São Paulo, quinta-feira, 15 de abril de 2004

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Custo da indústria sobe 10% com juro

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

A taxa de juros básica da economia brasileira é de 16% ao ano, mas a indústria paga em média 45% de juros nos empréstimos para capital de giro. E, ao pegar dinheiro a esse preço no mercado financeiro, a empresa eleva em 10,3% o seu custo de produção.
É o que mostra estudo encomendado pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) ao Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas, concluído em 2002.
O trabalho considerou o impacto dos juros nos custos de produção para três diferentes taxas. Se a indústria pagar 15% ao ano, o custo de produção sobe 3,8%; 30% ao ano, 7,2%, e 45% ao ano, 10,3%.
"Como a indústria paga hoje em média 45% de juros nos empréstimos para capital de giro, ela arca hoje com uma elevação de 10% nos seus custos. Se um produto custa R$ 100 na fábrica, sai por R$ 110", afirma Mario Bernardini, diretor titular do Departamento de Competitividade da Fiesp.
A indústria paga taxa de juros anual praticamente três vezes maior do que a taxa básica, a Selic. Essa diferença é chamada de "spread" bancário (diferença entre o custo de captação dos bancos e a taxa cobrada dos clientes).
Esse "spread", segundo os bancos, existe para cobrir as despesas administrativas, tributárias, riscos de inadimplência e para proporcionar uma margem de lucro.
Segundo a Anefac, associação dos executivos de finanças, em junho do ano passado, quando a Selic começou a cair, as pessoas jurídicas pagavam juros de 82,06% ao ano. Em março deste ano, pagavam 69% ao ano -uma queda de 15,9%, no período. A taxa Selic caiu mais: 38,5% nesse período.
Para as pessoas físicas, a taxa caiu de 164,7% ao ano, em junho do ano passado, para 142,2% ao ano, em março deste ano, o que significou queda de 13,7%.
Pelo estudo da FGV, os juros têm maior impacto na indústria de açúcar, nas siderúrgicas e na indústria têxtil. Ao pagar 45% ao ano nos empréstimos para capital de giro, as empresas arcam com uma elevação nos custos de produção de 27,7%, 18,4% e 15,6%, respectivamente por setor.
Uma elevação de 10% nos custos de produção por causa de empréstimos para capital de giro, diz Bernardini, tira a competitividade da indústria. "A rentabilidade média da indústria brasileira é de 4% a 5% ao ano. Para não perder competitividade, os juros anuais pagos pelas empresas não poderiam ser superiores a 10%, considerando uma inflação ao redor de 6% ao ano", diz.
No exterior, segundo Bernardini, o "spread" dos bancos chega a ser no máximo quatro pontos percentuais maior do que a taxa básica de juros, o que significa que a indústria paga lá fora nos empréstimos para capital de giro cerca de 6% a 7% de juros ao ano. "Se o custo financeiro é alto, o empresário prefere reduzir a produção para não correr riscos", diz David Kupfer, professor da UFRJ.


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