São Paulo, domingo, 15 de março de 2009

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Crise econômica dita tendência na moda

Peças clássicas, menos rebuscadas, ganham mais espaço para não espantar consumidor, evitar encalhe e reduzir custos

Substituição de insumos importados por nacionais e produções mais simples permitem que grifes baixem despesas em 15% em média

SAMANTHA LIMA
DA SUCURSAL DO RIO

Nada de passarelas de Paris ou Milão. Em tempos de crise, o que dita a moda na indústria de vestuário e calçados é o bolso. Para evitar a queda no consumo e o encalhe, empresários determinaram a produção de coleções menos rebuscadas e mais comerciais, com peças mais clássicas, para não espantar cliente e reduzir custos.
Com a substituição de insumos importados e produções mais simples, fabricantes têm conseguido baixar custos em 15%, em média. E, dizem, conseguido evitar queda nas vendas -ninguém reconhece que isso tenha acontecido. "Quando há fartura, exageramos porque alguém paga. Agora, não. É preciso ser criativo", diz Denise Areal, diretora da Duloren.
A mudança de material é um dos principais artifícios. Na grife feminina Corpo & Alma, com 16 lojas no país, os tecidos da coleção passada deram espaço para a malha, de custo menor. Nada de aviamentos em excesso. As estampas é que vão dar o tom. "Não chamo este período de crise. Chamo de novos tempos. O consumidor do futuro será mais racional", diz Isac Saadia, dono da grife.
A grife masculina Toulon, com 44 lojas no país, trocou bordados por estampas pintadas nas camisas e aposentou os pespontos grossos, sucesso no ano passado. "A ordem é evitar alta no preço para não assustar o cliente", diz Kaíque Freitas, profissional de compras da Toulon. A crise manteve o jeans escuro na moda: as calças passam agora por menos lavagens.
Baratear produtos implica torná-los menos "espetáculo" e mais "praticidade". A calçadista Arezzo criou sapatos menos conceituais e mais clássicos. "Entre ter um sapato lindo, quase exclusivo no armário, e outro fácil de combinar, a consumidora, na crise, vai optar pelo que vai usar mais", diz Cláudia Narciso, diretora de criação da Arezzo.
Nos últimos sete anos, a Duloren investiu na imagem de fabricante de lingerie ousada. Agora, resolveu apostar menos em "produtos-show". As rendas estão mais simples. Os bordados, reduzidos. "A mulher na crise quer seduzir, mas com racionalidade", diz Areal.
A variação do dólar, que, há quatro anos, empurrava empresas a buscar matéria-prima no exterior, agora favorece o movimento contrário. Na Duloren, as importações, origem de 30% da matéria-prima usada em 2007, foram extintas. Alguns tecidos estão sendo produzidos em uma das fábricas na Baixada Fluminense que estavam com capacidade ociosa.
A paulista D'anello, que fabrica alfaiataria e costumes masculinos, também substituiu tecidos estrangeiros por algodão brasileiro no forro das jaquetas. "Uma parte da alta do dólar resolvemos assim. Outra, temos que absorver. Não é hora de repassar custo", diz o empresário Franco D'anello.
E a crise vai seguir ditando a tendência do inverno. Em vez de couro nas botas, a Arezzo vai de camurça. "É um material de alta qualidade e durabilidade, além de bonito", diz Narciso.
A D'anello vai trazer uma jaqueta em que mesclará couro com retalhos de náilon. "Tenho certeza de que nosso cliente, o público AB, vai gostar", afirma D'anello. Quem apostou nas mudanças diz que os clientes as têm aceitado bem. "Explicamos as mudanças aos lojistas e pedimos que eles as repassem aos clientes. É bom para quem vende e para o cliente, que não terá alta de preço", diz D'anello.


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