São Paulo, sábado, 15 de março de 1997.

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INCENTIVOS
Medida esfria negociações
Argentina crítica novo prazo da MP

RODRIGO BERTOLOTTO
de Buenos Aires

CLÁUDIA TREVISAN
de Nova York

A prorrogação dos incentivos para as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste deve esfriar as negociações entre Brasil e Argentina sobre os automóveis.
A avaliação é do deputado Humberto Roggero, presidente da comissão de indústria da Câmara argentina. Segundo Roggero, a decisão do Congresso brasileiro tirou o entusiasmo argentino de um bom final nas conversações.
``Não caiu nada bem que o ministro Pedro Malan venha aqui acalmar os ânimos, e, na semana seguinte, sejam prolongadas facilidades fiscais para atrair investimento'', disse Roggero.
Ele deve se reunir na próxima quarta-feira com o secretário de Indústria e Mineração, Alieto Guadagni, que está na Alemanha.
Roggero quer um informe completo ao Congresso sobre as negociações com o Brasil.
``Nosso país precisa ser mais duro, mais forte e pressionar mais. Não reagimos rapidamente e, a toda hora, somos pegos de surpresa'', afirmou Roggero.
Ele argumentou que as políticas regionais devem ser disciplinadas pelo Mercosul.
Pedindo calma
Em Nova York, o ministro da Economia argentino, Roque Fernández, reagiu de maneira contemporizadora à decisão do Congresso brasileiro de estender por dois meses os incentivos a montadoras que decidirem se instalar no Nordeste.
"Nós sabemos que a intenção do Executivo era manter o prazo final de 31 de março, mas o Congresso dá a palavra final", disse.
Segundo Fernández, os efeitos da decisão do Congresso serão discutidos na próxima reunião bilateral entre Brasil e Argentina, que será realizada em Brasília na próxima semana.
Sentado ao lado do ministro Pedro Malan, durante encontro promovido pela Price Waterhouse sobre investimentos no Mercosul, Fernández evitou fazer qualquer crítica à medida.
O ministro argentino fez questão de dizer que estava sendo sincero: "Não estamos simulando nada". E acrescentou: "Há muitas pessoas querendo brigar, e o nosso papel é acalmá-las".
No Ministério da Economia, em Buenos Aires, a prorrogação foi recebida com cautela. ``Vamos ter paciência. Entendemos a posição do Brasil'', afirmou Alejandro Emilio Mayoral, subsecretário de Comércio Exterior.
A Adefa (Associação de Fábricas de Automóveis) também preferiu uma posição mais discreta, esperando que Guadagni se pronuncie sobre o assunto.
A discussão sobre o setor automobilístico está incluída na pauta de negociações entre Brasil e Argentina. Um acordo entre os dois países deve ser selado até o final de abril, quando FHC e Carlos Menem se encontrarão.

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