São Paulo, quinta-feira, 15 de abril de 2004

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Fundo diz que alta dos juros nos EUA é inevitável e vai aumentar a fragilidade de países como o Brasil

Para FMI, emergente sofrerá efeitos adversos

Mauricio Lima/France Presse
Operadores no pregão da Bolsa de Mercadorias & Futuros; mercados emergentes sofreram ontem influência de índices dos EUA


FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

O FMI (Fundo Monetário Internacional) alertou ontem que um ""inevitável" aumento das taxas de juro nos EUA trará ""sérios efeitos adversos" para economias de países emergentes como o Brasil.
Para o Fundo, trata-se de ""uma questão de tempo" um aumento dos juros na maior economia do mundo, hoje em 1% ao ano e no menor nível desde 1958.
Essa expectativa acabou reforçada ontem por uma elevação da inflação nos EUA acima do esperado. Para o Fundo, o juro maior nos EUA drenará os dólares que hoje financiam os países em desenvolvimento.
"Um aumento dos juros norte-americanos aumentará a fragilidade dos emergentes e deve engatilhar um movimento de fuga de capitais", diz o FMI.
A combinação entre a recuperação americana em curso e o déficit fiscal recorde norte-americano deve acelerar o movimento.
""Vivemos um momento incomum, no qual o setor privado americano hoje poupa mais do que toma emprestado. Com a atual recuperação, isso vai mudar. As empresas vão começar a competir com o setor público por dinheiro, e os juros vão subir. É inevitável", afirmou David Robinson, diretor-assistente do Departamento de Pesquisas do FMI.
O risco que o déficit fiscal (gastos maiores que a arrecadação) recorde de US$ 521 bilhões dos EUA representa para os emergentes fazem parte do relatório "Perspectivas para a Economia Mundial", divulgado ontem pelo FMI.
As estimativas do Fundo para o crescimento global serão conhecidas na semana que vem, antes do início de reunião anual da instituição, em Washington.
Os EUA fecharam o ano de 2000 com um superávit fiscal de US$ 236 bilhões. A rápida transformação do indicador em déficit é vista pelo FMI como responsável por boa parte da recuperação mundial. ""A tendência, no entanto, precisa ser corrigida para não gerar novos problemas a médio prazo", alerta o Fundo.
A deterioração da situação fiscal americana nos últimos quatro anos foi a maior desde a Segunda Guerra Mundial (1939-45).
O FMI prevê também um segundo efeito perverso do aumento dos juros nos EUA sobre os países emergentes, relacionado diretamente ao setor privado.

Empréstimos mais caros
A maior parte das empresas que tomam empréstimos externos em países como o Brasil é obrigada a dar garantias a seus credores, seja em ativos reais (bens e propriedades) ou financeiros (ações).
Quando os juros subirem nos EUA, haverá tanto uma redução da demanda interna nos emergentes como uma diminuição imediata no valor dessas garantias dadas pelos créditos.
Em resposta, os credores deverão aumentar o custo de seus empréstimos e pedir novas garantias às empresas nos países emergentes. O resultado será uma queda de investimentos e aumento do potencial de uma recessão ou forte desaquecimento nesses países -um efeito batizado como "acelerador financeiro" de crises.
Outro capítulo do relatório acentua o problema com uma análise dos efeitos de ""bolhas de crédito" para os emergentes entre 1970 e 2002.
A principal conclusão é que, ao fim de cada ciclo (como o atual), há um "" severo custo" para os emergentes, a maior parte associada a crises cambiais e dificuldades para os bancos.
O economista-chefe do FMI, Raghuram Rajan, afirma que os EUA devem aproveitar o atual momento de recuperação econômica para atenuar o seu déficit fiscal recorde.
Mas o FMI lembra que os EUA partem de algumas premissas para corrigir a situação que podem não se consolidar -como uma redução dos gastos no Iraque.
Rajan afirma que, mesmo havendo uma redução no déficit ao longo do tempo, ""inevitavelmente" o processo contará com um aumento nas taxas de juros.
A divulgação do índice de preços ao consumidor de março nos EUA, que subiu 0,5% (acima das expectativas do mercado), ajudou a reforçar o sentimento de que o Fed (o banco central dos EUA) deverá puxar os juros para cima antes do esperado -a expectativa é que seja em agosto.


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