São Paulo, sábado, 15 de maio de 2010

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Acordo trava e Brasil ameaça ativar sanções aos EUA

Negociações para eliminar subsídio ao algodão tropeçam e representante brasileiro diz que "não dá para ser otimista"

Sanções aos americanos, autorizadas pela OMC, deveriam começar em abril, mas foram adiadas para que países tentassem solução

DE GENEBRA
DE WASHINGTON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Começou aos tropeços e com "possibilidade não desprezível de não haver acordo", na frase do principal negociador brasileiro, as conversas para eliminar de vez os subsídios americanos ao algodão e evitar que Brasília retalie Washington.
As sanções avalizadas pela Organização Mundial do Comércio após sete anos de disputa podem chegar a US$ 830 milhões (R$ 1,48 bilhão) e deveriam ter começado em abril.
Mas foram adiadas primeiro em duas semanas e depois em dois meses para que, a partir de um aceno americano com medidas paliativas, os dois países fechassem um acordo com vistas a mudar a lei agrícola americana -a Farm Bill- em 2012.
"Há questões que são muito importantes [nas negociações] e que também causam problemas importantes para eles [americanos]", disse à Folha o embaixador brasileiro na OMC, Roberto Azevedo, lembrando o impasse político nos EUA por conta dos subsídios.
O embaixador voltou quarta de Washington, após dois dias das primeiras conversas para uma solução permanente.
Na primeira fase, foi criado um fundo de US$ 147,3 milhões para compensar os brasileiros; suspendeu-se parte dos subsídios ainda não entregue e retiraram-se barreiras sanitárias à carne suína brasileira.
São todas medidas temporárias e vistas pelo Brasil como "paliativos", um sinal mais forte dos americanos de querer negociar. Mas não o bastante.
O que Brasília quer é o compromisso de mudança na Farm Bill. E isso ainda não foi obtido. "Não queremos só promessas", disse Azevedo. "Há uma possibilidade não desprezível de não haver acordo no fim."
O diretor do Departamento Econômico do Itamaraty, Carlos Márcio Cozendey, tampouco viu avanços no encontro, que segundo ele serviu para discutir a substância do impasse. "A negociação se anuncia complicada. É difícil avaliar, mas não dá para ser otimista."
Os americanos põem panos quentes. "Continuamos comprometidos com um envolvimento contínuo e esperamos progredir mais nas próximas semanas", disse uma porta-voz do gabinete do representante comercial dos EUA.
Mas os brasileiros veem uma falta de propostas na mesa. A próxima reunião está marcada para 1º e 2 de junho, e as negociações culminam no dia 21.
Parte das sanções brasileiras pode ser aplicada em um setor distinto àquele envolvido na disputa. O país escolheu propriedade intelectual, o que lhe permite, por exemplo, quebrar patentes de remédios.
Diante do duelo entre o lobby agrícola e o farmacêutico, o Congresso dos EUA acompanha a discussão.
O senador republicano Richard Lugar escreveu a Obama, sugerindo que a verba do fundo compensatório saia dos subsídios a produtor local.
"Prefiro tratar da situação com a reforma do programa de algodão agora, e estou pronto para apresentar um projeto", escreveu o congressista.
(LUCIANA COELHO, ANDREA MURTA E EDUARDO RODRIGUES)


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