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LUÍS NASSIF
Saneamento sem solução
Continua confusa essa história do saneamento no
Brasil. No governo Fernando
Henrique Cardoso, houve um
apagão irresponsável, em parte
por conta de indefinição de titularidade de concessão (se de Estados e municípios) -emperrada no Congresso-, em parte por
falta de financiamento às estaduais em atividade.
Houve longa discussão, chegando-se a algumas conclusões
relevantes sobre a titularidade
-respeitando o conceito de região metropolitana e de bacia
hidrográfica- e aceitando-se
que, dado o volume de investimento necessário para cobrir o
país, o melhor modelo teria que
combinar capital público e privado.
O governo Lula pode ter no saneamento um de seus grandes
diferenciais, pois aí o governo
FHC fracassou rotundamente
-assim como no setor elétrico.
Mas não se sabe bem qual a proposta. Atribuiu-se a responsabilidade pelo tema ao Ministério
das Cidades, dirigido pelo ex-governador gaúcho Olívio Dutra.
No governo do Estado, Olívio levantou a curiosa tese de que,
sendo a água uma dádiva dos
céus, não poderia ser explorada
comercialmente. Em um Estado
quebrado, um dos três que descumpriram a Lei de Responsabilidade Fiscal, Olívio tratou de levantar empréstimos no Bird
apenas para não recorrer a investimentos privados na área.
Agora, sai por aí a declarar que
as concessões devem ser municipais, reabrindo um tema que estava quase resolvido.
No governo FHC, o BNDES
(Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) utilizou um modelo desastrado de
privatização do setor, ao induzir
à privatização onerosa das estaduais de saneamento, por meio
do adiantamento dos recursos
aos governadores. Estados quebrados receberam o dinheiro,
continuaram quebrados, o dinheiro acabou e as tarifas foram
aumentadas para que as concessionárias recuperassem o que foi
pago pela concessão. Só no final
do governo FHC se avançou no
conceito de que os critérios para
a licitação de concessões deveriam ser a universalização dos
serviços e a menor tarifa.
Da longa discussão sobre o
"apagão do saneamento", em
2001 e 2002, julgava-se que alguns princípios estivessem consolidados. O primeiro era a questão da titularidade, respeitando-se os conceitos de região metropolitana e de bacia hidrográfica.
O segundo, o da natureza do
capital. Nem o setor privado
nem o público, sozinhos, poderiam dar conta do desafio da
universalização do saneamento.
A solução passava por abrir o
mercado aos dois modelos, mas
exigindo-se das empresas índices
de desempenho, e, das estatais
estaduais, modelos de gestão
adequados.
Tendo um contrato claro de
concessão e boa gestão, é possível
ir atrás de recursos, por meio de
operações montadas em cima de
recebíveis. Mas há que ter o modelo. E quem definirá o modelo?
Um ministro que é contra o investimento privado, recorrendo
ao direito divino e sabendo que
Deus dispõe a água, mas não as
tubulações?
Enquanto o governo se perde
nessas indefinições, alguns
exemplos bem-sucedidos de privatização de companhias municipais estão indo para o ralo por
falta de segurança jurídica.
E-mail - LNassif@uol.com.br
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