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São Paulo, sábado, 15 de março de 2003

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CURTO-CIRCUITO

Queda do preço da eletricidade e dívida em dólar pesaram no balanço, o pior de 2002 divulgado até agora

Cesp tem prejuízo recorde de R$ 3,417 bi

LÁSZLÓ VARGA
DA REPORTAGEM LOCAL

A Cesp (Companhia Energética de São Paulo) mostrou ontem mais uma faceta da grave crise que o setor de energia elétrica vive atualmente no país. A estatal registrou um prejuízo de R$ 3,417 bilhões em 2002, valor recorde em relação a todos os balanços daquele ano das companhias com ações em Bolsas divulgados até agora, de acordo com a consultoria Economática.
A sangria na Cesp foi 320% mais alta que a registrada no ano passado, quando a empresa de geração de energia amargou perdas de R$ 813 milhões. Analistas afirmaram ontem à Folha que o péssimo desempenho se deve à sobra de energia no mercado, o que forçou uma queda do preço do megawatt vendido pela estatal, e à dívida de R$ 12 bilhões da companhia.
"Cerca de 80% desses débitos são em dólar e não estiveram protegidos da forte valorização da moeda americana em 2002", afirmou Gláucia de Castro Quinto, analista do ABN Amro Bank.
Mesmo a receita bruta da Cesp, que é a terceira maior geradora do país, atrás da Itaipu Binacional e Chesf (Companhia Hidrelétrica do São Francisco), registrou uma retração. A companhia faturou R$ 2,026 bilhões em 2002, 11% a menos que no ano anterior.
Os dados da Cesp refletem a grave crise que enfrenta o setor de energia elétrica, após o racionamento de 2001 e 2002. As pessoas se acostumaram a consumir menos eletricidade, e as geradoras e distribuidoras têm sentido na pele o impacto sobre seus negócios.
"O consumo em 2002 no Estado de São Paulo foi 10% menor do que em 2000, ano anterior ao racionamento", afirma Gláucia. No ano passado, houve uma pequena melhora na demanda em relação a 2001, mas mesmo assim a Cesp acabou não sendo beneficiada.
"O Estado teve um aumento de 0,8% no consumo de energia, mas a Cesp registrou queda de 1% na eletricidade vendida." Para Quinto, muitas distribuidoras devem ter cancelado contratos com a Cesp para comprar energia mais barata de outras geradoras.
A Cesp vende energia principalmente para a Eletropaulo, CPFL, Elektro, Bandeirante e Piratininga. Procurada pela Folha, a estatal não quis comentar o seu balanço. A Cesp tem sido prejudicada pelos baixos preços praticados no MAE (Mercado Atacadista de Energia Elétrica), no qual é comercializada a energia que as geradoras não conseguem vender via contratos anuais para as distribuidoras.
"Os valores no MAE despencaram de 684 MWh em meados de 2001 para R$ 4 em 2002, devido à sobra de eletricidade após o racionamento", afirmou Quinto.
Segundo Rafael Quintanilha, analista de energia do banco Espírito Santo, os problemas que a Cesp tem amargado para vender sua energia que não foi contratada por distribuidoras continuam a ocorrer em 2003. "Ela tentou vender em janeiro 900 MW por mês em um leilão do setor, ao preço de R$ 500 o MWh. Ninguém quis comprar essa energia."


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