São Paulo, quinta-feira, 15 de abril de 2004

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CONTA-GOTAS

Selic cai ao nível mais baixo desde abril de 2001; país deixa a liderança no ranking das maiores taxas do planeta

BC faz o previsto e reduz juros para 16%

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Banco Central reduziu ontem os juros básicos da economia em 0,25 ponto percentual, para 16% ao ano. Foi o segundo corte promovido pelo Copom (Comitê de Política Monetária do BC) na taxa Selic neste ano.
Diferentemente do que aconteceu no mês passado, a decisão foi unânime. No mês passado, os juros também sofreram um corte de 0,25 ponto, mas três dos nove membros da diretoria do BC votaram pela manutenção da taxa.
A redução para 16%, menor taxa desde abril de 2001 (15,75%), já era esperada pelo mercado, embora houvesse pressões, dentro e fora do governo, por corte maior. Com o corte, a taxa real (descontada a inflação) passa a 9,97%. De primeiro, o país passa a segundo entre os maiores juros reais do mundo, atrás da Turquia (10,1%).
Em nota distribuída à imprensa no início da noite, o BC se limitou a informar que, "avaliando as perspectivas para a trajetória da inflação, o Copom decidiu por unanimidade reduzir a taxa Selic para 16% ao ano, sem viés". Viés é o instrumento que permite ao BC reduzir os juros antes das reuniões mensais do Copom.
O BC diz que fixa as taxas de juros de maneira a permitir o cumprimento das metas de inflação. Seus críticos afirmam que os preços estão sob controle e que o excesso de cautela na condução da política monetária é um obstáculo à retomada do crescimento.

Inflação
Segundo a Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), a primeira prévia do IPC (Índice de Preços ao Consumidor) deste mês indica alta de 0,06% nos preços em São Paulo, contra 0,12% em março.
Já o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) subiu 0,47% em março. A alta acumulada no primeiro trimestre foi de 1,85% -a meta de inflação do governo para este ano foi fixada em 5,5%, com margem de tolerância de 2,5 pontos para cima ou para baixo.
Pesquisa de mercado feita pelo BC mostra que a maioria das projeções aponta para alta de cerca de 6% do IPCA neste ano, próximo da meta central do governo. Há divergências sobre a velocidade da recuperação da economia.
O governo diz que o PIB (Produto Interno Bruto) deve crescer cerca de 3,5% neste ano. Até agora, porém, indicadores do nível de atividade mostram que a retomada do crescimento não chegou a todos os setores da economia.
Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), por exemplo, mostram que a produção industrial caiu 1,8% em fevereiro, quando comparada com janeiro. Por outro lado, a indústria paulista cresceu 2,6% em fevereiro na comparação com o mesmo mês de 2003.
A Selic é a taxa que remunera empréstimos feitos entre bancos e o BC e serve de referência para os juros praticados nas demais modalidades de crédito oferecidas pelo sistema financeiro. Em tese, juros mais altos desestimulam o consumo e os investimentos. Isso favorece o desaquecimento da economia, o que ajuda no controle da inflação.
Ao comentar a decisão do Copom, o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), defendeu uma redução maior dos juros no próximo mês.
""É positivo que tenha sido mantida a trajetória de queda. Mas espero que nas próximas decisões nós possamos ter redução mais substancial, para estimular a retomada do crescimento econômico e o alívio das finanças."


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