São Paulo, sábado, 15 de junho de 2002

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Fragilidade brasileira já preocupa o Fundo

RICARDO REGO MONTEIRO
DA SUCURSAL DO RIO

O representante do FMI (Fundo Monetário Internacional) no Brasil, o moçambicano Rogério Lucas Zandamela, manifestou ontem no Rio preocupação com o perfil da dívida pública do país -majoritariamente atrelada ao dólar e aos juros- e com o que classificou de deterioração das contas externas.
Ele disse que o FMI recomenda para o Brasil um remédio sugerido para todos os países que já firmaram acordos com a instituição: conservadorismo monetário e fiscal, aprofundamento das reformas estruturais, aprofundamento das reformas do sistema financeiro e aumento da integração regional.
Para economistas como Alberto Furuguem, da consultoria Macroanálises e ex-diretor do BC (Banco Central), o receituário leva a pelo menos uma conclusão: as taxas de juros não deverão ser reduzidas tão cedo pelo BC.
Furuguem assistiu à palestra que Zandamela proferiu no BC a convite da associação e do sindicato dos bancos do Estado do Rio. Na ocasião, o executivo do FMI elogiou "a solidez e a saúde" do sistema financeiro brasileiro.
Nos últimos anos, afirmou Zandamela, tanto o sistema bancário como os setores segurador e de mercado de capitais passaram por um amplo processo de modernização e fortalecimento do aparato regulatório e de fiscalização.
Com isso, disse, o Brasil criou mecanismos de prevenção a crises e turbulências externas. Mesmo o sistema de pagamentos do país, considerado ruim pelo executivo, já teria alcançado um grau suficiente de modernização. "Antes, o sistema de pagamento brasileiro apresentava risco para o Banco Central", afirmou.
Com relação à fragilidade externa, ele disse que o superávit da balança comercial alcançado no ano passado continua insuficiente para fechar as contas do país. O Brasil, segundo Zandamela, ainda depende significativamente de financiamento externo.
O executivo afirmou que a dívida pública também apresenta "perfil não adequado", embora não seja das mais altas se comparada com o passivo de outros países, mesmo desenvolvidos.
O problema é que, além de ter crescido muito rapidamente, como proporção do PIB (Produto Interno Bruto) -hoje está em cerca de 54%-, a dívida pública apresenta alto percentual de indexação ao dólar e à taxa de juros. Atualmente, afirmou Zandamela, cerca de 30% desse passivo está atrelado a papéis cambiais.
Ao todo, disse, apenas 10% dos papéis emitidos pelo BC apresentam remuneração por taxas prefixadas, definidas antes do vencimento.
"Até hoje, quando falamos da vulnerabilidade da economia brasileira, falamos da deterioração das contas externas e no perfil não-adequado de sua dívida pública."



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