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Investidor já descarta título com risco-calote
SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL
Os investidores que compram
títulos da dívida brasileira não estão receptivos a uma emissão de
papéis, pelo governo, que contenham cláusulas de ação coletiva
(CACs), as chamadas cláusulas de
calote. Esse tipo de cláusula permite que o país reestruture a dívida emitida em bônus caso uma
maioria preestabelecida de credores concorde.
Analistas e gestores de fundos
de mercados emergentes da City
londrina e de Nova York ouvidos
pela Folha dizem que não comprariam papéis com cláusulas de
calote. "As CACs sinalizam para o
investidor que o país poderá reestruturar sua dívida em um momento de crise. Quem vai comprar?", questiona Raphael Kassin,
diretor da área de mercados
emergentes do ABN Amro Asset
Management em Londres.
Eles também dizem que este
não é um bom momento para o
governo fazer uma nova emissão
de títulos no mercado internacional. Isso porque, apesar de haver
demanda para os papéis brasileiros, os C-bonds de 10 anos (principais títulos da dívida brasileira
negociados no mercado) ainda
estão com "spreads" (diferença
entre os juros pagos pelos títulos
do tesouro americano e o dos demais países) muito altos.
"O governo ainda pode esperar
um pouco mais, os spreads devem cair e, então, o custo da colocação será menor", diz Drausio
Giacomelli, vice-presidente do JP
Morgan, de Nova York.
O governo terá de colocar novos
títulos no mercado externo neste
ano pois daqui até dezembro vencem US$ 6,8 bilhões de dívida, entre juros e amortizações. "O país
precisa se refinanciar, senão as reservas caem", diz Giacomelli.
No entanto, uma emissão neste
momento poderia passar ao mercado a idéia de que o país precisa
"desesperadamente" de recursos,
segundo Kassin. "Aí o custo da
colocação sobe", diz ele. No mercado londrino, o comentário é
que o governo brasileiro estaria
preparando uma emissão de títulos com vencimento em 10 anos.
Na opinião de Kassin, se isso
ocorrer, poderá derrubar o mercado de C-bonds. "Os investidores tenderiam a vender os papéis
atuais para comprar os novos",
diz ele. "O governo deveria esperar até o "spread" cair 50 ou 100
pontos, voltando ao patamar de
antes das eleições, e colocar títulos
vencendo a partir de 2020; antes
disso já tem muitos vencimentos", diz.
Captações
Se o mercado para títulos da dívida soberana ainda levanta dúvidas nos investidores, os papéis de
empresas e bancos locais continuam sendo absorvidos lá fora.
Ontem os bancos Itaú BBA e Santander anunciaram novas captações. Foram US$ 50 milhões cada
um. As primeiras que vencem em
2004.
Analistas ouvidos pela Folha dizem que o fluxo de recursos para
aplicações financeiras no país deve continuar. "Os investidores
que compram papéis brasileiros
resgataram US$ 6 bilhões no ano
passado. Já voltaram US$ 2 bilhões", diz Cláudia Hausner, diretora do Banif Primus.
Ela diz acreditar que os US$ 4
bilhões restantes também voltarão, pois aqueles investidores ficaram sem outras oportunidades
de ganhos nos níveis obtidos aqui.
Aplicações em renda fixa, no mercado internacional rendem em
torno de 2% ao ano. Os eurobônus brasileiros estão pagando entre 5,5% e 10% ao ano.
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