São Paulo, quinta-feira, 15 de abril de 2004

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Com inflação acima do previsto, analistas já projetam elevação da taxa em agosto; déficit comercial cai

Mercado já espera alta dos juros antes da eleição nos EUA

DA REDAÇÃO

O despertar da inflação nos EUA, somado a outros bons indicadores econômicos, reflete a aceleração na atividade do país. Segundo analistas, o Federal Reserve (banco central) terá de agir, elevando a taxa de juros antes do que se imaginava. Os juros futuros fecharam ontem em alta, atingindo os maiores retornos do ano.
A expectativa embutida nas taxas praticadas ontem nos mercados futuros é que o Fed aumente em agosto a sua taxa básica, que está hoje em 1% ao ano. A elevação ocorreria, portanto, antes das eleições presidenciais no país, marcadas para novembro.
O índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) registrou alta de 0,5% no mês passado, segundo números divulgados pelo Departamento de Trabalho dos EUA. Em fevereiro, havia ocorrido elevação de 0,3%.
O aumento registrado pelo núcleo do índice, no qual não entram alimentos e energia (incluindo combustíveis), foi especialmente preocupante. Menos volátil, esse é o índice mais observado.
De acordo com o Departamento de Trabalho, o núcleo do CPI subiu para 0,4% em março, o dobro do que esperavam os analistas. Trata-se do maior índice desde novembro de 2001, quando também tinha ficado em 0,4%.
Raramente o núcleo atinge nível tão elevado nos EUA. Nos últimos dez anos, tinha ficado em 0,4% apenas em quatro oportunidades. A última vez em que subiu acima disso foi em 1992.
"Parece que o núcleo da inflação está de volta", disse John Lonski, economista-chefe da Moody's Investors Service. "O núcleo subiu em média 0,3% ao mês neste ano. Isso indica que o aumento nos juros virá antes do que se espera."
O aquecimento inflacionário não deixa de ser um aspecto positivo, ao atestar a recuperação econômica dos EUA. Afasta ainda o receio, presente até o ano passado, de que o país pudesse sofrer um processo deflacionário. Por outro lado, juros mais elevados podem fechar o fluxo de capitais para os mercados emergentes.

Repasse aos preços
Até recentemente, os preços dos combustíveis eram o único motivo de preocupação. Mas os reajustes ocorreram em uma base ampla no mês passado, com destaque para vestuário e hotelaria.
Para os economistas, os custos maiores com energia estão sendo finalmente repassados aos consumidores, porque, com a retomada econômica, as empresas conseguiram ampliar as margens. O preço das roupas avançou 0,9%, o maior aumento em cinco anos.
"Os números confirmam meu maior receio: a inflação está crescendo", disse Stephen Cecchetti, professor da Universidade Brandeis. "O aumento não ocorreu em um lugar específico, nem é conseqüência de um fato isolado."
Para Mark Zandi, economista-chefe da consultoria Economy.com, o Fed deverá apertar a política monetária antes do final do verão. O consultor Joel Naroff disse que "o dia em que o Fed aumentará os juros chegará mais cedo do que muitos imaginam".
A atual taxa básica de juros nos EUA, de 1% ao ano, é a menor desde 1958. Até o início de 2001, antes do período de recessão, a taxa estava em 6,5% ao ano.
Devido à desaceleração ocorrida há três anos e ao estouro da bolha nos mercados financeiros, o Fed adotou uma agressiva política de corte nos juros. O último corte, em junho passado, derrubou a taxa para o 1% atual.
Estima-se que a taxa de equilíbrio (que não estimula nem freia a economia) seria algo em torno de 3%. O Fed não adota uma meta de inflação explícita, mas, segundo economistas, a instituição considera ideal algo entre 1% e 2%.

Déficit menor
O déficit comercial do país recuou em fevereiro, graças a um expressivo avanço das exportações. Segundo o Departamento de Comércio, o déficit comercial caiu para US$ 42,1 bilhões em fevereiro. Em janeiro, o saldo negativa havia atingido um patamar recorde de US$ 43,5 bilhões.
As exportações registraram um crescimento de 4% e alcançaram um valor recorde de US$ 92,4 bilhões. As importações cresceram em ritmo mais lento (1,6%).


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