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São Paulo, terça-feira, 15 de abril de 2003

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Investidor já descarta título com risco-calote

SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

Os investidores que compram títulos da dívida brasileira não estão receptivos a uma emissão de papéis, pelo governo, que contenham cláusulas de ação coletiva (CACs), as chamadas cláusulas de calote. Esse tipo de cláusula permite que o país reestruture a dívida emitida em bônus caso uma maioria preestabelecida de credores concorde.
Analistas e gestores de fundos de mercados emergentes da City londrina e de Nova York ouvidos pela Folha dizem que não comprariam papéis com cláusulas de calote. "As CACs sinalizam para o investidor que o país poderá reestruturar sua dívida em um momento de crise. Quem vai comprar?", questiona Raphael Kassin, diretor da área de mercados emergentes do ABN Amro Asset Management em Londres.
Eles também dizem que este não é um bom momento para o governo fazer uma nova emissão de títulos no mercado internacional. Isso porque, apesar de haver demanda para os papéis brasileiros, os C-bonds de 10 anos (principais títulos da dívida brasileira negociados no mercado) ainda estão com "spreads" (diferença entre os juros pagos pelos títulos do tesouro americano e o dos demais países) muito altos.
"O governo ainda pode esperar um pouco mais, os spreads devem cair e, então, o custo da colocação será menor", diz Drausio Giacomelli, vice-presidente do JP Morgan, de Nova York.
O governo terá de colocar novos títulos no mercado externo neste ano pois daqui até dezembro vencem US$ 6,8 bilhões de dívida, entre juros e amortizações. "O país precisa se refinanciar, senão as reservas caem", diz Giacomelli.
No entanto, uma emissão neste momento poderia passar ao mercado a idéia de que o país precisa "desesperadamente" de recursos, segundo Kassin. "Aí o custo da colocação sobe", diz ele. No mercado londrino, o comentário é que o governo brasileiro estaria preparando uma emissão de títulos com vencimento em 10 anos.
Na opinião de Kassin, se isso ocorrer, poderá derrubar o mercado de C-bonds. "Os investidores tenderiam a vender os papéis atuais para comprar os novos", diz ele. "O governo deveria esperar até o "spread" cair 50 ou 100 pontos, voltando ao patamar de antes das eleições, e colocar títulos vencendo a partir de 2020; antes disso já tem muitos vencimentos", diz.

Captações
Se o mercado para títulos da dívida soberana ainda levanta dúvidas nos investidores, os papéis de empresas e bancos locais continuam sendo absorvidos lá fora. Ontem os bancos Itaú BBA e Santander anunciaram novas captações. Foram US$ 50 milhões cada um. As primeiras que vencem em 2004.
Analistas ouvidos pela Folha dizem que o fluxo de recursos para aplicações financeiras no país deve continuar. "Os investidores que compram papéis brasileiros resgataram US$ 6 bilhões no ano passado. Já voltaram US$ 2 bilhões", diz Cláudia Hausner, diretora do Banif Primus.
Ela diz acreditar que os US$ 4 bilhões restantes também voltarão, pois aqueles investidores ficaram sem outras oportunidades de ganhos nos níveis obtidos aqui. Aplicações em renda fixa, no mercado internacional rendem em torno de 2% ao ano. Os eurobônus brasileiros estão pagando entre 5,5% e 10% ao ano.


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