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Crise econômica dita tendência na moda
Peças clássicas, menos rebuscadas, ganham mais espaço para não espantar consumidor, evitar encalhe e reduzir custos
Substituição de insumos
importados por nacionais
e
produções mais simples
permitem que grifes baixem
despesas em 15% em média
SAMANTHA LIMA
DA SUCURSAL DO RIO
Nada de passarelas de Paris
ou Milão. Em tempos de crise, o
que dita a moda na indústria de
vestuário e calçados é o bolso.
Para evitar a queda no consumo e o encalhe, empresários
determinaram a produção de
coleções menos rebuscadas e
mais comerciais, com peças
mais clássicas, para não espantar cliente e reduzir custos.
Com a substituição de insumos importados e produções
mais simples, fabricantes têm
conseguido baixar custos em
15%, em média. E, dizem, conseguido evitar queda nas vendas -ninguém reconhece que
isso tenha acontecido. "Quando há fartura, exageramos porque alguém paga. Agora, não. É
preciso ser criativo", diz Denise
Areal, diretora da Duloren.
A mudança de material é um
dos principais artifícios. Na grife feminina Corpo & Alma, com
16 lojas no país, os tecidos da
coleção passada deram espaço
para a malha, de custo menor.
Nada de aviamentos em excesso. As estampas é que vão dar o
tom. "Não chamo este período
de crise. Chamo de novos tempos. O consumidor do futuro
será mais racional", diz Isac
Saadia, dono da grife.
A grife masculina Toulon,
com 44 lojas no país, trocou
bordados por estampas pintadas nas camisas e aposentou os
pespontos grossos, sucesso no
ano passado. "A ordem é evitar
alta no preço para não assustar
o cliente", diz Kaíque Freitas,
profissional de compras da
Toulon. A crise manteve o jeans
escuro na moda: as calças passam agora por menos lavagens.
Baratear produtos implica
torná-los menos "espetáculo" e
mais "praticidade". A calçadista Arezzo criou sapatos menos
conceituais e mais clássicos.
"Entre ter um sapato lindo,
quase exclusivo no armário, e
outro fácil de combinar, a consumidora, na crise, vai optar
pelo que vai usar mais", diz
Cláudia Narciso, diretora de
criação da Arezzo.
Nos últimos sete anos, a Duloren investiu na imagem de fabricante de lingerie ousada.
Agora, resolveu apostar menos
em "produtos-show". As rendas estão mais simples. Os bordados, reduzidos. "A mulher na
crise quer seduzir, mas com racionalidade", diz Areal.
A variação do dólar, que, há
quatro anos, empurrava empresas a buscar matéria-prima
no exterior, agora favorece o
movimento contrário. Na Duloren, as importações, origem
de 30% da matéria-prima usada em 2007, foram extintas. Alguns tecidos estão sendo produzidos em uma das fábricas na
Baixada Fluminense que estavam com capacidade ociosa.
A paulista D'anello, que fabrica alfaiataria e costumes
masculinos, também substituiu tecidos estrangeiros por
algodão brasileiro no forro das
jaquetas. "Uma parte da alta do
dólar resolvemos assim. Outra,
temos que absorver. Não é hora
de repassar custo", diz o empresário Franco D'anello.
E a crise vai seguir ditando a
tendência do inverno. Em vez
de couro nas botas, a Arezzo vai
de camurça. "É um material de
alta qualidade e durabilidade,
além de bonito", diz Narciso.
A D'anello vai trazer uma jaqueta em que mesclará couro
com retalhos de náilon. "Tenho
certeza de que nosso cliente, o
público AB, vai gostar", afirma
D'anello. Quem apostou nas
mudanças diz que os clientes as
têm aceitado bem. "Explicamos as mudanças aos lojistas e
pedimos que eles as repassem
aos clientes. É bom para quem
vende e para o cliente, que não
terá alta de preço", diz D'anello.
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