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Custo da indústria sobe 10% com juro
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
A taxa de juros básica da economia brasileira é de 16% ao ano,
mas a indústria paga em média
45% de juros nos empréstimos
para capital de giro. E, ao pegar
dinheiro a esse preço no mercado
financeiro, a empresa eleva em
10,3% o seu custo de produção.
É o que mostra estudo encomendado pela Fiesp (Federação
das Indústrias do Estado de São
Paulo) ao Instituto Brasileiro de
Economia da Fundação Getúlio
Vargas, concluído em 2002.
O trabalho considerou o impacto dos juros nos custos de produção para três diferentes taxas. Se a
indústria pagar 15% ao ano, o custo de produção sobe 3,8%; 30% ao
ano, 7,2%, e 45% ao ano, 10,3%.
"Como a indústria paga hoje em
média 45% de juros nos empréstimos para capital de giro, ela arca
hoje com uma elevação de 10%
nos seus custos. Se um produto
custa R$ 100 na fábrica, sai por R$
110", afirma Mario Bernardini, diretor titular do Departamento de
Competitividade da Fiesp.
A indústria paga taxa de juros
anual praticamente três vezes
maior do que a taxa básica, a Selic.
Essa diferença é chamada de
"spread" bancário (diferença entre o custo de captação dos bancos e a taxa cobrada dos clientes).
Esse "spread", segundo os bancos, existe para cobrir as despesas
administrativas, tributárias, riscos de inadimplência e para proporcionar uma margem de lucro.
Segundo a Anefac, associação
dos executivos de finanças, em junho do ano passado, quando a Selic começou a cair, as pessoas jurídicas pagavam juros de 82,06% ao
ano. Em março deste ano, pagavam 69% ao ano -uma queda de
15,9%, no período. A taxa Selic
caiu mais: 38,5% nesse período.
Para as pessoas físicas, a taxa
caiu de 164,7% ao ano, em junho
do ano passado, para 142,2% ao
ano, em março deste ano, o que
significou queda de 13,7%.
Pelo estudo da FGV, os juros
têm maior impacto na indústria
de açúcar, nas siderúrgicas e na
indústria têxtil. Ao pagar 45% ao
ano nos empréstimos para capital
de giro, as empresas arcam com
uma elevação nos custos de produção de 27,7%, 18,4% e 15,6%,
respectivamente por setor.
Uma elevação de 10% nos custos de produção por causa de empréstimos para capital de giro, diz
Bernardini, tira a competitividade
da indústria. "A rentabilidade
média da indústria brasileira é de
4% a 5% ao ano. Para não perder
competitividade, os juros anuais
pagos pelas empresas não poderiam ser superiores a 10%, considerando uma inflação ao redor de
6% ao ano", diz.
No exterior, segundo Bernardini, o "spread" dos bancos chega a
ser no máximo quatro pontos
percentuais maior do que a taxa
básica de juros, o que significa
que a indústria paga lá fora nos
empréstimos para capital de giro
cerca de 6% a 7% de juros ao ano.
"Se o custo financeiro é alto, o empresário prefere reduzir a produção para não correr riscos", diz
David Kupfer, professor da UFRJ.
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