São Paulo, quinta-feira, 15 de abril de 2004

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Para analistas, BC pode reforçar cautela na Selic

CÍNTIA CARDOSO
DA REPORTAGEM LOCAL

Os indícios de inflação da economia dos EUA -o índice de preços ao consumidor (CPI) subiu 0,5% em março- podem levar o Banco Central brasileiro a adotar uma dose extra de cautela para decidir sobre futuros cortes na taxa básica de juros.
A conclusão é de analistas ouvidos pela Folha. Uma pressão inflacionária na economia americana deve levar o Fed (banco central dos EUA) a antecipar a esperada alta da taxa básica de juros. Os economistas esperam que o aumento da taxa, hoje em 1%, deva ocorrer até agosto deste ano.
"A elevação da taxa de juros do Fed deve causar alguma turbulência no mercado. Esse cenário deve diminuir a velocidade do corte das taxas do Banco Central brasileiro", disse Lisa Schineller, diretora da área de risco soberano para a América Latina da agência Standard & Poor's em Nova York. "O BC deve ficar mais cauteloso", completou.
A economista-chefe do BES Investimentos, Sandra Utsumi, também afirma que os rumos da política monetária nos EUA terão desdobramentos nas ponderações do BC. "Quando o Fed aumentar a taxa de juros, o BC vai ter que esperar a acomodação das variáveis da economia americana que podem afetar a economia brasileira antes de tomar decisões", declarou.
Mas a economista faz uma ressalva: "Por enquanto, o cenário internacional é administrável. Ainda há espaço para cortes".
Um aperto da política monetária americana tem impactos mundiais, especialmente para economias emergentes como a brasileira. A primeira conseqüência da elevação da taxa básica de juros dos EUA seria uma retração da liqüidez mundial, o que levaria a uma escassez de fluxos de capitais para o país. Com menos recursos disponíveis para o Brasil, o BC teria uma margem de manobra menor para promover cortes nas taxas de juros.
Com juros mais atraentes nos EUA, o volume de investidores em papéis de países emergentes também podem diminuir, o que pressionaria a cotação do risco Brasil, mais um dos inúmeros componentes que são observadas pelo BC.
"Uma alta da taxa básica de juros do Fed pode, num primeiro momento, elevar o risco-país dos emergentes. No caso do Brasil, o mercado vai levar isso em consideração, mas vai olhar principalmente para os fundamentos da economia brasileira", diz a economista da S&P.
Entretanto, o peso da conjuntura americana parece ainda não ter sido refletido na decisão de ontem do Copom (Comitê de Política Monetária).
"Uma alta dos juros americanos joga alguma sombra para o futuro da política monetária no Brasil, mas o peso da conjuntura americana nas decisões do BC não deve ser muito grande. O BC já é naturalmente bastante conservador", diz Antonio Lacerda, da Sobeet (Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica).


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