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São Paulo, quinta-feira, 15 de maio de 2003

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COMÉRCIO EXTERIOR

Itamaraty dá tom mais agressivo ao indicar Álvaro Alencar para o posto de negociador do acordo

Governo troca chefe da negociação da Alca

Bruno Stuckert - 19.mar.03/Folha Imagem
O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, em Brasília


CÍNTIA CARDOSO
DA REPORTAGEM LOCAL

O governo trocou o comando de sua política de comércio internacional, numa decisão que deverá conferir tom mais agressivo às negociações entre o Brasil e os EUA nas discussões sobre a Alca (Área de Livre Comércio das Américas).
A Folha apurou que o embaixador Álvaro Alencar, 66, será oficialmente nomeado subsecretário geral de Assuntos de Integração, Econômicos e de Comércio Exterior. Ele substituirá o embaixador Clodoaldo Hugueney Filho, 60.
O Itamaraty não comenta o fato até que a posse -ainda sem data prevista- do novo secretário seja efetivada. Considerado estratégico, o cargo tem como uma de suas principais funções a chefia das negociações da Alca, além da coordenação direta do time de negociadores comerciais do Itamaraty.
Alencar foi embaixador do Brasil em Cuba e assessor do Ministério do Trabalho no governo FHC. Mas é mais lembrado como secretário internacional do Ministério da Fazenda na gestão do ex-ministro Dílson Funaro, no governo Sarney (1985-90). Na época, o Brasil declarou a moratória da dívida externa privada. À frente das negociações com o Clube de Paris (grupo de países credores), Alencar renegociou a dívida oficial.
Esse perfil, segundo analistas, traduz a tentativa do governo Lula de incorporar a antiga agenda do PT -que prega negociações mais firmes com os EUA- aos rumos da diplomacia.
Dentro e fora do governo, a mudança é interpretada como uma opção por um tom mais duro do Brasil na mesa de discussões do bloco continental.
Essa posição agressiva, que pode se traduzir na tentativa de adiar a conclusão das negociações do bloco, seria uma retaliação à iniciativa dos EUA de promover negociações bilaterais em detrimento das negociações em conjunto com os 34 países do continente que integrariam a Alca.
Mas o principal objetivo da atitude brasileira seria sinalizar a objeção ao "fatiamento" da Alca. Em fevereiro, os EUA lançaram propostas diferentes para países do Caribe, andinos, os da América Central, os do Nafta (Acordo de Livre Comércio da América do Norte) e os do Mercosul.
No cargo há pouco mais de um ano, Hugueney foi embaixador do Brasil na Venezuela durante o governo de Itamar Franco. Na gestão FHC, foi chefe da representação brasileira na União Européia antes de assumir o comando das negociações comerciais.
Para Amâncio Jorge de Oliveira, diretor da Prospectiva Consultoria, a indicação de Alencar aglutina um grupo de negociadores alinhados ideologicamente.
Nesta semana, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, mostrou descontentamento com os rumos da Alca. Uma de suas propostas é reforçar as negociações no formato "4+1", ou seja, negociação direta entre o Mercosul e os EUA.
Diante da dificuldade em avançar na negociação da Alca, sobretudo nas questões agrícolas, o prazo para a conclusão dessa negociação -2005- já é visto pelo Brasil apenas como indicativo.
O país ainda não lançou propostas para as áreas de serviços, compras governamentais e de investimentos. A data limite é 15 de julho, mas há poucos indícios de que esse prazo será cumprido. No fim deste mês, quando o representante comercial dos EUA, Robert Zoellick, visitar o Brasil, espera-se que o governo apresente seu projeto para a formação da Alca.
O governo uruguaio adotou ontem, dois dias depois do encontro dos presidentes Jorge Batlle e Luiz Inácio Lula da Silva, um novo discurso: continuará suas negociações de livre comércio com os EUA, mas agora apenas por meio do Mercosul. Até agora, o país vinha se manifestando favoravelmente a acordos bilaterais individuais dos integrantes do bloco com outros países.

Colaborou a Agência Folha


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