|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Brasil cede e deve anunciar aumento do gás
País e Bolívia chegam a um acordo sobre o combustível e formalizam hoje reajuste em entrevista de Lula e Morales
Boliviano quer que o valor se equipare ao cobrado da Argentina, de US$ 5 por
milhão de BTU; hoje, preço é de cerca de US$ 4,30
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
PEDRO DIAS LEITE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em uma viagem marcada por
improvisações, o presidente da
Bolívia, Evo Morales, deve arrancar do governo brasileiro
um aumento do preço do gás
vendido ao Brasil via Petrobras,
segundo apurou a Folha com
fontes diplomáticas brasileiras.
O anúncio será formalizado
hoje pela manhã, durante entrevista coletiva do boliviano e
de seu colega brasileiro, Luiz
Inácio Lula da Silva.
Apesar da insistência de uma
"agenda ampla" proposta pelo
Itamaraty e de rechaçar uma
negociação política, o tema do
gás foi o que predominou ao
longo das reuniões realizadas
ontem desde cerca de 11h até
por volta das 21h30.
As negociações buscavam
encontrar uma fórmula para
elevar o preço do gás sem a necessidade de alterar o GSA (Gas
Supply Agreement, na sigla em
inglês), contrato de compra e
venda assinado em 1996 entre
os dois países. Essa alternativa
vem sendo rechaçada veementemente pela Petrobras.
"Chegamos a um absoluto
acordo em torno da questão
mais nevrálgica, que é a do gás.
Foi depois de uma complexa
negociação para encontrar
uma fórmula técnica. O acordo
se dá em duas dimensões, a de
Cuiabá e a outra mais genérica,
da relação gasífera entre Brasil
e Bolívia", disse o assessor internacional de Lula, Marco Aurélio Garcia, ontem à noite
-que não confirmou oficialmente se haverá reajuste.
Segundo o assessor de Lula,
"os contratos da Petrobras com
a Bolívia serão mantidos".
Do lado brasileiro, participaram o presidente da Petrobras,
José Sergio Gabrielli, e o ministro de Minas e Energia, Silas
Rondeau. Pela Bolívia, houve a
participação direta de Morales,
além do ministro de Hidrocarbonetos, Carlos Villegas.
Na avaliação do Planalto, o
acerto de ontem marca um momento importante nas relações
entre Brasil e Bolívia, depois de
uma série de atritos desde a
posse de Morales.
"Depois de alguns encontros
e desencontros, na noite de hoje [ontem] demos um passo importante na relação entre os
dois países", disse Garcia.
Para a Bolívia, os acordos em
torno do gás representam uma
vitória sobre a posição do Brasil de querer tratar o tema no
âmbito técnico, a cargo exclusivo da Petrobras.
Para Morales, sem uma negociação política, dificilmente
haveria reajuste.
Ontem, em declarações à
Agência Boliviana de Informações (ABI), Villegas comemorou o aumento do preço do gás
vendido a Cuiabá, conforme a
Folha havia antecipado ontem,
e informou que o reajuste do
preço regulado pelo GSA já estava acertado. O valor pago pelo
gás para Cuiabá vai praticamente quadruplicar.
No caso do gás vendido via
Petrobras, Morales quer que o
preço se equipare ao vendido à
Argentina, de US$ 5 por milhão
de BTU (unidade térmica britânica). Atualmente, o preço, calculado trimestralmente a partir de uma cesta de combustíveis, é de cerca de US$ 4,30.
Ontem, não havia informação
se os preços seriam igualados.
Uma coletiva entre os dois
presidentes chegou a ser marcada três vezes ontem. A primeira estava marcada para as
13h. Depois, foi adiada para as
19h. Em seguida, foi mais uma
vez adiada para as 21h45. Só
por volta das 22h, o governo
brasileiro anunciou que a entrevista havia sido transferida
novamente, para as 9h de hoje.
Por causa disso, Morales terá
de estender em um dia sua viagem a Brasília -a primeira visita bilateral de Estado ao Brasil
desde a sua posse, há quase 13
meses.
"Ficamos até tarde e conhecemos a regra da mídia. Não
anunciamos agora porque não
teríamos a repercussão nos noticiários que gostaríamos de
ter", disse Garcia.
Segundo assessores do Planalto, foi a primeira vez na história recente que uma declaração de dois presidentes foi adiada dessa maneira.
Texto Anterior: Imóveis: São Paulo tem 18º aluguel de escritórios mais caro do mundo Próximo Texto: Reajuste em termelétrica de MT pode custar até US$ 68 mi Índice
|