelo governo Lula só favorece donos de bancos, que lucram com os juros altos. Trabalhadores e empresários fazem parte dos "sem-banco". São aqueles que realmente sofrem os efeitos dessa alta", afirma Paulo Pereira da Silva, presidente da Força Sindical.

Sem fôlego
Segundo o sindicalista, a elevação dos juros já afeta principalmente a produção das empresas do setor de metais não-ferrosos da Grande São Paulo. "Há várias metalúrgicas concedendo férias coletivas e diminuindo a jornada para não demitir. Com essa taxa, as fábricas não têm fôlego para investir na produção", diz.
O presidente da Força Sindical acredita que o governo vá aumentar os juros em "pelo menos" meio ponto percentual -mesma expectativa de analistas do mercado financeiro.
A CGT (Confederação Geral dos Trabalhadores) também deve participar do protesto de amanhã. Até ontem, os sindicalistas não sabiam informar se convidariam ou não a CUT (Central Única dos Trabalhadores) para o protesto. A central defende a redução dos juros, mas historicamente é ligada ao governo Lula.
Os sindicalistas vão convidar também para "sambar contra os juros" empresários -como Antônio Ermírio de Moraes, da Votorantim-, além de representantes da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e da Associação Comercial de São Paulo.
A partir do próximo mês, as centrais sindicais planejam expandir os protestos para outras regiões do país.
"Desde o governo FHC, essa é a primeira vez em que vamos à rua pressionar contra a elevação dos juros. Essa política afeta o crescimento do país. Sem investir, as empresas não criam empregos. A tendência é de as manifestações aumentarem. Na próxima reunião, podemos optar por uma vigília de 48 horas para acompanhar os dois dias de reunião do Copom", diz Antonio dos Reis, o Salim, presidente da CGT.


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