São Paulo, quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007

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Brasil cede e deve anunciar aumento do gás

País e Bolívia chegam a um acordo sobre o combustível e formalizam hoje reajuste em entrevista de Lula e Morales

Boliviano quer que o valor se equipare ao cobrado da Argentina, de US$ 5 por milhão de BTU; hoje, preço é de cerca de US$ 4,30


FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

PEDRO DIAS LEITE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em uma viagem marcada por improvisações, o presidente da Bolívia, Evo Morales, deve arrancar do governo brasileiro um aumento do preço do gás vendido ao Brasil via Petrobras, segundo apurou a Folha com fontes diplomáticas brasileiras. O anúncio será formalizado hoje pela manhã, durante entrevista coletiva do boliviano e de seu colega brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva.
Apesar da insistência de uma "agenda ampla" proposta pelo Itamaraty e de rechaçar uma negociação política, o tema do gás foi o que predominou ao longo das reuniões realizadas ontem desde cerca de 11h até por volta das 21h30.
As negociações buscavam encontrar uma fórmula para elevar o preço do gás sem a necessidade de alterar o GSA (Gas Supply Agreement, na sigla em inglês), contrato de compra e venda assinado em 1996 entre os dois países. Essa alternativa vem sendo rechaçada veementemente pela Petrobras.
"Chegamos a um absoluto acordo em torno da questão mais nevrálgica, que é a do gás. Foi depois de uma complexa negociação para encontrar uma fórmula técnica. O acordo se dá em duas dimensões, a de Cuiabá e a outra mais genérica, da relação gasífera entre Brasil e Bolívia", disse o assessor internacional de Lula, Marco Aurélio Garcia, ontem à noite -que não confirmou oficialmente se haverá reajuste.
Segundo o assessor de Lula, "os contratos da Petrobras com a Bolívia serão mantidos".
Do lado brasileiro, participaram o presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, e o ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau. Pela Bolívia, houve a participação direta de Morales, além do ministro de Hidrocarbonetos, Carlos Villegas.
Na avaliação do Planalto, o acerto de ontem marca um momento importante nas relações entre Brasil e Bolívia, depois de uma série de atritos desde a posse de Morales.
"Depois de alguns encontros e desencontros, na noite de hoje [ontem] demos um passo importante na relação entre os dois países", disse Garcia.
Para a Bolívia, os acordos em torno do gás representam uma vitória sobre a posição do Brasil de querer tratar o tema no âmbito técnico, a cargo exclusivo da Petrobras.
Para Morales, sem uma negociação política, dificilmente haveria reajuste.
Ontem, em declarações à Agência Boliviana de Informações (ABI), Villegas comemorou o aumento do preço do gás vendido a Cuiabá, conforme a Folha havia antecipado ontem, e informou que o reajuste do preço regulado pelo GSA já estava acertado. O valor pago pelo gás para Cuiabá vai praticamente quadruplicar.
No caso do gás vendido via Petrobras, Morales quer que o preço se equipare ao vendido à Argentina, de US$ 5 por milhão de BTU (unidade térmica britânica). Atualmente, o preço, calculado trimestralmente a partir de uma cesta de combustíveis, é de cerca de US$ 4,30. Ontem, não havia informação se os preços seriam igualados.
Uma coletiva entre os dois presidentes chegou a ser marcada três vezes ontem. A primeira estava marcada para as 13h. Depois, foi adiada para as 19h. Em seguida, foi mais uma vez adiada para as 21h45. Só por volta das 22h, o governo brasileiro anunciou que a entrevista havia sido transferida novamente, para as 9h de hoje.
Por causa disso, Morales terá de estender em um dia sua viagem a Brasília -a primeira visita bilateral de Estado ao Brasil desde a sua posse, há quase 13 meses.
"Ficamos até tarde e conhecemos a regra da mídia. Não anunciamos agora porque não teríamos a repercussão nos noticiários que gostaríamos de ter", disse Garcia.
Segundo assessores do Planalto, foi a primeira vez na história recente que uma declaração de dois presidentes foi adiada dessa maneira.


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