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Centrais "sambam" contra o Copom
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Para protestar contra a política
econômica do governo, as centrais sindicais decidiram "cair" no
samba e colocar um bloco carnavalesco na rua -ou melhor, em
frente ao prédio do Banco Central
na avenida Paulista.
Cerca de 50 integrantes da bateria da escola de samba Mancha
Verde, da torcida do Palmeiras,
devem participar do ato. Outras
escolas também devem ser convidadas pelos sindicalistas.
Organizada pela Força Sindical,
a manifestação acontece amanhã
a partir das 16h, mesmo horário
em que os técnicos do Copom
(Comitê de Política Monetária do
BC) decidem se a taxa de juros básicos da economia -a Selic- vai
subir. Deve durar até as 20h,
quando o governo divulga o resultado da reunião, que ocorre
mensalmente.
Em janeiro, o Banco Central aumentou os juros de 17,75% ao ano
para 18,25% -foi a quinta elevação seguida da taxa, que atingiu o
maior nível desde outubro de
2003. Os juros têm subido desde
setembro, quando teve início
aquilo que o BC chamou de "processo de ajuste da taxa básica" para manter a inflação dentro das
metas fixadas pelo governo.
Em tese, a taxa aumenta sempre
que se percebe uma possibilidade
de descumprimento da meta de
inflação -medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor
Amplo). A meta deste ano é 5,1%.
"Aproveitando o clima de Carnaval, vamos fazer vigília em frente ao BC com o bloco dos "sem-banco". A política econômica adotada pelo governo Lula só favorece donos de bancos, que lucram
com os juros altos. Trabalhadores
e empresários fazem parte dos
"sem-banco". São aqueles que
realmente sofrem os efeitos dessa
alta", afirma Paulo Pereira da Silva, presidente da Força Sindical.
Sem fôlego
Segundo o sindicalista, a elevação dos juros já afeta principalmente a produção das empresas
do setor de metais não-ferrosos
da Grande São Paulo. "Há várias
metalúrgicas concedendo férias
coletivas e diminuindo a jornada
para não demitir. Com essa taxa,
as fábricas não têm fôlego para investir na produção", diz.
O presidente da Força Sindical
acredita que o governo vá aumentar os juros em "pelo menos"
meio ponto percentual -mesma
expectativa de analistas do mercado financeiro.
A CGT (Confederação Geral
dos Trabalhadores) também deve
participar do protesto de amanhã.
Até ontem, os sindicalistas não sabiam informar se convidariam ou
não a CUT (Central Única dos
Trabalhadores) para o protesto. A
central defende a redução dos juros, mas historicamente é ligada
ao governo Lula.
Os sindicalistas vão convidar
também para "sambar contra os
juros" empresários -como Antônio Ermírio de Moraes, da Votorantim-, além de representantes da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e
da Associação Comercial de São
Paulo.
A partir do próximo mês, as
centrais sindicais planejam expandir os protestos para outras
regiões do país.
"Desde o governo FHC, essa é a
primeira vez em que vamos à rua
pressionar contra a elevação dos
juros. Essa política afeta o crescimento do país. Sem investir, as
empresas não criam empregos. A
tendência é de as manifestações
aumentarem. Na próxima reunião, podemos optar por uma vigília de 48 horas para acompanhar os dois dias de reunião do
Copom", diz Antonio dos Reis, o
Salim, presidente da CGT.
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