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CURTO-CIRCUITO
Queda do preço da eletricidade e dívida em dólar pesaram no balanço, o pior de 2002 divulgado até agora
Cesp tem prejuízo recorde de R$ 3,417 bi
LÁSZLÓ VARGA
DA REPORTAGEM LOCAL
A Cesp (Companhia Energética
de São Paulo) mostrou ontem
mais uma faceta da grave crise
que o setor de energia elétrica vive
atualmente no país. A estatal registrou um prejuízo de R$ 3,417
bilhões em 2002, valor recorde em
relação a todos os balanços daquele ano das companhias com
ações em Bolsas divulgados até
agora, de acordo com a consultoria Economática.
A sangria na Cesp foi 320% mais
alta que a registrada no ano passado, quando a empresa de geração
de energia amargou perdas de R$
813 milhões. Analistas afirmaram
ontem à Folha que o péssimo desempenho se deve à sobra de
energia no mercado, o que forçou
uma queda do preço do megawatt
vendido pela estatal, e à dívida de
R$ 12 bilhões da companhia.
"Cerca de 80% desses débitos
são em dólar e não estiveram protegidos da forte valorização da
moeda americana em 2002", afirmou Gláucia de Castro Quinto,
analista do ABN Amro Bank.
Mesmo a receita bruta da Cesp,
que é a terceira maior geradora do
país, atrás da Itaipu Binacional e
Chesf (Companhia Hidrelétrica
do São Francisco), registrou uma
retração. A companhia faturou
R$ 2,026 bilhões em 2002, 11% a
menos que no ano anterior.
Os dados da Cesp refletem a
grave crise que enfrenta o setor de
energia elétrica, após o racionamento de 2001 e 2002. As pessoas
se acostumaram a consumir menos eletricidade, e as geradoras e
distribuidoras têm sentido na pele o impacto sobre seus negócios.
"O consumo em 2002 no Estado
de São Paulo foi 10% menor do
que em 2000, ano anterior ao racionamento", afirma Gláucia. No
ano passado, houve uma pequena
melhora na demanda em relação
a 2001, mas mesmo assim a Cesp
acabou não sendo beneficiada.
"O Estado teve um aumento de
0,8% no consumo de energia, mas
a Cesp registrou queda de 1% na
eletricidade vendida." Para Quinto, muitas distribuidoras devem
ter cancelado contratos com a
Cesp para comprar energia mais
barata de outras geradoras.
A Cesp vende energia principalmente para a Eletropaulo, CPFL,
Elektro, Bandeirante e Piratininga. Procurada pela Folha, a estatal
não quis comentar o seu balanço.
A Cesp tem sido prejudicada pelos baixos preços praticados no
MAE (Mercado Atacadista de
Energia Elétrica), no qual é comercializada a energia que as geradoras não conseguem vender
via contratos anuais para as distribuidoras.
"Os valores no MAE despencaram de 684 MWh em meados de
2001 para R$ 4 em 2002, devido à
sobra de eletricidade após o racionamento", afirmou Quinto.
Segundo Rafael Quintanilha,
analista de energia do banco Espírito Santo, os problemas que a
Cesp tem amargado para vender
sua energia que não foi contratada por distribuidoras continuam
a ocorrer em 2003. "Ela tentou
vender em janeiro 900 MW por
mês em um leilão do setor, ao preço de R$ 500 o MWh. Ninguém
quis comprar essa energia."
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