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Fragilidade brasileira já preocupa o Fundo
RICARDO REGO MONTEIRO
DA SUCURSAL DO RIO
O representante do FMI (Fundo
Monetário Internacional) no Brasil, o moçambicano Rogério Lucas Zandamela, manifestou ontem no Rio preocupação com o
perfil da dívida pública do país
-majoritariamente atrelada ao
dólar e aos juros- e com o que
classificou de deterioração das
contas externas.
Ele disse que o FMI recomenda
para o Brasil um remédio sugerido para todos os países que já firmaram acordos com a instituição:
conservadorismo monetário e fiscal, aprofundamento das reformas estruturais, aprofundamento
das reformas do sistema financeiro e aumento da integração regional.
Para economistas como Alberto
Furuguem, da consultoria Macroanálises e ex-diretor do BC
(Banco Central), o receituário leva a pelo menos uma conclusão:
as taxas de juros não deverão ser
reduzidas tão cedo pelo BC.
Furuguem assistiu à palestra
que Zandamela proferiu no BC a
convite da associação e do sindicato dos bancos do Estado do Rio.
Na ocasião, o executivo do FMI
elogiou "a solidez e a saúde" do
sistema financeiro brasileiro.
Nos últimos anos, afirmou Zandamela, tanto o sistema bancário
como os setores segurador e de
mercado de capitais passaram
por um amplo processo de modernização e fortalecimento do
aparato regulatório e de fiscalização.
Com isso, disse, o Brasil criou
mecanismos de prevenção a crises e turbulências externas. Mesmo o sistema de pagamentos do
país, considerado ruim pelo executivo, já teria alcançado um grau
suficiente de modernização. "Antes, o sistema de pagamento brasileiro apresentava risco para o
Banco Central", afirmou.
Com relação à fragilidade externa, ele disse que o superávit da balança comercial alcançado no ano
passado continua insuficiente para fechar as contas do país. O Brasil, segundo Zandamela, ainda depende significativamente de financiamento externo.
O executivo afirmou que a dívida pública também apresenta
"perfil não adequado", embora
não seja das mais altas se comparada com o passivo de outros países, mesmo desenvolvidos.
O problema é que, além de ter
crescido muito rapidamente, como proporção do PIB (Produto
Interno Bruto) -hoje está em
cerca de 54%-, a dívida pública
apresenta alto percentual de indexação ao dólar e à taxa de juros.
Atualmente, afirmou Zandamela,
cerca de 30% desse passivo está
atrelado a papéis cambiais.
Ao todo, disse, apenas 10% dos
papéis emitidos pelo BC apresentam remuneração por taxas prefixadas, definidas antes do vencimento.
"Até hoje, quando falamos da
vulnerabilidade da economia brasileira, falamos da deterioração
das contas externas e no perfil não-adequado de sua dívida pública."
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